Paulo Duarte

Morte assistida? EUA vs Coreia do Norte e o Resto apático que ajuda a morrer

Morte assistida? EUA vs Coreia do Norte e o Resto apático que ajuda a morrer

Maduro pergunta se Trump é o Novo Sultão que impõe a sua Lei nos Estados Unidos e no resto do Mundo? Mas o Presidente da Venezuela é, ele próprio, um Imperador contestado por todos, inclusive e sobretudo pelos Venezuelanos que passam fome e sede. Maduro desafia Trump para uma ‘conversa’. Um gesto simpático e humilde entre um ditador de uma ditadura e um outro ditador, mas de uma democracia. Quem não quer conversar é um outro ditador, o da República dita Democrática Popular da Coreia. Para o ditador da Coreia do Norte (como é mais conhecido o país), o colega Trump está senil e só pode ser contido pelo uso da força absoluta. Uma espécie de para grandes males, grandes remédios.

No meio de tanta democracia que é ditadura e de tanta ditadura que é oficialmente apelidada de democracia, é difícil perceber, por vezes, quem é verdadeiramente ditador ou democrata. O debate ainda se torna mais complicado quando na democracia pode haver republicanos que apoiam a ditadura e democratas que rejeitam a democracia porque ela suave demais.

Perante a incerteza dos regimes, onde o comunismo espalha apenas igualdade nas elites e miséria no resto da sociedade (atenção: não falo do comunismo enquanto conceito abstrato, mas da manipulação do termo para fins políticos), como atesta o caso de Angola ou de Cuba, qual o modelo mais justo? O capitalismo puro e duro da China, como se vê em Hong Kong, por exemplo? Ou o protecionismo dos Estados Unidos, que desesperadamente lutam para escoar os seus produtos face à competição externa (sobretudo chinesa)? Se o capitalismo é avesso ao protecionismo, e amigo da mão invisível, estarão os Estados Unidos a tornar-se anticapitalistas?

E a China e Rússia que defendem a globalização são hoje novas capitalistas? Respostas complicadas que refletem a loucura do sistema. As próprias bolsas internacionais espelham, também elas, essa agitação, ou loucura, para chamarmos as coisas pelos nomes. Isto porque quando se coloca dois loucos à frente de um exército e com um circo televisivo montado, o mundo quer ver ansiosamente qual carrega primeiro no botão.

Será o ditador da Democracia da Coreia ou o da Ditadura democrática dos Estados Unidos? Se for o primeiro, estamos perante um suicídio. Se for o segundo, trata-se de uma morte assistida. Não é que Trump esteja doente fisicamente (não me refiro ao plano psíquico, porque não sou psiquiatra nem padre) e precise de ajuda para morrer, porque o sistema toma o seu tempo, mas vai eliminá-lo na devida altura.

Quando falo em morte assistida, refiro-me sobretudo à Humanidade que apoia passivamente uma guerra de retórica, a diplomacia do Twitter – perigosa e instantânea, a que Trump nos tem habituado – e que não se resolve com as palavras politicamente corretas do Secretário Geral da ONU ou com uma condenação tímida por parte da chanceler alemã. A morte assistida pode ser causada por uma apatia geral, fruto de um deixa estar como está para ver como fica, e que, pode levar a um suicídio coletivo[1], morte em massa, altamente maquiavélico e semelhante ao que se passa com algumas seitas.

Se Trump carregar no botão não do Twitter, mas da bomba atômica, morremos, regredimos civilizacionalmente a Hiroshima e a Nagasaki, com a diferença apenas de que não aprendemos nada como coletivo, se nos mostrarmos apáticos à escalada verbal e à diplomacia do Twitter. Sergei Lavrov (o da Rússia) pode não ser o rosto de um regime que eu admiro particularmente, mas parece-me sábio e sensato quando sugere que estando dois rivais à beira do abismo, aquele que recuar é o mais inteligente. Qual dos dois vai dar o passo em frente?

[1] Em contraste com o chamado auto-suicídio, que já se sabe que só existe na linguagem das crianças pequenas ou grandes (estas últimas avaliadas quanto à maturidade mental). 

 Paulo Duarte,  PhD, Universidade Católica de Louvain –                        duartebrardo@gmail.com

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