Forças Armadas

Brasil – Dunquerque precede sempre o Dia D?

Sem que a sociedade civil organizada seja capaz assumir sua função, não existirá lugar para o Brasil entre os países desenvolvidos.

A formação de uma sociedade preconiza a busca de um objetivo e de um caminho comum. Necessita, portanto, da aceitação de uma orientação unitária, se possível alternada. Essa aceitação é questionada quanto maior for a desorganização inicial do grupo. Não é por acaso que o poder dos primeiros condutores sociais veio de Deus, seja na figura do pajé, seja na figura dos reis com seus poderes divinais.

A evolução natural de uma sociedade para um estágio mais complexo induz a um condutor de origem humana, pelo menos para seu questionamento. Nesse caso, a figura do chefe militar sempre se apresentou como lógica e natural, não só pelo seu exercício já exercido junto aos subordinados, como pelo poder real que as armas agregam. Dos senhores feudais a Alexandre e Napoleão, sobram exemplos dessa condução.

A solução militar simples e direta não pode resistir ao questionamento de uma sociedade completamente evoluída. Urge, nesse caso, um tipo de organização com múltiplas cabeças que sejam capazes de se coordenarem com vistas a um objetivo comum. Trata-se, portanto, de uma sociedade civil altamente organizada e sofisticada.

O sonho e objetivo de uma grande nação!

O Brasil passou por todas essas fases sonhando ocupar seu lugar no cenário mundial. Entretanto, a evolução desejável não foi o que se viu por aqui. A sociedade civil organizada não estava tão organizada como se imaginava, longe disso. Os ladrões ocuparam postos e lugares de destaque, saqueando a população tanto economicamente como ideologicamente. Levaram malas de dinheiro e deixaram doutrinas do século XIX completamente ultrapassadas após a queda do muro de Berlim. Ao mesmo tempo que roubaram, pregaram o ódio e lavaram mentes de crianças e adolescentes.

A incompetência gerencial dessa sociedade civil desorganizada foi incapaz desde distribuir água no Nordeste, construir rodovias, atender emergências sanitárias básicas, como no combate à dengue, dar um mínimo de segurança pública, seja nas capitais ou no interior, até mesmo para atender emergencialmente os venezuelanos refugiados.

Em pedido de socorro, sem alternativa, o que restou à parte mais sadia dessa sociedade foi clamar pelo retorno à segunda fase evolutiva do seu gerenciamento, ou seja, ao condutor militar. Embora não seja inédito na história mundial, é e será sempre um retrocesso. Sem que a sociedade civil organizada seja capaz assumir sua função, não existirá lugar para o Brasil entre os países desenvolvidos.

Será que para que ocorra o sucesso de um desembarque no dia D é necessário, sempre, a ocorrência do desastre de uma retirada de Dunquerque?
Espera-se que não!

Urge que a sociedade civil organizada desse País seja capaz de se depurar, em todos os níveis institucionais, sem que haja necessidade de sua penosa retirada. Que ela remova o ódio propositadamente inoculado nas veias mais jovens, que ela acabe com as falácias sobre redução da desigualdade social e que a torne um evento real, que conduza esse País continente à uma situação internacional de respeito, sem a necessidade de corromper líderes mundiais.

Luiz Depine de Castro, engenheiro químico e consultor tecnológico, é mestre em Engenharia Química (COPPE-UFRJ), doutor em Ciências dos Materiais (Universidade de Bath – Inglaterra), ex-presidente da Associação Brasileira de Carbono (2007-2017) e coronel reformado do Exército.

Publicado originalmente em https://www.omorungaba.com.br/noticia/6-opiniao/3341-brasil–dunquerque-precede-sempre-o-dia-d

Publicado por indicação na Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar