A valorização da Carreira Militar – General Expedito Alves de Lima.

 

Uma nova Geração de Generais, uma visão mais compreensiva.

 

Há algum tempo observamos em alguns sites um artigo com o título: “De engraxate a General”. Nele o autor chamava a atenção para a carreira de superação de um dos mais novos generais do exército brasileiro, Expedito Alves de Lima. O oficial é oriundo de família humilde e já trabalhou até como engraxate. Com muito esforço e, de acordo com suas palavras – após orientações de praças e oficiais – conseguiu entrar no exército e chegar ao posto de oficial general. Naturalmente, Expedito é um especialista em vencer obstáculos, sua própria origem atesta isso. Diante da situação desprestigiosa e desesperançosa por que passam os militares brasileiros, vemos no oficial em questão um sinal de que poderemos ter no futuro mudanças significativas em relação a carreira militar. Publicaremos abaixo alguns trechos importantes de seu trabalho de conclusão do curso de Altos Estudos Militares realizado na Escola Superior de Guerra.

É importante lembrar que o General Expedito Alves de Lima faz parte de uma nova geração de oficiais que chega nessa década ao posto de oficial general. Cremos que com estes virá a introdução de políticas mais compreensivas em relação à tropa. Em seu texto o general nos mostra que enxerga as condições sociais, de moral e dignidade humana dos militares como pontos mais importantes para o fortalecimento da Expressão Militar do Poder Nacional. (Robson A. Silva – Sociólogo, Militar). https://www.sociedademilitar.com

 

A valorização da Carreira Militar

Introdução

Da análise da carreira militar, depreende a existência de atrativos e frustrações, que passam fundamentalmente pela situação remuneratória e pela carência de orçamento para aplicação nos equipamentos e no adestramento das três Forças. A prevalência dessas frustrações significa graves ameaças para as motivações A prevalência dessas frustrações significa graves ameaças para as motivações, facilmente explicitadas nos resultados das pesquisas e entrevistas realizadas. Sugere, no ensejo, abertura de debates sobre o tema, que deverão evoluir para estudos mais aprofundados, visando atrair atenções para solução desse grave problema. Uma vez constatadas e analisadas, possibilitam fundamentação para propostas de modificações substanciais que, efetivamente, poderão trazer melhorias para a valorização do capital humano das Forças Armadas brasileiras, em perfeita sintonia com o que estabelece a Estratégia Nacional de Defesa (…)”

É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar… (Presidente BARACK OBAMA, em discurso no Memorial Day – 30 de maio de 2011).

De forma vibrante e entusiástica, o líder da Nação mais poderosa do mundo atual manifesta publicamente reconhecimento, gratidão e apreço pelos seus Soldados e pelo que representam para o País, nas mais variadas situações, como defensores dos interesses da superpotência hegemônica, onde quer que estes sejam visualizados. Diferentemente, vozes que se dizem representativas de grupos da sociedade e mesmo de setores da esfera governamental de países emergentes, inclusive o Brasil, em impatrióticas cantilenas, surgem volta e meia a entoar questionamentos a respeito da necessidade de existência de suas Forças Armadas (…).

O tema A Valorização da Carreira Militar no Brasil, objeto do presente estudo, identifica-se preponderantemente com a política de composição dos efetivos, uma vez que diz respeito ao que as três Forças têm de mais importante: seus Recursos Humanos. São eles que, prontamente, tem respondido em todas as situações, sempre fiéis à sua destinação Constitucional, conseguindo atuações exitosas, não obstante as dificuldades conjunturais de toda ordem a que são submetidos.

Nesse enfoque, depreende-se que as Forças Armadas também estão passando por transformações, com inevitáveis reflexos diretamente sobre os seus Recursos Humanos e questões deles decorrentes, as quais devem ser adequadamente identificadas para que possam ser tratadas com oportunidade. Feitas essas considerações de natureza introdutória, cabe aqui destacar que se pretende com o presente estudo evidenciar a existência de graves motivos que, atingindo diretamente a classe militar, desgostam e desgastam seus integrantes, empalidecendo-lhes o entusiasmo profissional, com reflexos desfavoráveis para as próprias Instituições.

