O Estouro da Boiada – Revoluções.

Parece haver certa verossimilhança entre a  gênese do estouro de uma boiada e as revoluções que sacudiram o mundo em escala global, como as  revoluções  Francesa, de 1789, e a Bolchevique, de 1917. Em degraus menores, no âmbito interno brasileiro, poderiam ser citadas como tais a queda de Jânio Quadros, em 1961, a Revolução de 1964 (golpe ou contragolpe, não importa a denominação), que começou o Regime Militar, as “Diretas Já” , iniciadas em 1983, o “impeachment” de Collor de Melo, em 1992, primeiro produto das “diretas-já” (já começou mal), e mesmo a ascensão do PT ao poder, que agora  está no quarto mandato consecutivo, causando inestimáveis estragos à sociedade, onde a democracia cedeu  definitivamente o seu lugar à OCLOCRACIA (regime de mando  na idiotocracia), como forma  de governo.

Trabalhando um pouco sobre o primeiro tipo de “estouro”,o da boiada,a constatação  é  que isso ocorre quando repentinamente a manada bovina passa a se movimentar em desabalada correria ;  arrasta, quebra e destrói tudo que encontra pela frente,não poupando cercas, árvores, pessoas e o que mais estiver à frente da trajetória.

O chamado efeito-manada acontece invariavelmente no momento em que os vaqueiros menos esperam. Nem é preciso algo de grande impacto para ocasioná-lo.  Euclides da Cunha, em “Os Sertões” constatou que ele pode  começar com “o súbito vôo rasteiro de uma araquã. “Aparentemente , esse “vôo “ rasteiro da  ave, por si só, não poderia ocasionar resultados tão destruidores. Mas com certeza  existem outros motivos relevantes por trás. Provavelmente seria produtoda libertação de sensações  desagradáveis e recalcadas em momentos anteriores no rebanho.Poder-se-ia até usar,por analogia, a expressão de Nelson Hungria, ilustre criminalista, para explicar os motivos de um crime. Seria mais ou menos o seguinte: O  sujeito mata o outro após a vítima “mostrar-lhe  a língua”.. Mas antes , o “cara” havia matado a mãe dele, estuprado a sua mulher e uma filha, além de dar uma surra em todos os seus outros  filhos. O motivo que o levou a matar não foi a última ofensa de “mostrar a língua”, mas ao anteriores. Alíngua mostrada   foi  a “gota d’água”, o ato que desencadeou a reação  mortal.

Neste sentido,também o vôo da araquã, no cenário imaginado por Euclides da Cunha, teria sido a “gota d’água” do estouro da boiada.

Se buscarmos nas suas profundezas as verdadeiras causas que originaram os revoluções ou grandes mudanças no mundo ouinternamente  dentro dos países,sempre vão aparecer   aspectos sociais,políticos,econômicos e religiosos,dentre outros. Mas todas essas mudanças,sem exceção, tiveram  as suas respectivas  “gotas d’água”,que originaram os “estouros-de-boiada”. Na antiga Rússia foi a incapacidade do “Czar” para extirpar a pobrezaextrema em que vivia o povo e os privilégios  da classe dominante. Em França,os exorbitantes tributos cobrados do povo por Luis XVI para recuperar o “rombo”da Coroa (qualquer semelhança com a situação brasileira atual é mera coincidência).

Na Revolução de 64,no Brasil, as “Reformas de Base” e os discursos de Jango e Brizola na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13.03.1964, poucos dias após  (31.03.64), apeados do  poder.

Já o “estouro da boiada” da ascenção  do PT ao poder deu-se  após o fracassado período dos “tucanos” no poder e de todos os outros governos que se sucederam  antes dele após o Regime Militar, que já não havia sido exemplar. A “gota d’água” do império do PT foi a esperança (frustrada) de mudanças para melhor prometidas na campanha eleitoral.

Masé importante sublinhar  que nem todas as revoluções ou grandes mudanças no mundo tiveram virtudes no sentido de melhorar a condição de vida dos respectivos povos. Muitas tiveram efeitos contrários. Pioraram a vida dos povos.

Destaque especial merece a mudança proveniente das “Diretas Já”. Começa pela “piada” do seu primeiro resultado: Collor de Melo.

Mas comparado com os outros que o sucederam nas “diretas já”seguintes, Collor ainda foi um “estadista” A “gota d’água” que o derrubou no “impeachment” não foi aquela baboseira que disseram no respectivo processo de impedimento.  Ele não tinha o Congresso na “mão”, como hoje ocorre, e iria tomar severas medidas contra a especulação transnacional. Hoje, os banqueiros “gringos”, têm toda a proteção governamental e aqui ganham mais dinheiro que em qualquer outra parte do mundo.

Resumidamente: Collor “pecou” em grau infinitamente menor do que os pecados de hoje. Suas “irregularidades” não chegam nem aos “pés” das que hoje são cometidas. Mas ele sofreu “impeachment”. Os “outros”, com irregularidades fantasticamente maiores, não.

No Brasil, o estado-de-espírito da parcela do povo que ainda consegue pensar e agir com independência começa a dar indícios que o “estouro-da-boiada” para mudar o “status quo” não vai demorar. Entretanto sabe-se que terão que ser tomadas medidas fora das rotinas habituais.

O que falta é a “gota d’água”. Um só gesto de impacto, um“ estrondo” qualquer , desencadearia com certeza  toda uma revolução, melhor dito, o “estouro-da-boiada. Mas a sociedade civil foi imobilizada pelo governo que deveria dar-lhe segurança e não dá.  Ninguém  nem  têm como dar o primeiro  “estrondo”. Só têm equipamentos que causam “estrondos”os bandidos e os frouxos  habilitados para tê-los, mas que  não têm coragem  de  usá-los  em   defesa da soberania nacional, democracia , e mesmo direitos humanos.

Para que isso aconteça, cada um deverá  encontrar os seus próprios fundamentos, que poderão ser de ordem econômica, social, política, ideológica, moral, religiosa e o que mais for preciso, ou mesmo JURÍDICOS , onde  o autor desse escrito  se “agarra”, noticiando  seus  fundamentos no texto  “IMPEACHMENT : PARLAMENTAR OU MILITAR?”, já publicado, que por seu turno deverá ser avaliado à luz do disposto no art.142 da Constituição Federal (Intervenção Militar).

Sérgio Alves de Oliveira – Sociólogo e Advogado Gaúcho

Revista Sociedade Militar.

Obs: Os textos dos autores não necessariamente refletem a posição da editoria de Revista Sociedade Militar.

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