Quer matar? É muito fácil. Entrevista com membro do ISIS mostra a que ponto chega a mente de um membro do grupo de terroristas mais temido dos últimos anos.

Hoje o mundo recebeu a noticia de mais uma atrocidade em nome do islamismo radical. O piloto jordaniano que acreditava-se que poderia ser trocado por uma terrorista aprisionada na Jordânia, foi queimado vivo. O Estado islâmico continua procedendo contra todas as convenções, regras e normas de condutas civilizadas. O grupo fez o Oriente Médio regredir ao tempo das cruzadas. Onde estão os correspondentes de guerra? A situação chegou ao ponto em que ninguém quer mais cobrir o conflito e a maioria das atrocidades cometidas pelo ISIS, principalmente contra cristãos, homossexuais e mulheres, passam despercebidas do ocidente. Só se sabe o que o próprio ISIS divulga.

Questão importante, e grave, é que o Estado Islâmico, por mais terrível que seja, continua atraindo adeptos do ocidente. Nero Saraiva, 28 anos, que se mudou para o Reino Unido há mais de 10 anos, é um desses. Suspeito de ser um membro do infame exército, ele seria conhecido como Jihadi John, e já apareceu em vídeos de decapitação horríveis.

Serviços de segurança ocidentais dizem que Saraiva e pelo menos outros quatro imigrantes portugueses para a Grã-Bretanha estão envolvidos na produção e distribuição de vídeos de execução do grupo terrorista.

Relatórios citam outros suspeitos como Fabio Pocas, 22, um ex-jogador de futebol que chegou a Londres em 2012 para tentar progredir em sua carreira. Em uma entrevista com a mídia Portuguesa no final do ano, Pocas disse que era agora um jihadista e que tinha três esposas na Síria, incluindo uma noiva jihadista adolescente holandesa. Pocas também disse que mataria qualquer um considerado inimigo do islã.

Saraiva, também, acredita-se, tem um bom número de esposas jihadistas, incluindo uma mulher australiana, com quem ele tem pelo menos quatro filhos. A Scotland Yard suspeita que ele possuia informações antecipadas sobre reféns do ISIS e sobre planos do grupo para executar, pelo menos, um dos jornalistas americanos que estava em cativeiro, de acordo com um relatório divulgado pela imprensa inglesa.

A avaliação é baseada em uma série de atividades on-line captadas pelos serviços de segurança. De acordo com o relatório, 39 dias antes de James Foley ser assassinado, Saraiva twittou: “Mensagem para a América, o Estado Islâmico está fazendo um novo filme. Thank you para os atores.

Em agosto, foi liberado um vídeo do assassinato, sob o título “Mensagem para a América.” Foi a primeira de uma série de vídeos que mostram os horríveis decapitações de reféns ocidentais.

Uma fonte de segurança disse que Saraiva: ” tem uma posição importante, influente dentro da organização, e não é apenas um soldado que foi para lutar e morrer na Síria.”

Os serviços de segurança acreditam que ele está ligado a Jihadi John devido ao armamento semelhante que usam em fotos que estavam disponíveis no perfil do Twitter de Saraiva.

Acredita-se que Saraiva tenha usado Portugal como ponto intermediário para transferir novos soldados pra o ISIS. Ele se converteu ao Islã no Reino Unido, e é suspeito de ter recrutado pelo menos 10 cidadãos britânicos para ISIS.

Já, Pocas, o jogador de futebol, prometeu voltar para a Europa para a jihad. Ele disse ao jornal Sábado Português, em uma entrevista muito interessante, mas pouco divulgada, que ele iria voltar “com a bandeira de Tawhid [a bandeira negra associada aos islamistas] em uma mão e uma arma na outra”.

“Matar é fácil”, disse ele. “E é ainda mais fácil de matar os que matam muçulmanos … Eu sou capaz de matar qualquer um que lute contra o Islã.” Pocas disse que seus pais “, obviamente não entendem” suas ações.

Veja parte da entrevista, que o Português Pocas concedeu pelo facebook. Em certa parte da entrevista ele deixa escapar que há um “lobo solitário” português. O que pode ser entendido como um terrorista suicida que executa atentados sozinho. Pocas disse ainda que o salário que o ISIS paga não é muito, mas o mesmo seria aumentado relativamente porque o ISIS ressuscitou uma prática antiga, a distribuição de despojos de guerra entre os soldados.

Nasceu em Lisboa? Não. Em Benguela, Angola.

 Porque foi para Londres? Fui para a faculdade, estudar artes.

 Não foi para jogar futebol? Primeiro para estudar.

 Qual faculdade? Não me sinto confortável em falar sobre os meus dados pessoais. Terá de escolher as suas perguntas com sabedoria. Sou uma pessoa tímida.