A carência de atrativos e de oportunidades compatíveis com as características peculiares da profissão militar, num ambiente de descaso e apatia da sociedade e das três esferas dos Poderes constituídos, em relação ao estamento militar, frustram e prejudicam intensamente sua realização profissional e pessoal, refletindo negativamente no desempenho das atividades e até mesmo na escolha da carreira.

Da análise da expressão carreira militar, surge a constatação de que esta não é uma atividade puramente profissional como as outras, um emprego ou ocupação comum, mas acima de tudo um ofício absorvente e exclusivista, que exige dedicação integral de todas as horas, impondo destinos ao militar e a toda sua família, em uma abrangente vivência nacional (…).

No desempenho da sua atividade, o militar está sujeito a situações específicas que, no seu conjunto, não se verificam nas demais profissões. Em síntese, as características mais marcantes da profissão militar, destacadas pelo Exército Brasileiro e comuns para as três Forças, são as seguintes: a. Risco de vida; b. Sujeição a preceitos rígidos de disciplina e hierarquia; c. Dedicação exclusiva; d. Disponibilidade permanente; e. Mobilidade geográfica; f. Vigor físico; g. Proibição de participar de atividades políticas; h. Proibição de sindicalizar-se e de participação em greves ou em qualquer movimento reivindicatório; i. Restrições a direitos sociais; j. Vínculo com a profissão; e k. Consequências para a família.

No cumprimento das especificidades da carreira militar, são vivenciadas situações que servem de atrativos e outras que desestimulam seus quadros. Se, por um lado, a realização profissional e o sentimento do dever cumprido agigantam o moral e são fortalecidos pelos elevados índices de credibilidade repetidamente apontados pela população em pesquisas de opinião, por outro, o distanciamento e apatia da Sociedade, nas classes mais elevadas, e de segmentos das esferas dos três Poderes constituídos, caracterizam-se nos maiores óbices para a obtenção da valorização da carreira em estudo. É notório que, para a obtenção da justa valorização profissional das Forças Armadas, ainda falta o reconhecimento, por parte de algumas pessoas, da necessidade de superação de posturas discordantes da época da participação direta dos militares nos assuntos de governo, ocorrida a partir do momento histórico em que a Sociedade brasileira, ameaçada nos seus legítimos ideais e verdadeiras aspirações nacionais, compeliu-os à adoção de atitudes e ações para dar cabo à situação de caos e desordem reinante no País em 31 de março de 1964, assim como posteriormente, na atuação em defesa interna, contrapondo-se às diferentes formas, preponderantemente violentas, pelas quais agiram grupos seguidores de correntes ideológicas totalitárias, notadamente contrárias aos anseios democráticos do povo brasileiro (…).

Ao que parece, a memória da Sociedade esvai-se com o passar do tempo. Por isso, os militares continuam sendo alvos permanentes de desgaste e sofrem o ônus do descaso, perda de espaço, influência, consideração e reconhecimento, não obstante o fato de que, com extremada renúncia e disciplina, agindo como verdadeiros profissionais frente às adversidades, tenham aprendido a conviver e ajustar-se diante de novas situações. Segundo Cavagnari (2007, p. 134): “[…]a mais séria crise da história das Forças Armadas está em curso desde 1995 e é causada pela falta de prioridade e pelo desconhecimento do que as Forças Armadas representam para o Estado[…]”.

(…) além de tantos outros importantes projetos das três Forças; medidas efetivas para a redução da defasagem salarial (que atualmente ultrapassa o percentual de 47%, considerando a perda do poder aquisitivo e a desigualdade em relação à remuneração da Administração Direta) ficam sempre relegadas, à espera de “momento oportuno”.

