“Lone survivor”. O militar em ação tem que DECIDIR rapidamente. As conseqüências de sua decisão podem ser um peso extra que terá de carregar por toda a sua vida.

19 soldados mortos, um soldado mutilado e uma grande missão fracassada. O voto de Luttrell. 

Revista Sociedade Militar


Suboficial Luttrell (direita)

Há aproximadamente 10 anos, numa montanha do Afeganistão, quatro seals, armados com fuzis M4 e uma carabina de precisão, sob o comando do tenente Michael Murphy, observavam um aglomerado de construções nas proximidades do Paquistão, na encosta de uma montanha chamada Sawtalo Sar.

A missão era, a princípio, eliminar o líder talibã Ahmad Shah, ligado à Osama Bin Laden. A inteligência informou que o alvo comandava uma centena de guerrilheiros e que possuíam armas como Ak47, RPKs, lanças granadas e munição para um combate de duração média. Assim que os SEALS se posicionaram para iniciar a ação, 3 pastores afegãos — entre eles um menino de 14 anos de idade —se posicionaram, inadvertidamente, entre eles e os talibãs. Rapidamente os SEALS prenderam os pastores, que estavam desarmados. Mas, a equipe não possuía equipamento para imobilizá-los completamente com garantia de que se manteriam em silêncio e muito menos poderiam prescindir de um homem, deixando-o de guarda dos prisioneiros.

Um SEAL sugeriu que eles deveriam ser mortos, afinal tinham recebido uma missão e deveriam cumpri-la. Se os prisioneiros fossem soltos poderiam revelar sua posição, frustrando a missão e, possivelmente, ocasionando a morte ou prisão de toda a equipe. O segundo SEAL sugeriu a liberação dos pastores. O terceiro SEAL absteve-se de votar. Por isso o desempate coube a Luttrell, o mais experiente.

O suboficial optou por deixar os prisioneiros partir, alegando tratar-se de civis inocentes e sem qualquer ligação com os talibãns.

Cerca de uma hora depois, os quatro soldados se viram cercados por várias dezenas de talibãs armados principalmente com granadas e fuzis AK. Três SEALS morreram e Luttrell escapou gravemente ferido. Ele rolou por uma encosta e, paralisado da cintura para baixo, se arrastou por mais de 1 km. A ação frustrada ocasionou ainda a perda de um helicóptero de resgate e morte de outros 16 soldados americanos.


Consequências


A decisão equivocada  gerou 19 soldados mortos, um soldado mutilado e uma grande missão fracassada.

O suboficial LUTRELL, condecorado pela Marinha americana, se culpa pelo fracasso da missão. Ele deu depoimentos longos e detalhados que resultaram em um livro, que depois se transformou em um filme. Nos EUA “Lone Survivor!”  No Brasil o filme se chama “O grande Herói”.

O dilema vivido pelos SEALS na operação Red Wings, ainda antes do filme ser lançado se tornou objeto de discussões acaloradas dentro de unidades militares de todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. Obviamente, entre militares não se procura culpados. Apenas se tenta obter aprendizados em cima da situação ocorrida.


Discussão


Agora com um olhar mais profundo, crítico. Lembrando que a decisão “in loco” é muito diferente da que você toma “a distância”. 

Lembrando também que os pastores e a  criança aprisionada, talvez da idade de seu filho, olhavam nos olhos dos soldados e suplicavam por permanecer com vida, veja alguns comentários e questões colocadas por amigos e colaboradores da Revista Sociedade Militar.

– Seria ético matar os civis em nome da segurança da equipe e sucesso da missão? Pelas normas de conduta para as Forças Armadas americanas e demais normas internacionais isso seria crime.

– Se a imprensa ficasse sabendo, o que cedo ou tarde ocorreria, os militares seriam execrados. A vida ou morte de civis pode ser decidida por um voto de soldados? Perguntariam nas páginas do NYT. por outro lado, quando ha comoção nacional, a morte de civis não é contada como tão importante, como ocorreu na operação contra Bin Laden.

– Sabe-se que uma operação conduzida por forças especiais contradiz a doutrina militar convencional, pois prescreve o emprego de uma força de pequeno efetivo para derrotar ou causar danos em um adversário bem mais numeroso ou estacionado em locais fortificados. Por conta disso, seria justo acreditar que militares empregados nesse tipo de ação deveriam ser sujeitos a normas também especiais, adequadas à situação e ao nível de tensão a que são submetidos?

– O Militar que se absteve de votar jogou um peso enorme nas costas do suboficial, que votaria por último. Isso foi justo, ético?

– Ao final, Lutrell foi salvo por um pastor, que arriscou sua vida por um desconhecido, não é irônico?

Na sua opinião, sabendo que a gama de variáveis é imensa, o que poderia ser feito para evitar o fracasso em missões semelhantes?

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Sociedade Militar