 Muito bem. Mas tudo parece pessoal. Quase tudo.

Julgo que não foi sempre muçulmano. O que o fez aproximar-se do Islão? Conheci pessoas muçulmanas quando me mudei para Londres e fiquei curioso. Li o poderoso Corão. E as provas claras dos seus versos ajudaram-me.

 Como? Deram-me confirmações. Muitas das chamadas descobertas recentes foram mencionadas no Corão há milhares de anos. Como o profeta Maomé (que a paz e as bênçãos caiam sobre ele) não sabia ler ou escrever, o livro só pode provir do Divino.

 Que tipo de factos? Muitos. Alá, no Corão, descreve com detalhe o desenvolvimento do embrião; as barreiras entre a água doce e salgada nos oceanos; como as montanhas são como estacas que mantêm os solos unidos e tornam a terra estável. Mudou a minha forma de pensar. Esta é a Terra de Alá. Todas as criaturas pertencem ao seu criador, certo?

Por isso decidiu seguir a suas ordens? Obviamente. Este mundo pertence ao criador. Por isso, não é obrigatório vivermos de acordo com as suas leis?

 Mas há muitas maneiras de o fazer. Errado. As leis de Deus são perpétuas. Porque Alá é perfeito e o mais elevado. Só há uma maneira. E é o monoteísmo islâmico. Mas as pessoas insistem em implementar outras leis que não as de Deus. Algumas são descrentes e desobedientes. E Alá não as ama. Vivemos para alcançar o prazer de Deus porque este mundo é apenas temporário. E Alá promete-nos mais e melhor, apenas em troca de O amarmos e adorarmos. Só a Ele. É tanto aquilo que Ele nos promete e tão pouco o que nos pede. E quem é mais fiel às suas promessas que Deus?

 Porque decidiu ir para a Síria? Eu explico. O mensageiro de Alá, Maomé (SAW) [abreviatura para salla Allah alaihi wa sallam, que significa “que as bênçãos e a paz de Alá estejam com ele”] disse: “A Ummah [nação islâmica] é um corpo.” E se parte sente dor, o resto do corpo também a sente. O povo da Síria foi massacrado, torturado e humilhado pelo regime. E nós muçulmanos somos irmãos. É obrigatório ajudarmo-nos uns aos outros. Hoje, após o estabelecimento do califado, os muçulmanos da Síria recuperaram a sua honra. As suas casas são protegidas pelo Estado Islâmico (EI). As suas filhas já não são violadas pelo regime. A sua riqueza foi devolvida aos seus donos. Eles podem agora viver como muçulmanos sob as leis de Alá.

 Há relatos que dizem o contrário, que as raparigas estão a ser violadas pelos mujahedin do EI. Mentiras fabricadas pelos aliados de Israel e da América para pôr as pessoas contra o Dawla Islamiya [Estado Islâmico]. Os muçulmanos ocidentais também. É uma velha táctica usada por Hitler na II Guerra Mundial: inventar mentiras sobre o inimigo para obter o apoio do povo.

 Houve também milhares de pessoas que fugiram para a Turquia para escapar à morte. Milhares deixaram a Síria antes da nossa entrada por causa do regime de [Bashar al-] Assad. Fugiram por causa dos bombardeamentos, ataques aéreos e massacres.

E aqueles que saíram recentemente? Ultimamente são os curdos que estão a fugir para a Turquia. Secularistas, aliados da América. Têm-lhes sido dadas armas para lutar contra o Estado Islâmico.

 Quando viajou para a Síria, como sabia para onde ir? Depositei a minha confiança em Alá – e ele guiou-me ao longo do caminho. Não foi difícil. Alhamdulillah [louvado seja Deus].

 Foi com dois irmãos portugueses? Não.

Então foi sozinho. Não. Bem, sim, de certa forma.

Disse que foi para a Síria lutar contra o regime de Assad. Juntou-se a algum grupo? No início juntei-me à Al Ansar wa Muhajireen [ou o “Exército de Emigrantes”, grupo criado em 2012 e composto, maioritariamente, por estrangeiros], liderado por Abu Omar Shishani [um antigo-comandante checheno].

 Quando foi isso? Em 2013, antes das lutas internas contra o Exército Livre Sírio (ELS) [grupo de oficiais e soldados que abandonaram as forças de Bashar al-Assad].

 Recebeu algum treino? Sim. Um pouco de tudo: Corão, armamento, tácticas. Durante um mês. O resto aprende-se no campo de batalha, com a experiência.

Para onde foi lutar no início? Em Aleppo. Contra o regime.

Participou na tomada da cidade? Sim. Foi uma batalha muito dura, sobretudo devido às condições climáticas. Conseguimos libertar os irmãos que eles cercaram no início.

