Geopolítica

“Coréia GREAT AGAIN”. É preciso inteligência. O que os COREANOS realmente desejam?

“Coréia GREAT AGAIN”. É preciso inteligência. O que os COREANOS realmente desejam? 

É obvio que os Estados Unidos querem que a Coréia do Norte abandone o desenvolvimento de novas armas nucleares. E mais, desejam que desative as que eventualmente possuir. Os americanos, caso os dois países cheguem a um acordo nas negociações previstas para o próximo mês – como é a praxe – exigirão também que se permita que comissões internacionais verifiquem in loco se os acordos estão sendo cumpridos.

Esse tipo de exigência pode ser considerado inadmissível pelos coreanos.

Só conversando um pouco sobre o assunto, as cartas devem ser colocadas na mesa pelos líderes dos EUA e Coréia em junho. Pyongyang tem ameaçado cancelar o encontro, mas parece que isso faz parte de sua estratégia de já chegar a mesa com alguma vantagem.

Recentemente Donald Trump declarou que a Coréia do Norte não poderia desenvolver um míssil balístico intercontinental, ou ICBM, efetivamente capaz de alcançar os Estados Unidos, mostrando qual é sua principal preocupação. Todavia, no momento os ESTADOS UNIDOS não desejam simplesmente fazer com que o líder coreano interrompa seus testes e desenvolvimentos, eles querem que a Coréia efetivamente retroceda, destruindo equipamentos e abandonando capacidades já desenvolvidas.

Como isso pode ser obtido? Por que os EUA acreditam que podem conseguir que uma nação independente retroceda em relação à defesa sendo que eles mesmos não abrem mão de possuir armas de destruição em massa? Quais argumentos serão utilizados?

Como todo “bom” líder comunista o ditador coreano sabe que se não ampliar seu campo de atuação o seu regime cedo ou tarde vai ruir. A história já mostrou isso em vários locais.  Portanto, o ditador Kim Jong Um quer sim “fazer a Coréia Grande novamente”, para isso aparentemente conta com a unificação das Coréias, mas não nos moldes norte-americanos. Exatamente por isso ele aceitou participar do encontro com o líder da Coréia do Sul.

Jong Um quer toda a península sob o controle de Pyongyang e assim transformar a Coréia unificada um líder regional, obviamente sem qualquer submissão aos EUA.

Outro dos desejos de Kim é conquistar respeito e prestígio diante da comunidade internacional. Indubitavelmente em grande parte isso já ocorreu. Jung Um deixou de ser visto por muitos como uma espécie de pós adolescente louco e cheio de caprichos, o “anãozinho dos foguetes”, como diz Trump, passando agora a integrar a seleta lista dos países capazes de fazer tremer os todo-poderosos norte americanos.

Antes das negociações os setores de inteligência americanos vão ter que aferir a medida exata do desejo de Jong Um de manter sua capacidade nuclear, aferindo o quanto o ditador considera indispensável possuir essas armas.

Pyongyang sofre algum tipo de pressão interna que poderia obrigar o ditador a abrir mão de suas armas em troca da garantia de que poderá suprir alguma necessidade premente da sociedade coreana? Ele tem sido pressionado a desenvolver seu parque industrial? Se não há pressão interna as coisas devem ser mais difíceis para TRUMP, não haverá garantia alguma de que Washington possa em uma mesa de negociações forçar Pyongyang a desistir de suas armas.

Apesar de ter-se tornado público há pouco tempo – essa capacidade nuclear não foi conquistada no governo TRUMP, foi durante os governos anteriores, que  tentando ser politicamente corretos deixaram a coisa “correr solta”.  Trump herdou um problema causado por governos anteriores. O que ninguém quer admitir é que os EUA, precisamente a CIA, falharam em relação a Coréia do Norte. Sem aqui discutir se isso é correto ou incorreto, se o potencial nuclear da Coréia do Norte já há muito tempo é visto como uma ameaça aos norte-americanos, estes, como fizeram em diversos outros países, deveriam de alguma forma ter criado instabilidades políticas que destruíssem a hegemonia, atrapalhasse o consenso alcançado pela família de ditadores e cúpula comunista que comanda o país. Na Coréia do Norte 100% das telecomunicações estão sob o controle do estado, talvez nesse ponto resida a grande dificuldade dos EUA em criar instabilidades e pressões. 

Jong Um passou a ser visto pelo mundo como um líder ousado, corajoso. Mas, falta-lhe agora ser reconhecido como um grande estadista, capaz de exercer influência sobre outras lideranças internacionais. Talvez se enxergue como um novo MAO! Tudo indica que seu momento é esse. As negociações com os EUA e o encontro com TRUMP podem consagrar Kim Jong como aquele que fez os EUA recuarem, talvez reduzir sua influência no oriente..

Talvez os EUA tenham mesmo que, ao invés de oferecer recursos e/ou desbloqueio de barreiras, dar um passo a ré e retirar suas tropas e armas da península coreana para que o ditador também retroceda. 

Qualquer estratégia dos EUA para a Coréia do Norte deve ser guiada por um profundo conhecimento das pressões internas e externas sofridas por Pyongyang.  Do contrário negociadores podem muito facilmente iniciar um caos nas relações e levar o mundo ao pior conflito desde a Segunda Guerra Mundial.

Robson Augusto // Militar R1, Cientista Social, Jornalista — Revista Sociedade Militar

 

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Sociedade Militar