Forças Armadas

“O Globo” e os FORTES do Rio de Janeiro

“O Globo” e os fortes do Rio de Janeiro

O GLOBO não publica, a Revista Sociedade Militar publica.

No último dia 26 o jornal “O Globo” publicou a seguinte carta de um leitor:

O abuso de autoridade da Marinha, cercando parte da orla olímpica – só no Brasil – faz-nos pensar para que servem hoje, do ponto de vista militar, os fortes de Copacabana, Leme e Urca. Afinal, piratas franceses e holandeses há muito abandonaram as nossas praias. Transformados em parques públicos, eles melhor atenderiam à população e aos turistas, inclusive franceses e holandeses.
O. J. – Rio

Procurando passar ao largo de polêmica sobre imprecisões históricas da carta e, antecipadamente, sabendo da mínima possibilidade do jornal publicar minha resposta, enviei o seguinte texto:

“Tomo a liberdade de prestar um esclarecimento ao Sr O. J. que ontem, 26 de dezembro, sugeriu a transformação dos fortes de Copacabana, Leme e Urca em parques públicos, já que, em suas palavras, não existe mais perigo de invasões francesas e holandesas.

Sr. O., a denominação de forte tem conotação histórica e não mais bélica, como aliás acontece em qualquer parte do mundo que tenha orgulho e cultue o seu passado. Exemplos de fortes que se transformaram em museus, universidades mantendo, por respeito e tradição, a denominação original, são incontáveis. Isto acontece também com velhos navios, como por exemplo o cruzador Aurora, importantíssimo na eclosão da revolução russa de 1917, agora placidamente ancorado no rio Neva, em São Petersburgo, que hoje é um museu e pode ser visitado gastando-se uns poucos rublos. Devo lembrar que, no caso dos fortes citados por VS no Rio de Janeiro, há muito seus portões estão abertos ao público em geral.

O Forte de Copacabana abriga o Museu Histórico do Exército, um dos locais turísticos mais visitados do Rio. Além da belíssima vista, o turista poderá desfrutar das exposições permanentes ou temporárias, entender o significado do movimento conhecido como “Os 18 do Forte”, percorrer as bem cuidadas alamedas, visitar as antigas e desativadas cúpulas dos canhões 305 e 190 mm, ter uma noção de como eram feitos os cálculos dos tiros, assistir a concertos de corais, conjuntos de choro e festivais literários e lanchar na Confeitaria Colombo, isto tudo acompanhado, se assim desejar, por guias muito bem preparados. Não sei se é esta sua ideia de parque público.

No bicentenário Forte Duque de Caxias, que o Sr. chama de Forte do Leme, funciona desde 1965, (com todo respeito, sua observação sobre o uso bélico da unidade está atrasada em mais de 50 anos …) o CEP – Centro de Estudos de Pessoal, uma notável organização que congrega professores, alunos e pesquisadores, civis e militares, dedicados ao estudo das ciências humanas e que é referência internacional nestes assuntos. Quando lá estiver, suba o morro por excelente e até bucólica estrada — existem vans da própria unidade para fazer o transporte — e chegue ao Forte do Vigia, onde vai desfrutar de uma vista deslumbrante do Leme, Copacabana e praias da vizinha Niterói. Aliás, em Niterói também existem fortes e fortalezas que podem ser visitados sem problemas.

Na Urca, onde fica o Forte São João, funciona o complexo voltado para a Capacitação Física do Exército, que, presumo, o Sr já conhece pelas notícias e fotos publicadas na imprensa de equipes e seleções nacionais dos mais diversos esportes treinando e, principalmente, buscando novos conhecimentos em suas modernas instalações. Se tem filhos ou netos pequenos aproveite, é tempo de colônia de férias aberta ao público em geral, mas, como em todo lugar organizado, é preciso fazer previamente a devida inscrição. Funciona também lá a Escola Superior de Guerra, denominação histórica de um centro respeitabilíssimo de estudos e pesquisas sobre o Brasil, que se caracteriza por ser um foro democrático e aberto ao livre debate, onde, entre conferencistas e estagiários, provavelmente o Sr. O.J. encontrará mais civis que militares.

Nestes lugares, Sr O., o visitante está sob a proteção do Exército Brasileiro, portanto não será ameaçado por assaltantes, batedores de carteiras, pivetes, trombadinhas, nem incomodado por camelôs, flanelinhas, pedintes e assemelhados. Não sei se é assim em seus tão sonhados parques públicos. Do visitante só se exige ser civilizado ou seja, usar trajes adequados, não jogar lixo fora dos lugares devidos, não pisar nos canteiros e gramados, manter atitude respeitosa com a História que está impregnada nestes monumentos.

Ah, sim, ia esquecendo de dizer que em suas visitas certamente encontrará com franceses e holandeses, mas fique tranquilo, são turistas e não invasores.
Cesar A. A. L.”

OBS – Como já era esperado, o jornal nada publicou

Material recebido de leitor da Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar