Qual é a prioridade do exército?

Revista Sociedade Militar

Defesa territorial, qual é a prioridade do exército?

Não é de hoje que se ouve falar na mudança de foco da Força Terrestre, tendo em vista a própria evolução no relacionamento com os países sul-americanos, mais particularmente os plantados no chamado “cone sul”. A implantação do MERCOSUL e, na sua esteira, da UNASUL seguida pelo Conselho de Defesa Sul Americano (CDS) praticamente fez caducar a hipótese de guerra voltada para o nosso garrão meridional. Não que se deva deixar de lado as nossas unidades blindadas, mas, vamos e convenhamos, há que se, pelo menos, equilibrar as aquisições de material bélico pertinente às grandes unidades/tipo de forma a contemplar também as brigadas de infantaria de selva em meios de locomoção fluviais que as capacitem a um adestramento compatível com o que delas se espera no combate preconizado pela estratégia de resistência.

Não há como fugir deste desiderato: o EB vai fazer a sua guerra na selva ao longo da calha dos rios e igarapés em operações eminentemente de natureza ribeirinha. O que se fez até agora para otimizar este combate? As embarcações para patrulhamento fluvial e desembarque anfíbio ainda são as mesmas “voadeiras” da década de 1960. Que falta de respeito com o soldado brasileiro!  Perigo! Aquelas verdadeiras “pirogas de lata”, do tempo da inauguração do CIGS, atualmente constituem, sim, sinistros “caixões navegantes” se comparadas às potentes e velozes lanchas artilhadas de notórios “marines” americanos e britânicos.

Hoje se fala muito nas viaturas blindadas GUARANY. É de pasmar, cerca de cem unidades serão entregues por ano até 2029, com previsão de 2044 até 2030! Seria a volúpia pela capacitação do País a integrar permanentemente o CS/ONU? Enquanto isso se compraria da Colômbia quatro lanchas de patrulha fluvial, segundo o então Ministro Celso amorim. Que “grande piadão”!  A 6ª potência econômica mundial, dispondo do parque industrial de São Paulo, vai adquirir embarcações de pequeno calado nos cucarachos! Valha-me Deus, e somente 4, brincadeira! Que se saiba, somente um batalhão de infantaria de selva (BIS) tem quatro companhias, todas com mais de cem homens. Mas o senhor Celso Amorim foi enfático: – “Quero confirmar a decisão do Brasil sobre a aquisição de lanchas fluviais colombianas para o Exército e a Marinha. Provavelmente quatro, com a perspectiva de mais algumas no futuro “.

Não acredito! O titular da pasta não é/está mal assessorado. Já é hora de se dar um basta nas compras de material que temos condições de fabricar. O incrível, fantástico e extraordinário é que vamos construir submarinos mas não temos a capacidade de fabricar lanchas artilhadas e de desembarque anfíbio. Meu Deus do céu! Como pensa o Exmo. Sr. Ministro Jaques Wagner?

De qualquer forma fica aqui a dúvida do cidadão civil que, mesmo leigo no assunto, se questiona quanto à priorização descabida de meios para as unidades blindadas/mecanizadas, de emprego remotíssimo no cenário atual do teatro de operações platino, com temerário prejuízo para a tropa do Comando Militar da Amazônia (CMA). Sua carência de meios de locomoção pertinentes e compatíveis para fazer frente a meios anfíbios de última geração é simplesmente tirânica. Que não se duvide, uma coalizão de soldados universais, quando menos se esperar, vai subir o grande rio “em nome da ecologia e do direito universal das nações indígenas”, este reconhecimento na ONU pelo próprio senhor Celso Amorim, quando ministro das relações exteriores.

Em sendo assim, raciocinando curto e grosseiramente, mas dentro de uma lógica plausível, por que não se exorcizar primeiramente as unidades de infantaria de selva de suas “mortalhas flutuantes”, que seja, pelo menos uma subunidade por batalhão. A grande realidade é que um combate de blindados no pampa está “p´ra lá de Marrakech”, porém, uma guerra na selva vai nos assombrar mais dia menos dia, dependendo apenas da vontade dos grandes predadores militares. Acorda Brasil! A prioridade ainda maior é a da “estratégia anti-acesso”, mas para esta, ao que parece, sua implementação ainda não saiu do campo das conjecturas. É preocupante!

Paulo Ricardo da Rocha Paiva. Coronel de Infantaria e Estado-Maior.

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