Sargento do Exército desafia COMANDANTE em CHEFE e de forma espetacular pede reajuste para os MILITARES. ( Série Melhores artigos)

Entrevista com o Sargento Vinícius Feliciano. O “cara da Ponte”.

“Esse replay vem em um momento oportuno e complicado para os militares. Após anos de inflação acentuada, em especial o ano de 2015 onde o índice foi maior do que 11%, o governo federal faz o contrário do que fala e sela a DESVALORIZAÇÃO da carreira MILITAR concedendo um “reajuste” de 5%, que não repõe nem 50% das perdas do último ano, e ainda a ser pago apenas em agosto de 2016.”

Espetacular. Em mais um artigo da serie “melhores artigos”, veremos a história do jovem SARGENTO que, se manifestando de forma ESPETACULAR e contra o governo IDEOLÓGICO do PT, ousou desafiar a Comandante – em – chefe DILMA Roussef. O Militar que é historiador e tem várias especializações na área de economia e investimentos acabou chamando a atenção da sociedade carioca pela coragem e posicionamentos inteligentes em relação à política e economia. 

Uma ponte para um futuro melhor.     

   Nos últimos anos ocorreram alguns movimentos interessantes em busca da valorização da profissão militar, entre eles citamos a passeata em Copacabana que conseguiu chamar a atenção reunindo algumas centenas de pessoas na orla da praia mais famosa do Brasil, e a Marcha Virtual dos militares, que conseguiu reunir, num gigantesco abaixo-assinado, mais de 300 mil signatários pedindo um reajuste digno para os militares, Porém, em se tratando de determinação e coragem, talvez nenhum desses movimentos sequer passe perto da sensacional manifestação individual do sargento Vinícius Feliciano, que desceu de rapel da ponte Rio x Niterói no dia 27 de agosto desse ano, exibindo uma faixa e buscando com isso chamar a atenção para a situação salarial dos militares das forças armadas. Por sua ação a revista Sociedade Militar escolheu Vinícius Feliciano como o entrevistado do mês.

    Entrevistado em sua residência pela Revista Sociedade Militar, Vinícius Feliciano se mostra um homem bastante racional, bem informado e ciente de suas responsabilidades como cidadão. Após ter descido de rapel na ponte ele foi preso pela polícia rodoviária federal, e sua fotografia, fardado e usando algemas, apareceu em vários jornais do país. O uso das algemas deixou muita gente indignada, e isso foi bastante explorado pela mídia. Já a faixa que exibiu em sua manifestação não foi tão mencionada. Contudo, apesar da ação incrível que realizou, ele insiste em dizer que se considera um homem comum. Como todos os seus colegas de farda o sargento cumpre as suas obrigações para com o Exército, mas não abre mão do direito de se informar, e de ter uma opinião própria.

     Ele acha que não só os militares, mas toda a sociedade tem o dever de prestar atenção ao que ocorre no país. Por esse motivo, política, economia e geopolítica são assuntos que ocupam bastante espaço em sua mente.

   Como a maioria dos militares das grandes cidades, o jovem sargento reside bem longe do quartel. Trabalha na Urca e mora na região oceânica de Niterói. Usa diversas conduções e gasta várias horas no trajeto casa x trabalho x casa. Mas ainda assim, sempre otimista, se considera um privilegiado pelo que já conquistou. Família, amigos e a região onde reside, uma das mais agradáveis do Rio de Janeiro, repleta de jovens com o seu perfil, lhe dão oportunidade de levar uma vida prazerosa, e o incentivam a acreditar em um futuro melhor para o Brasil.

   Com apenas 29 anos, Feliciano já é um historiador. Além da graduação em história, ele concluiu cursos sobre administração financeira, assessoria em investimentos etc. É um representante clássico do fenômeno conhecido como intelectualização dos militares subalternos (Livro Militares pela cidadania *). Os militares de sua geração já vieram politizados de casa, cresceram num mundo onde já existia a internet, redes sociais, o direito de escolher seus próprios representantes e de cobrar dos mesmos a honestidade e o cumprimento de seus compromissos de campanha.  

    A conversa com Feliciano reforça nossa convicção de que as forças armadas passam por um período de transição, e fez-nos ver que a juventude que agora ocupa os mais diversos postos e graduações nessas instituições tem uma mente diferente, raciocinam e interagem na velocidade dos processadores de última geração, e já são a causa de muita coisa ter mudado para melhor.