*Nas Pesquisas realizadas:

Dentre os principais aspectos positivos da carreira assinalados como mais relevantes, ressaltam-se os seguintes: estabilidade, valores, organização, disciplina e atividade militar. Com relação aos aspectos negativos, foram destacados a baixa remuneração, as restrições orçamentárias, a operacionalidade prejudicada, o sacrifício familiar e as reduzidas oportunidades para realização de cursos de especialização, dentre outros. Tendo sido instados a opinar a respeito de medidas para melhoria da valorização da Carreira Militar, colocaram em destaque: melhoria dos vencimentos, reaparelhamento e modernização das FA, orçamentos compatíveis com as reais necessidades das Forças, aumento da oferta de Próprios Nacionais Residenciais e maior conscientização da Sociedade e da Comunidade Acadêmica para Assuntos de Defesa, dentre outras.

 

 

A VALORIZAÇÃO DO CAPITAL HUMANO DAS FORÇAS ARMADAS

O mais valioso patrimônio que uma organização pode reunir para ter competitividade e sucesso, ainda segundo Chiavenato (2010, p. 53), “é o seu capital humano, composto por dois aspectos principais: os talentos (conhecimentos, habilidades e competências) e o contexto (ambiente interno, onde os talentos se desenvolvem)”. Surge, daí, o grande desafio de se obter a adequada valorização para o capital humano, dentro da Carreira Militar (…)

Nas Orientações Gerais que compõem as Orientações do Comandante da Marinha (ORCOM) para 2011, consta o seguinte texto: As riquezas existentes em nosso território, tais como as jazidas de minerais estratégicos, de petróleo e de gás; as reservas de água doce; o clima e o solo fértil para a produção de alimentos; e a longa tradição de buscar soluções pacíficas para as controvérsias, podem gerar atitudes indesejáveis às nossas pretensões, caso não estejamos suficientemente preparados para dissuadi-las. Temos, portanto, que enfrentar o desafio de ser grande […].

A preocupação daquela autoridade, com relação ao valioso patrimônio da Nação brasileira, é plenamente fundamentada e enfeixa o pensamento daqueles que tem sob seus ombros o peso da responsabilidade de zelar pela segurança e pela integridade desse pujante País. Especificamente na área de pessoal, tratam as ORCOM/2011, dentre outros aspectos, dos seguintes: – medidas para ampliação do acesso ao financiamento da casa própria para o pessoal da MB; – aquisição de Próprios Nacionais Residenciais; – gestões visando a correção da remuneração para patamares aceitáveis; – defesa dos interesses do pessoal militar no que tange a sistemas previdenciários e de pensões; – incremento do nível de satisfação profissional; – ampliação dos instrumentos e desenvolvimento de programas que valorizem o profissional militar; e – ampliação das oportunidades de aperfeiçoamento profissional e formação complementar, quer no País, quer no exterior (…).

A Sociedade brasileira e a Comunidade Acadêmica necessitam de maior conscientização e envolvimento nos assuntos de segurança e defesa, devendo participar ativamente na busca de soluções que sejam as melhores para o País, ante as possíveis ameaças que venham a acarretar a necessidade de atuação das Forças Armadas brasileiras. Para tanto, avulta de importância a Valorização da Carreira Militar, pela Sociedade em geral, como uma das formas pelas quais, investindo-se no capital humano das Instituições Militares permanentes, obter-se-á o fortalecimento da Expressão Militar do Poder Nacional.

Resumo de: Lima, Expedito Alves de. A Valorização da Carreira Militar no Brasil / Expedito Alves de Lima. Rio de Janeiro: ESG, 2011.

Robson A. Silva – Sociólogo, Militar. Fonte: https://www.sociedademilitar.com

*Acréscimo nosso.

 

Deixe um comentário
Compartilhe
Publicado por
Sociedade Militar