Onde está a história de nossos heróis? Um país onde Militares são amados, exaltados. Sua incessante luta por valores em que acreditam serve de exemplo para os jovens. Seus atos são retratados em livros e filmes.

Quando eu era criança gostava muito de ler algumas revistas que meu pai guardava com o maior carinho. Tinha que tomar muito cuidado. Eram as revistas do Sargento Rock, que retratavam algumas histórias da segunda guerra mundial. Os quadrinhos exaltavam as qualidades dos militares e o risco que eles corriam para defender a democracia, justiça e os inocentes que padeciam por conta das guerras causadas pela ambição e inépcia de pessoas que querem mudar o mundo na base da força bruta.

Não por coincidência, meu pai também era sargento, e combatia em uma guerra. Portanto, sabia muito bem o que vivenciou o semi-fictício sargento Rock. Naquela época, anos 70, ainda estavam por aí os terroristas brasileiros, que em seu delírio nocivo, acreditavam que por meio das armas conseguiriam que a sociedade os ajudasse a acabar com as liberdades e aliar o Brasil a Cuba e URSS. Obviamente eles sabiam que nunca conseguiriam sozinhos derrotar as forças armadas. Mas, ainda assim, vez por outra ceifavam vidas inocentes.

Muitos militares e civis lutaram nos combates. Mas, suas ações não foram exaltadas como deveriam, não foram citados como exemplo a ser seguido. Eu nunca ouvi seus nomes em uma cerimônia pública, coberta pela imprensa e amplamente divulgada.

   Exatamente o contrário acontece nos Estados Unidos, o exército norte-americano exalta seus heróis, civis, praças e oficiais, mostrando o que eles fizeram para a preservação dos valores que cultuam e que tem mantido seu país no topo da qualidade de vida, liberdade e oportunidade. Lá as condecorações são valorizadas e não são divididas com qualquer um. Veja abaixo um maravilhoso exemplo disso. Em outro post contaremos pra vocês como conhecemos o Sargento Miller, que morreu em uma ação heroica no Afeganistão.

Numa cerimônia na Casa Branca Michele Obama assumiu a palavra e começou o discurso?

Somos uma nação de mais de 300 milhões de americanos. Destes, menos de 1 por cento usa o uniforme de nossas forças armadas. E destes, apenas uma pequenina fração ganhou os crachás de nossas Forças de Operações Especiais. No melhor exercito que o mundo já conheceu, esses guerreiros são os melhores dos melhores. Em uma era em que vigoram os prêmios de celebridade e status, eles são “profissionais silenciosos” – nunca procuram ser o centro das atenções. Em um tempo de guerra, eles tiveram um peso muito além de seu pequeno número – treinando exércitos estrangeiros; trazendo escolas e remédios para aldeias remotas; e lutando contra terroristas e insurgentes que conspiram contra nós. 

Poucos americanos já viram o seu serviço, mas todos os americanos são mais seguros por causa disso. E nossos corações se enchem de orgulho só de ouvir seus nomes, incluindo os lendários Boinas Verdes. Hoje, é meu o privilégio de apresentar a mais alta condecoração militar da nossa nação – a Medalha de Honra – a um destes soldados notáveis, o sargento Robert J. Miller.

Para isso, estamos unidos com o vice-presidente Biden, e do estado natal de de Miller da Flórida, outro líder que ajudou a tornar este dia possível, a deputada Suzanne Kosmas. 

Estamos unidos com líderes de todo o nosso governo, incluindo o secretário de Defesa Robert Gates; o almirante Mike Mullen; e vários líderes de nossas Forças Armadas, incluindo o secretário do Exército John McHugh e Chefe do Estado Maior General George Casey, bem como Comandante do Comando de Operações Especiais, o almirante Eric Olson.

Temos a honra de ser acompanhado por outros soldados de Rob em cujas fileiras ele serviu – seus companheiros da Companhia ALFA, 3º Batalhão, 3º Grupo de Forças Especiais de Fort Bragg, e daqueles que agora o receberão em suas fileiras, os membros do Medal of Honor Society .

Acima de tudo, congratulamo-nos com mais de 100 amigos e familiares de Rob, especialmente seu pai Phil, a mãe Maureen e seus muitos irmãos e irmãs.

Tem-se dito que a coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas a maior de todas as virtudes em um momento de prova. Para Rob Miller, esse momento veio há quase três anos, no fundo de um vale afegão repleto de neve. A coragem que ele mostrou naquele dia reflete todas as virtudes que definiram sua vida.

Rob foi muito sábio, além de seus poucos anos. Crescendo em Wheaton, Illinois, perto de Chicago, ele era um menino que na escola escreveu um poema sobre soldados americanos na Segunda Guerra Mundial, homens – como o soldado Rob se tornaria – e que, segundo ele, lutaram dia e noite por aquilo achavam que estava certo.

Rob nasceu para liderar – no ensino médio seu treinador teve que expulsá-lo a noite para que pudessem fechar o ginásio. Como recruta no Exercito ele ia além de seus limites – tanto física como mentalmente – para ganhar o título de boina verde.Ele foi o soldado das Forças Especiais que, em sua primeira turnê no Afeganistão, ganhou duas medalhas de reconhecimento por valorosos serviços.    

A devoção ao dever. O permanente senso de honra. Um profundo amor pelo país. Estas foram as virtudes que encontraram sua expressão máxima quando Rob – de apenas 24 anos de idade, e em sua segunda viagem – encontrou seu ponto de prova em 25 de Janeiro de 2008.

Rob e sua equipe estavam no noroeste do Afeganistão. Sua missão: Acabar com uma concentração de insurgentes que estavam atacando as forças afegãs e aterrorizando os moradores das localidades próximas. Então, quando se depararam com um grupo insurgente, Rob e seus homens entraram em ação desencadeando o fogo, inclusive com ataques aéreos.

Agora, eles estavam indo para esse composto destruído, para avaliar os danos e recolher informações. Ainda estava escuro, pouco antes do amanhecer. Era frio – e silencioso, exceto para o crepitar das suas rádios e do excesso de neve sob suas botas. Como tantas vezes antes, Rob estava na frente – levando uma patrulha de duas dezenas de afegãos e americanos em uma trilha estreita ao longo do fundo do vale, as montanhas íngremes elevavam-se sobre eles.

Primeiro era apenas um único rebelde, pulando atrás de uma pedra. Então, todo o vale pareceu explodir em tiros. Em poucos segundos, Rob e sua patrulha foram feridos. Com quase nenhuma cobertura – balas e granadas eram lançadas por foguetes chovendo de todas as direções. As chances eram esmagadoramente pequenas. A pequena patrulha de duas dezenas de homens de Rob foi cercado por quase 150 rebeldes. 

Com o inimigo a apenas pés de distância – alguns tão perto que ele podia ver seus rostos – Rob se manteve firme. Apesar do caos ao seu redor, ele passou um rádio para informar  das posições inimigas.Como o único bilíngüe em sua equipe, ele organizou os soldados afegãos em torno dele. Mas o fogo, nas palavras de um soldado, era simplesmente “surpreendente”.

Rob tomou uma decisão. Pelo rádio ele mandou sua equipe recuar. E então ele fez algo extraordinário. Rob se movimentou para o outro lado – em direção ao inimigo, atraindo o fogo de todos esses insurgentes sobre si.

A luta foi feroz. Rob pareceu desaparecer em nuvens de poeira e detritos, mas a sua equipe ainda podia ouvi-lo no rádio, ainda chamando a atenção do inimigo. E eles podiam ouvir a sua arma ainda disparar enquanto ele dava cobertura aos seus homens do outro lado.  Em seguida, através do rádio, eles ouviram a voz dele. Ele havia sido atingido. Mas ainda assim, ele continuou atraindo os rebeldes. Ainda assim, ele continuou atirando. Ainda assim, ele continuou jogando as granadas. E depois, a arma de Rob ficou em silêncio.

Esta é a história do que um soldado norte-americano fez para sua equipe. Mas é também uma história do que eles fizeram para ele. Dois de seus companheiros enfrentaram as balas e correram em socorro de Rob. Nesses momentos finais, eles estavam lá ao seu lado – os soldados americanos, uns para os outros. O fogo implacável obrigava-os a voltar, mas eles se recusaram a deixar o seu companheiro caído. Quando os reforços chegaram, esses americanos entraram novamente – arriscando suas vidas, levando mais vítimas – determinados a trazer Rob Miller para fora daquele vale. E, finalmente, depois de uma luta que durou horas, eles o fizeram.

Quando a poeira baixou e a fumaça se dissipou, não havia dúvida de Rob Miller e sua equipe tinham infringido um grande golpe contra a insurgência local. Cinco membros de sua patrulha tinham sido feridos, mas a sua equipe tinha sobrevivido. 

Nesse momento, em meio ao auditório, um de seus companheiros de equipe se levantou, e falou para todos: “Eu não estaria vivo hoje se não fosse por seu sacrifício.”

Este é o valor que a América homenageia hoje. Para a família e amigos de Rob, eu sei que não há palavras para aliviar a dor em seus corações. Mas eu também sei que a vida e o legado de Rob perdura.

Rob perdurará no orgulho de seus pais. Phil e Maureen, vocês criaram um filho notável. Hoje, e nos próximos anos, Que vocês encontrem algum conforto em saber que Rob deu a sua vida fazendo o que amava – proteger seus amigos e defender seu país. Vocês deram o seu filho mais velho para a América, e na América para sempre tem uma dívida com vocês. 

Se fizermos – se mantivermos seu legado vivo, se mantivermos a fé nas liberdades que eles morreram para defender – então podemos imaginar um dia, daqui a algumas décadas, quando outra criança se sentar em sua mesa, vai refletir sobre o verdadeiro significado de heroísmo e encontrará inspiração na história de um soldado – o sargento Robert J. Miller, e numa geração que “dia e noite lutaram por aquilo que achava que era certo.”

O site do Exército americano mostra em detalhes, em imagens tridimensionais, como foi a batalha travada por Miller e seus companheiros. Muitos brasileiros, policias, membros das Forças Armadas e civis engajados nas batalhas travadas aqui mesmo no Brasil, pereceram ou sofreram lesões em combate, lutando por aquilo que achavam que é certo, lutando para que o futuro fosse melhor para seus filhos e netos. É obvio que eles não são menos capazes e corajosos do que Miller, ou do que outros heróis já reconhecidos. Onde estão os livros sobre eles, onde estão os filmes, as revistas? Quem escondeu sua história?

Robson A.D. Silva – Revista Sociedade Militar.
Robson é Cientista Social.

 

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Sociedade Militar