   Para Feliciano os dias de hoje oferecem uma oportunidade ímpar para pessoas comuns operarem mudanças de grande impacto em seus campos de atuação.

Você gosta do Exército?  Vinícius Feliciano: Sim, gosto do Exército tanto quanto gosto de desafios, lutas e aventuras.

A manifestação que você fez gerou algum fruto positivo? 

Vinícius Feliciano: A meu ver serviu para relembrar e reafirmar às autoridades a insatisfação com nossa remuneração. Antes da água ferver pequenas bolhas começam a subir, o que fiz foi apenas uma pequena bolha numa água muito quente.

 

De onde vem motivação para tanta fé de que pode ajudar a mudar para melhor o futuro?

Sargento Vinícius Feliciano: Eu me formei em História e quando estudamos história aprendemos que no passado pessoas comuns foram responsáveis por grandes mudanças. Isso nos dá a fé e a motivação para a luta.  O que fiz foi como lançar um fósforo num palheiro.  Guerreiros de verdade não entram somente em combates vencidos, guerreiros de verdade se envolvem em lutas com grades chances de resultados negativos, mas a fé no positivo os impulsiona.

 Pra essa pergunta eu tenho uma frase de Gandhi: “Você nunca saberá que resultados virão de sua ação. Mas se não fizer nada, não existirão resultados.”

Conversamos um pouco com Feliciano sobre representação política dos militares e as mudanças propostas pela nova Estratégia nacional de defesa.

Revista Sociedade Militar: As forças armadas, conhecidas como as instituições mais confiáveis do nosso país – e também as mais tradicionais – parecem ter mantido a maior parte de suas rotinas e tradições seculares quase intocadas. Mas, o que têm de mais importante, seu material humano, obviamente não permaneceu estacionado no tempo. Regulamentos rigorosos e leis quase sempre por ser adaptadas ao contexto atual não conseguiram impedir a grande mudança operada na mentalidade dos graduados, e a politização foi inevitável. Politização não significa exatamente ser filiado a um partido político, ou participar de manifestações de rua. Ser politizado é muito mais do que isso, significa estar atento e pronto para intervir de forma sensata no quotidiano.  Como se sabe, militares da ativa, por não serem obrigados a cumprir o requisito de filiação partidária, tem um prazo um pouco maior para se candidatar. Perguntamos então se a notoriedade que alcançou fez surgiu alguma pretensão política. Vinícius respondeu com humildade, disse que a partir do acontecimento na Ponte tem conhecido muita gente, aprendido muito com essas pessoas, e que está aguardando mais um pouco para decidir sobre isso.

Sobre Bolsonaro: “por mais que ele faça coisas boas e que às vezes cometa algum erro, como qualquer ser humano, uma coisa é certa, sozinho a luta deve ser difícil”.

Revista Sociedade Militar. As forças armadas têm um grande efetivo em atividade, e muito mais na reserva, somem-se aí seus dependentes e círculos de influência. Supõe-se que isso seria suficiente para que os militares possuam vários representantes no legislativo federal.Posto isso, você acha que os militares são bem representados na política? 

Sargento Vinícius Feliciano: O expediente é longo, a viagem para casa também é, e depois de tudo temos que dar atenção à família. Mas como quem está com fome sempre dá um jeito de comer, eu estudo e leio tudo que posso, mas acabo “filtrando” pouca coisa da política brasileira (no que diz respeito aos militares). Com isso não tenho conhecimento de algum militar ocupando cargo de deputado federal, senador, governador de estado ou outro cargo de relevância nacional, exceto o Deputado Federal Jair Bolsonaro. Sobre ele ouço tudo. Que perdeu o foco e só sabe falar de Homossexuais, que bate em comunistas etc. Mas também já vi vários vídeos onde ele se posiciona muito bem e demonstra muita coragem.

Fomos formados na Escola de Educação Física do Exército, de lá sai gente muito boa!

Enfim, por mais que ele faça coisas boas e que às vezes cometa algum erro, como qualquer ser humano, uma coisa é certa, sozinho a luta deve ser difícil.

