Política Brasil

PERGUNTAS AO SR. PRESIDENTE,  ROBERT MUELLER

PERGUNTAS AO SR. PRESIDENTE,  ROBERT MUELLER  –  Ida  Maia

Muitos brasileiros são ingênuos – para não dizer desinformados – sobre assuntos internacionais. Opinam sobre o que não sabem e não se preocupam em procurar aprender. Como cidadã brasileira acho por bem tentar esclarecer a opinião pública dos brasileiros sobre fatos importantes que podem nos render grandes lições. Muitos estudos comparativos foram e são feitos entre o Brasil e os Estados Unidos. Historicamente, esses dois países são semelhantes em muitos aspectos, porém diferentes circunstâncias culturais e econômicas os separam.  Ambos divergem sobremaneira no que se refere ao trato com a coisa política. No que diz respeito ao meu artigo sobre Comey (30 de abril de 2018), o principal ponto de destaque para o qual chamei à atenção é a ênfase brilhante  que  o autor do livro deu ao termo ‘democracia’ para desenvolver sua tese de defesa construída no livro. Sabe-se também que o autor estava pleiteando o pedido de aposentadoria antes de ser demitido, portanto, nenhum indivíduo, em sã consciência, renunciaria a um cargo no serviço público prestes a se aposentar, como sugeriu um leitor apressado e mal informado ao ler a matéria.

Entretanto, não é meu papel aqui defender pessoas, mas chamar à atenção para o desenvolvimento de processos  políticos em nossa sociedade contemporânea. Se escolhi, como ponto de partida, fazer uma comparação entre os Estados Unidos e o Brasil, é por uma questão

 metodológica e de fácil acesso às informações em língua inglesa. Atualmente, fatos semelhantes estão ocorrendo nesses dois países que envolvem, de diferentes formas, figuras públicas. Não estou interessada em defender pessoas ou partidos políticos norte-americanos, mas narrar fatos que podem ser relevantes e extremamente valorosos como lições para avaliarmos fatos da vida política brasileira. Não há diferenças radicais entre o Partido Democrático e o Republicano, a meu ver, nem são justas as comparações esdrúxulas feitas por brasileiros entre republicanos e democratas norte-americanos em defasadas e precárias atuações políticas veiculados  à “direita”  ou à “esquerda” no Brasil. Entendo que esses termos  já não satisfazem à realidade, pois os considero passadistas, que precisam ser revistos rapidamente para o bem-estar do Brasil. Tanto o Partido Democrático quanto o Republicano lançam mão de pautas discursivas progressistas para equilibrar as demandas sociais relacionadas a uma série de temas entre eles o direitos de mulheres, o direito de minorias etc., garantidas constitucionalmente e incorporadas ao projeto nacional. O Partido Republicano já elegeu presidentes brilhantes, como Abraham Lincoln e Ronald Regan, que engradeceram a história do povo norte-americano e ficaram na história por se disporem a serviço da nação de forma ética e beneficiarem a democracia dos Estados Unidos. Desde Nixon, também presidente republicano, não se tem visto tanta inquietação e um mal-estar causado por obscuras dúvidas que pairam sobre um presidente recém-eleito. Convém aos brasileiros alimentarem hábitos de discussões mais amadurecidas e críticas sobre situações de forma responsável e bem fundamentada, a fim de que não sejamos ainda mais desmoralizados do que somos pelas ações de nossos políticos e governantes.

O livro de Comey não é uma vingança barata, mas um documento para a posteridade, que põe em questão valores universais que cercam o perfil de um líder ideal e o papel dos cidadãos de uma nação.  No momento em que escrevo, leio também uma matéria do The Wall Street Journal, edição de primeiro de maio de 2018. Nesse momento, desenrola-se a continuidade do drama Trump. Desta vez, “dirijo as luzes do palco” ao discreto e respeitável advogado de formação, Robert Mueller, cujo currículo e sua atuação como funcionário do governo estão acima de qualquer suspeita. Graduado pela Princeton University em 1966, alistou-se no Exército e foi para o Vietnã em 1968. Herói condecorado na guerra do Vietnã, doutor Meuller recebeu a medalha de bronze (bronze star), duas comendas da Marinha (Navy Commendation), a medalha Purple Heart e a Cruz da Coragem na Guerra do Vietnam (Vietnamese Cross of Gallantry), como oficial do Corpo de Fuzileiros Navais (Marine Corps). Voltou para seu país, estudou Direito pela Universidade da Virgínia e trabalhou tanto como advogado particular quanto a serviço do governo.  

