Terrorismo, inteligência, contrainteligência

Terrorismo. Questão colocada por leitor: Há risco para aviões que aterrissam no Rio e São Paulo para os grandes eventos? Em segurança não pode haver TABUS, todos os assuntos precisam ser abordados

“Não é sério querer discutir e combater o terrorismo internacional sem discutir seriamente e sem tabus” Santos Silva, Ministro dos Neg. Estrangeiros de Portugal.

Recebemos de leitor questionamentos sobre a segurança para as olimpíadas no que diz respeito a suposto risco que correm os aviões comerciais que sobrevoam comunidades cariocas. Vamos então discutir esse assunto. Suas colocações nos campos de comentários serão sempre bem vindas.

Revista Sociedade Militar (Artigo de assinante, disponibilizado em primeira mão para leitores cadastrados)

Recentemente um amigo veio nos visitar no Rio, expliquei detalhadamente o caminho. Mas, em certo momento do trajeto o mesmo resolveu seguir o GPS do carro. Depois de algum tempo telefonou dizendo que estava em um lugar “esquisito”. É um local onde diversas pessoas já foram assassinadas, completamente dominado pelo tráfico. Para felicidade nossa conseguimos retirá-lo de lá. O risco acentuava-se ainda mais pelo fato dele ser militar.

Introdução

Há apenas algumas semanas recebemos informação que em evento ligado a segurança um juiz declarou que  sugeriu à administração pública que nas proximidades de algumas comunidades cariocas deveria-se instalar placas de “não vire à direita, risco de morte”, “Atenção, não entre na próxima rua” etc. O magistrado disse que não consideraram sua sugestão como politicamente correta. O que indica que nem sempre as autoridades estão interessadas na segurança da sociedade. Aparentemente preservar a áurea de segurança e pacificação é mais importante que salvar a vida de alguém que inadvertidamente, por engano ou seguindo o GPS, entre em alguma comunidade dominada pelo crime.

Munição apreendida em São Paulo.

Terrorismo, tráfico e aeronaves comerciais.

Nessa terça-feira (10/05/2016) a polícia militar de São Paulo apreendeu várias armas, entre elas uma Barret calibre .50. Objeto de desejo de quem pratica tiro a longa distância, a moderna arma é capaz de atingir alvos com precisão a distâncias de quase 2 quilômetros. No Rio de Janeiro uma arma similar foi apreendida em agosto de 2015 pela polícia militar. Outras ponto 50 foram apreendidas em anos anteriores.

Entre os objetos apreendidos pela PMESP essa semana conta-se também uma quantidade assustadora de munição.

Talvez a sociedade civil não tenha noção exata do que é um calibre .50. Em um ser humano o prejuízo causado por uma arma desse calibre é devastador. Uma parede de alvenaria não protege contra um tiro de calibre .50. Uma chapa de aço pode também ser perfurada e há ainda as munições incendiárias, perfurantes etc. Que ampliam mais ainda o poder de destruição do equipamento.

No Rio e São Paulo infelizmente se tornou comum encontrar fuzis 7.62 nas mãos de adolescentes inimputáveis ligados ao tráfico de drogas. Um FAL 7.62 é capaz de acertar alvos do tamanho de um ser humano com precisão a distâncias de 800 metros ou mais, dependendo da capacidade do atirador.  Um Ak47 também tem um alcance razoável, embora menor. Ressalta-se que o projétil, obviamente sem a precisão desejada, chega a distância muito maiores, dependendo das condições meteorológicas, o que chamamos de alcance máximo.

Para cada fuzil 7.62, seja FAL ou Ak47, existe vários que ainda não foram apreendidos ou chegando às favelas do Rio e São Paulo.

Pergunta-se quantos fuzis .50 estão ainda nas mãos dos traficantes? Conversamos com um perito em armas que trabalha na segurança pública do Rio de Janeiro, o mesmo revelou à Revista Sociedade Militar que já foi constatado que muitas armas vêm por atacado, em carregamentos enormes e muitas vezes desmontadas.

À questão da criminalidade local soma-se o risco de atentado terrorista. É inegável que há facilidade para se adquirir armas no Rio e São Paulo, é notório que se já havia facilidade de ingressar em território nacional, as novas regras que flexibilizam a exigência de vistos de entrada facilitam mais ainda a entrada de maus elementos no país.

Dados

As normas da ANAC determinam que as aeronaves sobrevoem áreas povoadas sempre a mais de 1.500 pés, cerca de 450 metros.

Helicópteros e vôos comerciais trafegam rotineiramente por sobre favelas das cidades do Rio e São Paulo. Ao aterrissar no aeroporto Galeão, aeronaves trafegam sobre vários bairros de Duque de Caxias a alturas que supostamente as tornaria alvos potenciais para pessoas mal intencionadas com armas de grande porte a disposição. Alguns aviões que aterrissam no Aeroporto Santos Dumont também sobrevoam a baixa altitude algumas comunidades cariocas.

Um terrorista não precisa derrubar um avião para alcançar seu objetivos. Sabemos que seu objetivo é espalhar o terror, e basta que um tiro provoque um pouso de emergência para que o pânico se espalhe e país provavelmente seja desautorizado instantaneamente no que diz respeito à receber vôos internacionais.

Militares trabalham com alguns tipos de definição de alcance no que diz respeito à armamento. Dois deles: o alcance efetivo, que diz mais respeito á cálculos operacionais, planejamento de missões etc. E o alcance máximo, que também diz respeito a prevenção de acidentes etc.

Fuzil Automático Leve, o FAL, tem alcance efetivo de cerca de 800 metros, mas não pode-se ignorar seu alcance máximo, que segundo alguns especialistas pode ultrapassar 3.000 metros. 

Barret M82 calíbre .50 – Alcance efetivo de cerca de 2 km e alcance máximo de até 6.8 km. O calibre .50 foi criado com o intuito de abater aeronaves com uma metralhadora Browning. É um calibre com alto poder de penetração em material resistentes. 

Polêmicas

Ha poucos anos nos Estados Unidos foi criada enorme polêmica em torno de declarações de Jesse Jackson sobre a possibilidade de “rifles de assalto” possuírem a capacidade de derrubar aeronaves. Muitos especialistas contestaram a afirmativa. Mas, diversos militares concordam que ha certo risco, embora seja irrisório. Lembramos aqui que rifles de assalto normalmente têm calibres entre 7.62 e 5.56.

Na segunda guerra mundial militares russos foram incentivados a atirar contra aeronaves inimigas. Veja a imagem.

Imagem de https://www.ww2incolor.com/soviet-union/7.html

Sobre a questão colocada por Jesse Jackson, Dan Rosenthal, ex-oficial de infantaria (Infantry/Reconnaissance, Surveillance, Target Acquisition team) norte-americano diz:

“Highly unlikely, but possible. The most likely way would have to be an incredibly lucky shot while on final approach, or during the takeoff roll, that critically damages one of the engines at such a time that the loss of power cannot be corrected fast enough to stop a crash.”

Tradução livre, de Revista Sociedade Militar: “Altamente improvável, mas possível. Teria que ser um tiro de sorte, na aproximação final ou na corrida para a decolagem, que causasse danos críticos ao motor que não pudessem ser corrigidos com rapidez suficiente para evitar um acidente.”

Ao lado imagem de asa de aeronave alvejada por militares brasileiros. Mesmo atingido o monomotor não foi abatido.

Em 2011 tripulantes de um jato comercial detectaram um furo na fuselagem, o FBI declarou que se trata de um tiro, mas até hoje não ha explicações sobre o fato. Especialistas dizem que a aeronave foi alvejada taxiando na pista ou quando estava em baixa altitude.

Também nos EUA, em discussões sobre proteção contra terrorismo, o então comissário de polícia Ray Kelly declarou que a polícia de Nova York possui capacidade para abater aviões de grande porte, como os que protagonizaram o atentado contra o WTC. Algumas pessoas levantaram a hipótese de que a já conhecida Barret .50 montada no helicóptero da polícia não teria a capacidade de realizar a tarefa. O prefeito não discutiu pormenorizadamente a questão e disse apenas que as pessoas não imaginam o poder que possui a polícia de Nova York.

Sim, é verdade que é extremamente difícil alvejar com um fuzil um alvo que trafega em alta velocidade. Entende-se que por isso os fuzis não estão entre as armas consideradas como anti-aéreas, mesmo por terroristas. Mas, pelo que vimos nessa discussão, não é impossível que danos sejam causados à fuselagem, mangueiras de combustível e até turbinas, principalmente no momento de aproximação para aterrissagem ou antes da decolagem. 

Concluindo

Mesmo diante do risco mínimo no que diz respeito a possibilidade de que uma aeronave comercial seja alvejada, é preciso que as autoridades políticas proporcionem condições para que as forças de segurança façam um “pente fino” para apreender armas e munição e aumentar a sensação de segurança da sociedade.

Atiradores com armas dos tipos acima mencionados podem alvejar indivíduos em diversos locais da cidade, principalmente em aglomerações. É intolerável que dentro das comunidades cariocas existam equipamentos com tal poder de letalidade. É intolerável que existam nas grandes cidades do Brasil zonas onde pessoas honestas não podem transitar livremente.

Revista Sociedade Militar

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