De Sargento a General, uma reflexão que incomoda

 

De Sargento a General, uma reflexão que incomoda.

MIlitares do Brasil, se ingressarem nas forças armadas nos quadros de praças, não podem ascender aos postos de oficiais generais.

    Semana passada vimos aqui em https://sociedademilitar.com a notícia de que o general Mikhail Kalashnikov estava internado na Russia. Kalashnikov foi o inventor do fuzil AK47, tido como uma das armas mais eficazes do mundo e certamente o fuzil fabricado em grande escala mais robusto que existe. Mikhail Kalashnikov iniciou sua carreira como recruta no exército soviético, foi promovido a sargento e, por sua habilidade na confecção de armas, hoje é general reformado do exército Russo, certamente uma história de sucesso. É um caso raro, foi sargento e hoje é general.

    Vemos na internet e mesmo nos círculos de conversas entre militares algumas reclamações do tipo: “Os generais não estão nem aí para nossas dificuldades” ou “parece que os comandantes não sabem o que passamos”, e isso nos leva a refletir um pouco sobre a questão de classes dentro de instituições militares.

No livro Militares pela Cidadania o autor coloca o seguinte:  

“… é a diferença qualitativa das praças em relação aos oficiais que consagra a existência de duas categorias distintas de militares. Ela se inicia na origem, nas academias, e nas escolas de formação militar, onde é determinada a condição de desigualdade que perdurará por toda a vida. E é exatamente nesse ponto que se estabelece a existência de duas classes distintas, oficiais e praças”. E

 “…exemplo interessante de organização social baseado em diferenças qualitativas é o sistema de castas da Índia, um sistema que estabelece a desigualdade entre os indivíduos no seu nascimento, não admitindo a possibilidade de mobilidade entre classes. Alguém poderia dizer que conhece tal indivíduo que passou de uma classe à outra, que foi praça e agora é oficial, porém isso será sempre uma exceção, nunca uma regra estabelecida.”

    A existência da possibilidade de algumas praças de carreira vez por outra galgarem o oficialato, no ponto de vista do autor do livro, parece ser um simples e estratégico afrouxamento nessa barreira intransponivel. Sem essas poucas oportunidades o sentimento de que existem duas classes distintas seria reforçado, acarretando prejuízo para a coesão das tropas, o que ninguém deseja.

      Podemos citar aqui, como ilustração, a pratica atual de contratar oficiais temporários e para quadros complementares. São abertos concursos após concursos e em poucos meses se formam oficiais historiadores, geógrafos, enfermeiros, bacharéis em direito, engenheiros e outros, e sabemos que há centenas, talvez milhares de praças graduados nessas profissões, ansiosos por serem aproveitados pelas instituições pelas quais já dedicaram anos de suas vidas.

      Oportunidades desse tipo, além de beneficiar as instituições, ja que não precisaria se construir rapidamente novos militares, como hoje se faz com os oficiais recém admitidos, também seriam uma forma de coroar o esforço dos militares que, apesar da dedicação exclusiva, se esforçam por realizar cursos superiores.

     Por que não se dá essa oportunidade para esses militares?

    Para o sistema não é interessante que militares outrora praças façam parte de círculos de oficiais?

    Cremos que seria algo por demais benéfico. Muito mais do que “amolecer” com as praças esses oficiais teriam uma visão mais compreensiva e certamente, sendo de quadros administrativos, teriam oportunidade de adequar regulamentos, escalas de serviço, alimentação e habitação com uma propriedade de quem experimentou as condições em que vivem aqueles que agora são seus subordinados.

Talves seja por esse mesmo motivo – conhecer a realidade do subordinado – que muitos militares comemoraram a promoção em 2012 do General Expedito Alves de Lima, um homem que, nascido em família humilde, vivenciou as situações em que vivem hoje muitos de seus soldados.

 

Gustavo Antônio Kovack Lamonier..

https://sociedademilitar.com

 

 

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Sociedade Militar