Como advogado, nas décadas de 70 e 80, para o governo da Califórnia e de Massachusetts. Posteriormente, foi indicado pelo Presidente republicano, George Bush, e aprovado por unanimidade pelo Congresso Americano, como Promotor Federal, onde atuou no julgamento do ditador Manuel Noriega do Panamá (1989) e como  promotor federal, na condenação do mafioso Jonh Gotti (1990) e em processo de fraude contra empresários do grupo Eron Task Force.  Entre 2001 e 2013, foi diretor do FBI. Seu papel foi decisivo para modernizar o FBI, onde ele assumiu as investigações poucos dias depois dos atentados de 11 de setembro. Sua dedicação e lealdade ao trabalho impressionaram o Presidente Obama, que o convidou para fazer parte de sua administração. Depois de Hoover, Mueller foi o diretor que mais serviu à administração pública, prestando seus serviços como diretor do FBI, durante os governos de presidentes republicanos e  democráticos.

Todos esses referenciais são importantes para o público brasileiro entender o papel de Mueller como profissional  acima  da política devido ao exercício e à competência  conquistados pelos serviços à nação. Depois que Comey foi demitido, no dia 17 de maio de 2018, o Congresso Americano e o Supremo Tribunal aprovaram os primeiros relatórios do promotor Robert Mueller, que agora exerce o cargo de “diretor” geral  do  Conselho Especial (Special Council), que faz investigações sobre o atual presidente (embora ele ainda não seja réu). 

Muitos republicanos e seus aliados rejeitaram a ideia a princípio, entretanto o senador republicano,  Lindsey Graham, ressaltou: [1] “Deixe Muller fazer o seu trabalho, se ele deixar o caminho aberto e fizer algo que não seja correto, todos nós poderemos intervir”. Desde então, as investigações sobre o “Caso russo”, que envolve possíveis doações de campanha concedidas através de doações ilícitas feitas por pessoas ligadas ao governo russo, têm prosseguido. Além de pessoas ligadas à administração Trump (afastadas), três empresas e pessoas em geral vêm sendo indiciadas pela Justiça [2].  

Em dezembro de 2017, houve rumores de que o Presidente intencionava demitir também Mueller da investigação e, de imediato, membros do Congresso procuraram “protegê-lo” em beneficio da continuação da investigação.  No dia 16 de fevereiro de 2018, a Casa Branca emitiu o seguinte comunicado: “O presidente está satisfeito com a investigação do Conselho Especial, que  indica que NÃO HOUVE CONSPIRAÇÃO entre a campanha de Trump e que os resultados da eleição não mudaram nem foram afetados”[3].

            O  jornal The Chicago Tribune, do dia 01 de maio de 2018, publicou a matéria intitulada Mueller raises possibility of Presidential subpoena in meeting with Trump’s legal team (Mueller levanta a possibilidade de intimação judicial de presidente em encontro com os advogados de Trump).  A matéria também relata o clima de tensão entres os advogados do Presidente que relutavam sobre a possível acareação do presidente, logo em seguida rebatida pela afirmação do promotor de que, se recusasse o convite da Promotoria, deveria ser convocado judicialmente diante do Departamento de Justiça[4]. Com os ânimos acirrados, os advogados do Presidente levantaram uma lista de 49 questões relacionadas à provável construção legal do caso a ser disposto pela Promotoria  baseado em  supostas alegações sobre a obstrução da Justiça cometidas pelo Presidente. É evidente que os desdobramentos dos fatos produzirão grandes expectativas de valor político local e no exterior.

[1] ‘Let Muller do this job. If he gets off in a ditch and he does something he shouldn’t be doing, then we’ll all comment that happens”

[2] Dezenove pessoas estão sendo processadas, e cinco delas estão  ou estavam diretamente associadas à administração de Trump. Veja-se a matéria no The New York  Times, do dia 23 de fevereiro de 2018, “Over 100 charges, 19 people and 3 companies: The Mueller Inquiry Explained’.

[3]“the president was “glad to see the special counsel’s investigation further indicates— that there was NO COLLUSION between the Trump campaign and Russia and that the outcome of the election was not changed or affected.” News White House por Adam Edelman Feb. 16 2018 www.nbcnews.com.

[4] “He could issue a subpoena for the president to appear before the

Revista Sociedade Militar

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