Reajuste dos MILITARES. Questões – reflexões – ilusões e desilusões.

Reajuste dos MILITARES.

Nos últimos meses coisas nunca antes vistas aconteceram. Mas, os militares permanecem ainda como a categoria mais prejudicada pela inflação.

A última grande manifestação da Família Militar ocorreu em Copacabana, em 2012. Depois disso a maioria das movimentações foram ações isoladas.

Em 2013 o sargento Feliciano, um militar do Exército Brasileiro, tentou chamar a atenção do país para a penúria salarial dos militares. Em ação inusitada o militar tentou descer de Rapel o Vão Central da Ponte Rio Niterói. Quando estava no meio da manobra sentiu que estava sendo puxado pra cima, eram policiais rodoviários que haviam chegado ao local. A manobra rendeu para o sargento alguns dias de prisão.

Outras coisas inusitadas aconteceram. Faixas pedindo reajuste para os militares “apareceram” em vários locais do país. Uma delas pendurada nas torres do famoso Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Mas, a mídia não mostrou nenhuma delas.

Ainda em 2013 um grande abaixo assinado virtual organizado por militares extrapolou todas as expectativas do Senado e alcançou mais de 300 mil adesões. A instituição retirou o manifesto do “ar” e não deu maiores explicações dobre as providencias tomadas.

Por essa época, pelo intenso esforço, a família militar conseguiu até uma pequenina atenção da mídia. Mas isso não durou muito. Sem associações ou políticos fortes não há como sustentar o ativismo político.

Depois disso os movimentos saíram das ruas e começaram a acontecer dentro do Congresso, quando membros da família militar, como Genivaldo, Kelma Costa e Ivone Luzardo, conseguiram convencer parlamentares a convocar o Ministro da Defesa e funcionários da pasta para dar explicações sobre a questão salarial e carreiras dos militares.

Um último “suspiro” de movimentação aconteceu ha poucas semanas, quando o deputado Daciolo reuniu algumas centenas de militares em frente ao Congresso Nacional. Era um dia meio confuso, com manifestações de outras categorias, mais barulhentas. Mas, ainda assim, o movimento assustou os Comandos Militares, que logo publicaram notas advertindo sobre indisciplina e coisas do tipo. Afinal, Daciolo, líder do maior movimento associativista de militares ocorrido no Rio de Janeiro, não é a companhia que os generais desejam para seus soldados.

As redes de TV não noticiaram nada e nada aconteceu. Só algumas promessas, de políticos como Capitão Augusto, Gonzaga e outros.

Depois disso mais nada significativo. 

Em países como a Venezuela os governantes tem realmente comprado o apoio dos militares. Incentivos para aquisição de moradia, aumentos seguidos de salário e mudanças nos planos de carreira fizeram com que, aos poucos, os soldados venezuelanos, com raras exceções, se tornassem receptivos ao Chavismo.

Ha poucos meses conversamos com um militar venezuelano que esteve em um quartel do Rio de Janeiro. Pelo que disse, grande parte dos soldados já vê Chaves como um grande referencial, e defenderão o chavismo com todas as suas forças.

Em outubro passado Nicolás Maduro concedeu um reajuste de 45% nos salários dos Militares da Venezuela. Algumas bases de lá possuem mercados fartos, com produtos e carne subsidiada pelo governo. Os soldados têm até direito a empréstimos com juros abaixo do praticado pelo mercado, proporcionados pelo BANFAB (Banco das Forças Armadas Bolivarianas).

Os militares brasileiros vivem uma situação bastante diferente de seus colegas venezuelanos. Aqui sobrevive-se sob o jugo de uma comandante – em – chefe que os têm como “torturadores” e inimigos ideológicos. Contudo, ainda assim, os militares brasileiros não dão nenhuma mostra de que vão amolecer o discurso de oposição contra a esquerda.

Questões importantes.

No Brasil a inflação corroeu rapidamente a pequena fração de poder aquisitivo recuperado pelo reajuste particionado para os militares.

É notório que poucas categorias profissionais ocupam tantas posições próximas ao primeiro escalão. Militares prestam serviço como escolta, seguranças, ajudantes-de-ordens, motoristas etc.

Alguns dizem que estes, por receber percentuais diferenciados que engordam seus salários, em  virtude de ocuparem cargos de confiança, devem mesmo ser estritamente profissionais, deixando de transmitir a seus chefes a insatisfação da tropa em relação à remuneração.

Não deveria ser o contrário? Não deveriam aproveitar essa proximidade para transmitir o problema e convencer aqueles que estão em posições de liderança de que é necessário corrigir com percentuais justos as perdas de todos os militares das Forças Armadas?

Lembramos que em 2008 o Presidente da República recebia R$ 11,4 mil. Agora, depois do último reajuste, recebe mais de 30 mil reais. Portanto, em seis anos teve o salário acrescido em quase 200%. Será que a inflação é maior para a presidente Dilma do que para os militares das Forças Armadas? 

Não queremos crer que a existência de gratificações especiais acabam servindo às lideranças como uma espécie de blindagem, que não deixa chegar até estes o lamento e insatisfação da tropa.

Os antigos comandantes, que já estavam mais que calejados no comando de suas respectivas forças, aparentemente não ousaram exigir da Presidente da República que desse aos militares o reconhecimento que merecem.

Há de se avaliar se não deveriam ter, em conjunto, dito algo como: — Ou a tropa recebe um reajuste justo ou renunciamos aos nossos cargos.

Pode-se esperar que os novos comandantes, recém-empossados, façam isso? Nada indica que sim. 

Não é admissível que se veja como necessário o surgimento de um batalhão de esposas de militares, aos moldes de Ivone Luzardo, Kelma Costa e Miriam Stein. Estas, ainda que, inexplicavelmente não reconhecidas pela categoria nas eleições passadas, têm se exposto e desgastado publicamente em sua luta por melhores condições para a família militar, que também é sua família.

Isso deveria ser visto com embaraço por aqueles que estão em posições de comando e que, talvez entorpecidos pelas muitas regalias, parecem não mais conseguir diferenciar hierarquia e disciplina de subserviência e humilhação.

Nas eleições passadas a família militar teve dezenas de candidatos a cargos no legislativo, federal e estadual. Ninguém foi eleito. Bolsonaro permaneceu. 2016 é o início de novas oportunidades, que eleja-se vereadores, e que estes sejam os pilares para que os militares tenham deputados federais em 2018. Agindo com estratégia há possibilidade de se mudar as coisas.

Robson A.D.Silva – Revista Sociedade Militar.

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Sociedade Militar