 Ainda estava com o Al Ansar wa Muhajireen? Não. Já nos tínhamos juntado ao Estado Islâmico.

 Porquê? Porque a América ofereceu a todos os grupos 200 mil dólares [€158 mil] por mês aos que lutassem contra o EI e porque eles tinham o plano de estabelecer o califado. Um dos companheiros de Maomé (SAW) disse: “Se quiserem ver onde estão os piedosos, vejam para onde as setas dos descrentes estão apontadas.” Veja: América, Israel, o regime Sírio, a Arábia Saudita, o Irão, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e muitos outros estão disponíveis para combater o EI. Isso quer dizer que é o grupo que está no caminho certo. Como pode ver, o Califado foi estabelecido – e continua a expandir-se. Todos os dias.

 Já foi ao Iraque? Sim, no mês passado, a Mossul, cidade já libertada.

 Fazer o quê? É confidencial.

 Houve um vídeo que se tornou viral no Facebook após a tomada de Mossul, partilhado por Abdurahman Al Andalus. Foi filmado por você?
Sim. Mas não foi no Iraque, foi aqui, em Minbij. Éramos nós a celebrar porque os irmãos conquistaram Mossul.

 Encontrou aí outros portugueses? Sim. Irmãos adoráveis. Gentis, honestos e muito bravos. Os melhores de todos. In shaa Allah [se Alá quiser].

 Encontrei uma fotografia sua no Twitter com Abu Issa al-Andaluzi (Celso). Sabe onde ele está? Sim, sei. Estamos sempre juntos.

 Ele está bem? Sim. Forte e saudável.

 Houve notícias de que um português teria sido ferido e tinha perdido as pernas. Sabia disso? As pernas dele ainda estão juntas com o corpo, lol [risos]. E o Nero [outro português] também está bem.

 Vocês estão sempre juntos? Sim, mas não com o Nero. Ele é um lobo solitário.

 Na Síria, encontrou o que estava à espera? Sim. Estou certo de que Alá está mais agradado comigo do que quando estava em terras kaffir [infiéis]. Isso dá garantias ao meu coração. Não procuro possessões mundanas. Apenas o prazer de Alá. Porque o além é melhor e mais longo do que este mundo.

 Também encontrou uma mulher. Qual delas? Lol.

 Mais do que uma? Obviamente. Tenho três e estou agora à procura da quarta. É casado, sr. Pinto?

 Sou. A Ângela é a única portuguesa? Com quantas? Só uma? Está a perder o comboio, senhor. Estou só a brincar. Sim, é a única portuguesa.

 Como se conheceram? Na Internet.

Isso é surpreendente. Estão numa zona de guerra e conseguem ir à Internet. Também nos surpreende a nós. Chamamos-lhe a jihad de cinco estrelas. Vivemos dentro do califado e levamos a guerra para longe de onde vivemos. Quando temos de lutar fazemos a mala e vamos substituir os irmãos que estiveram na frente. É um sistema rotativo.

 Mas têm Internet no telemóvel? Num cibercafé? Sim. É o Estado Islâmico, sr. Pinto. Neste momento estou num cibercafé.

Matou alguém? Alá saberá.

 O que pensa sobre isso, sobre matar alguém? Matar é fácil. Sobretudo quando temos de matar aqueles que violaram mulheres e crianças. E ainda é mais fácil matar aqueles que matam muçulmanos porque eles querem obedecer a Alá.

 Porquê? O Islão não é uma religião de paz? Maomé (SAW) disse: “Eu sou o profeta da misericórdia e sou o profeta da guerra!” É uma religião de paz depois de as pessoas viverem sob os mandamentos de Alá. Antes não porque os descrentes são pessoas que oprimem, roubam, mentem, enganam, cometem adultério, matam, destroem, jogam, bebem, fumam e publicam imoralidades como pornografia e homossexualidade. Eles são os culpados deste mundo estar em constante guerra.

 Então seria capaz de matar a sua família se ela se recusasse a viver sob os mandamentos de Alá? Sou capaz de matar qualquer um que lute contra o Islão. Se eles não quiserem aceitar o Islão, não há problema. É entre eles e Alá. Mas se alguém levantar a espada contra Alá, o seu mensageiro e o seu deen [modo de vida], é permitido tirar o sangue a essa pessoa. Não se pode matar alguém que não aceite o Islão. Só aqueles que pegam em armas contra ele. É por isso que temos cristãos a viver entre nós, dentro do califado. Pagam impostos e nós protegemo-los, às suas propriedades e à sua honra.

 Está pronto para morrer em nome de um Deus?

Sim, in shaa Allah. Todos os dias da minha vida. Mais notícias: os talibãs declararam-nos a sua fidelidade, Alhamdulillaj. O mundo está a mudar, sr. Pinto. Uma nova era está prestes a começar, In shaa Allah.