Revista Sociedade Militar: A estratégia nacional de defesa, recém aprovada (2008), propõe uma nova orientação para a Defesa Nacional, e essa nova orientação parece implicar em grandes mudanças estruturais em vários níveis, inclusive na cultura organizacional das Forças Armadas, e logicamente, no perfil dos militares. Nessa questão, uma das propostas que nos chama mais atenção é o incentivo para que as capacidades dos militares graduados sejam cada vez mais valorizadas, inclusive com a recomendação para incentivar o subordinado a exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas (*).  Isso tudo, no nosso ponto de vista, valoriza bastante os graduados e seria uma significativa mudança cultural. O militar subalterno agora, além de saber cumprir ordens, deve ser incentivado a tomar a iniciativa.

O que você acha dessa proposta da Estratégia Nacional de Defesa?

Vinícius Feliciano: A valorização das praças é ótima! Ótima na teoria, mas na pratica a maioria dos companheiros está mais interessada no próximo edital para o concurso da policia federal. Isso é como oferecer uma boa cama a um mendigo faminto. Ele quer saber de comida, a cama é secundária. A valorização das praças é uma conseqüência natural do crescimento intelectual da classe. Essa valorização aconteceria mesmo sem ser incentivada na estratégia nacional de defesa.

A valorização é importante e muito bem vinda, mas não é com ela que sustentamos nossas famílias.

A resposta de Feliciano certamente é embasada no que vê no dia-a-dia. Muitos jovens militares fazendo seu trabalho com presteza, realizando atividades peculiares e muitas vezes arriscadas. Porém, com a mente focada em passar em algum concurso público e em seguida deixar as forças armadas. Por isso ele acredita que a questão salarial é sim primordial. Cada militar possui família e inúmeras necessidades. Ele nos disse que já testemunhou muitos colegas abandonarem o Exército depois de aprovados em concursos públicos. “Alguns ex-sargentos hoje recebem mais de 10 mil reais”, realizando na vida civil tarefas muito tranqüilas e que nunca oferecerão riscos à sua integridade física. Contudo, apesar de ser bem preparado intelectualmente e de presenciar tudo isso no seu quotidiano, Feliciano nos surpreende, e diz que não pretende sair do Exército Brasileiro.

Pra terminar. O que você espera do futuro?  

Vinícius Feliciano: Não espero um bom salário, espero um salário justo. Esta é minha luta. Espero alcançar esse objetivo num futuro breve. Mas estou preparado para uma guerra longa. Preparado para lutar sozinho. Com esperança de encontrar outros guerreiros pelo caminho. Já encontrei alguns guerreiros cansados. Eu não estou cansado. Estou apenas começando!

Obs: Poucos meses após essa entrevista o sargento FELICIANO atravessou trecho da Bahia de Guanabara com as mãos algemadas e usando uma sunga com o número R$ 0,16 que, por coincidência, é o valor do salário família pago aos militares das Forças Armadas (Veja aqui).

“Você nunca saberá que resultados virão de sua ação. Mas se não fizer nada, não existirão resultados.”, Vinicius Feliciano – sargento do Exército brasileiro, historiador.

De: Robson A.DSilva

Veja também: “UBUNTU” MILITAR: UM GRANDE “PACTO DE UNIÃO” CASTRENSE !!!

(*) Livro Militares pela Cidadania. “A intelectualização dos militares subalternos além de trazer benefícios à administração das Forças Armadas, agilizando a resolução dos problemas burocrático-administrativos, trouxe consigo uma mudança na mentalidade em relação à compreensão do quotidiano dos quartéis. Ações ilícitas por parte de colegas de farda – superiores ou subordinados – e/ou situações como abuso de autoridade e excesso de rigor em punições disciplinares são agora vistas por um novo prisma.”

(*) “O texto da END diz: “… treinado para abordar o combate de modo a atenuar as formas rígidas e tradicionais de comando e controle, em prol da flexibilidade, da adaptabilidade, da audácia e da surpresa no campo de batalha. Esse combatente será, ao mesmo tempo, um comandado que sabe obedecer, exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas e orientar-se em meio às incertezas e aos sobressaltos do combate – e uma fonte de iniciativas – capaz de adaptar suas ordens à realidade da situação mutável em que se encontra.”

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Sociedade Militar