 Conhece os dois mundos, ocidental e muçulmano. Acredita mesmo que esse é melhor? Muito melhor. Vivemos como os muçulmanos devem viver. Temos a nossa honra de volta.

 Portanto, é melhor viver na pobreza, sem escolas e num mundo onde as mulheres são oprimidas? Não. Essas coisas não existem mais aqui. Como disse, somos um Estado Islâmico. A Síria e o Iraque já não existem. Damos às pessoas salários e educação, comida e caridade e as mulheres já não são oprimidas no khilafa [califado], onde os mujahedin têm o controlo.

 As mulheres podem andar sem burca? Elas estão contentes por se cobrirem. Porque antes, durante o regime, isso não lhes era permitido.

 Que educação é que dão? Principalmente islâmica. Também há educação normal, mas disciplinas como a filosofia foram banidas porque ensinam kuffr [a recusa em aceitar a autoridade de Alá] e levam a desacreditar da unicidade de Alá. Sr. Pinto, posso convidá-lo?

 Convidar-me? Para vir ao EI, fazer a reportagem da sua vida. E contar ao mundo a verdade sobre os soldados do EI.

 O histórico da relação entre o EI e os jornalistas ocidentais não dá margem para muita confiança. Sim, lol. Mas se houver um acordo entre nós teria a minha proteção. Al mu’min la ya qadeeb, “o crente não é um mentiroso”. Eu não mentiria. De qualquer forma, é só uma sugestão. Beneficiaria os dois lados. Mas percebo que mantenha as defesas levantadas.

 Não é fácil ignorar a decapitação dos jornalistas. Só houve um jornalista, que fez um vídeo a contar a verdade. E esse está vivo. Os outros não eram jornalistas.

 Está a falar do repórter da revista Vice [Medyan Dairieh, que esteve três semanas no interior do EI]? Sim.

 O repórter é árabe, não é ocidental. Continua vivo. Pense no que lhe ofereci. In shaa Allah.

Teria autoridade para garantir a protecção a um jornalista estrangeiro? Sim. Era só falar com os líderes.

 Presumo que não tenha acesso a Abu Bakr al-Baghdadi. Não era preciso. Posso obter permissão de outros, ao nível regional.

 Como é que estão organizados? Apenas… muito organizados.

Têm batalhões, como num exército normal? Sim, pode pôr a questão dessa maneira.

 Qual é a sua função? No início era um soldado normal. Agora sou um “treinador” militar. Todos os irmãos que não tiveram formação têm de passar por mim.

Quantos recrutas já treinou? Mais de mil.

 Em quanto tempo? Menos de três meses. Algum português? Não.

 Porque se tornou “treinador”? Distinguiu-se? …sou tímido para responder a isso. Digamos apenas que sei como dar treino. Mas em breve vou fazer outra coisa.

 O quê? Isso é confidencial.

 É uma promoção?  Hmmm, não. Tenho apenas boa pontaria. Quão boa? Não me quero gabar. Mas muito boa.  Acerta numa lata a quantos metros? Uma lata é fácil. Talvez uns 400m. Estou a olhar lá para fora e a imaginar. Sim, 600 m é demasiado.

Pensa voltar a Portugal? Sim, se viver até esse dia, In shaa allah. Reabrir o Al Andalus [nome dado à Península Ibérica pelos conquistadores muçulmanos do século VIII], devolver a honra ao seu solo, que está a ser destruída por Cavaco Silva. Agora tenho que ir embora. A terceira mulher cozinhou para mim.

 A Ângela? Sim. Ela cozinha muito bem, MashaAllah [expressão de apreço, que significa “como Deus quis”]. Honestamente, sinto a falta da cozinha portuguesa. Tenho que ir. Falamos amanhã, se Deus quiser. Adeus sr. Pinto.

 Ontem estava a falar sobre Portugal. Segue a atualidade portuguesa?

Nem por isso. A Umm conta-me as notícias sobre nós. Para ser honesto, só me interessam as notícias desta guerra.

 O que acha daquilo que ela lhe tem dito? Acho engraçado, mas um pouco patético para ser sincero. Estão a fazer com que pareçamos más pessoas, quando nós deixamos as nossas famílias, amigos, casas e possessões para vir ajudar os oprimidos. E agora estamos a ser descritos como maus, sanguinários e terroristas.

 Então porque decidiu responder às minhas questões? Confio em Alá. Pode ser que através de si a verdade seja dita. Alá sabe o que é melhor.

 https://sociedademilitar.com.br

Com informações de sábado.pt e https://pamelageller.com . A entrevista foi publicada inicialmente aqui: https://www.sabado.pt/mundo/detalhe/fabio_pocas_mato_qualquer_um_que_lute_contra_o_islao.html

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Sociedade Militar