Forças Armadas

Inversão ou tradição? Generais / Ministério da Defesa se aproxima cada vez mais da esquerda

Generais se aproximam da esquerda – confusão com o “racha” no PSL

Apenas um bate-papo com o leitor, desse editor que adora uma boa prosa

A editoria da Revista Sociedade Militar ligou nessa terça-feira pela manhã para o gabinete do líder do PT na câmara. A intenção era apenas confirmar uma informação importante. Para quem conhece o modus operandi dos oficiais generais brasileiros a resposta não foi nenhuma surpresa.

O deputado está, junto da maior parte da bancada, em uma reunião com o Ministério da Defesa”, respondeu o assessor de imprensa. E assim foi com outros vários parlamentares do Partido dos Trabalhadores.

Recebemos diversas mensagens de leitores preocupados com essa reunião e com esse estreitamento de laços entre o Ministério da Defesa e os parlamentares da oposição.

Será que o presidente sabe disso“, expressou sua preocupação um de nossos leitores.

Militares políticos e políticos militares

Oficiais generais são – segundo militares – os políticos fardados. Mas há uma grande diferença entre eles e aqueles que foram eleitos. Generais não querem se indispor com políticos de nenhuma ideologia justamente porque nunca se sabe quem será o próximo governante, aquele que de fato assinará as promoções e determina quem ocupará cargos, funções, quem vai ser ministro no Superior Tribunal Militar e quem ocupa os tão sonhados cargos de assessoramento superior.

A esmagadora maioria dos oficiais generais de hoje foram promovidos por canetadas de Lula ou Dilma Rousseff.

Quem acompanha a política viu o relacionamento entre o General Villas Bôas e o então ministro da defesa Aldo Rebelo. Viu também a submissão dos militares a outros líderes de esquerda, como Celso Amorim e Nelson Jobim. Vimos também o status que a deputada Perpétua Almeida, do PCdoB, possuía no Ministério da Defesa, a ponto de ocupar um cargo considerado “de general”, ela foi o SEPROD (Secretário de Produtos de Defesa).

Vimos também as seguidas condecorações concedidas para parlamentares de todas as matizes políticas.

Testemunhamos as efusivas e recentes declarações públicas de apreço do general Ramos, ministro-secretário de governo, para com Aldo Rabelo, ex-PCdoB, a quem considera “alguém com profundo nacionalismo e amor ao nosso País“.

Não precisa falar mais, isso basta para entender um pouco como se dão os relacionamentos com a classe politica.

Falência do PSL

Ingressamos em uma nova etapa na tramitação do PL1645/2019 e com a saída do presidente da república da sigla a tendência é que ocorra uma evasão de parlamentares para outros partidos.

É possível também que o PSL vá caminhando mais para o centro do espectro político e com isso tenda a se opor àquilo que é de interesse do governo. Parlamentares do PSL eram – contam – tratados como soldados, não tinham muito direito de se posicionar de forma diferente da determinada pela cúpula, o que provocou alguns “divórcios”, como o do deputado Alexandre Frota.

Deputados mais próximos de Bolsonaro, como o Major Victor Hugo e general Girão, foram afastados da comissão especial que estuda o PL1645. O primeiro repentinamente pediu para que não o chamassem mais de major e se mostrou inábil e atrapalhado em suas manobras na comissão especial  e o segundo – apesar de ser general – na comissão não se mostrou conhecedor da carreiras das praças e nas redes sociais disparou impropérios contra graduados que se mobilizam por mudanças no PL1645.

Peternelli, também general disparou ameaças contra graduados, disse que ia tirar então as gratificações de todo mundo. Girão acusou graduados de dar espaço para a “esquerda raivosa” e os chamou de desinformados.

Parece que os generais-políticos não suportam muito o contraditório.

Mas, dentro da casa do povo a casa da leis seria essa uma postura coerente? Fica a pergunta.

Não se sabe como será o futuro político desses políticos-militares já que há tendência de que percam o apoio dos graduados.

Se Girão olhar para o lado poderá perceber que seus pares lá no prédio do outro lado da rua estão distribuindo medalhas e almoço grátis para políticos de esquerda, centro, direita, rosas, amarelos e de qualquer tipo que represente votos a seu favor no PL1645/2019.

Estratégias da Defesa

A intelligentsia da DEFESA busca sempre olhar um pouco mais longe e a cúpula não só já pensa em conquistar votos para uma vitória no plenário como – com toda certeza – já tentam levar até os senadores o discurso oficial da defesa que diz que a reestruturação não é um reajuste e que todos darão sua cota de sacrifício para a previdência, com “olho no futuro” das forças armadas.

Um comentário interessante, do leitor, militar, R.Neves: “ … Inaceitável é este arrocho vir de forma igualitária no aumento do desconto nas contribuições e um gordo aumento para quem esta no topo”.

Há algumas tendências interessantes

Primeira tendência: que deputados de outras siglas se alinhem ao posicionamento ousado do PSOL em favor de uma discussão mais ampla sobre o PL1545.

Os graduados sem sombra de dúvida são a parcela das forças armadas que têm a força do voto, principalmente em âmbito local, que é o que mais importa para os parlamentares. Os graduados na reserva tem também uma grande expertise no que diz respeito a formar opinião em seu círculo de influência e são considerados como aqueles que deram o impulso inicial para que Bolsonaro – antes rechaçado pela cúpula das FA – chegasse onde chegou.

O discurso de que graduados ao incompetentes ou de que se unem em torno de “sindicatos militares” jogado ao veto por alguns parlamentares-generais não colou. Suboficiais e sargentos já declararam que são contra greve,  contra qualquer quebra de hierarquia e disciplina e que apenas buscam seus direitos como cidadãos que são. Declaram ainda que não são contra o projeto, mas que buscam apenas reparar erros ali inseridos de forma que muita gente, principalmente na reserva, saia prejudicada. Muitos parlamentares estão aderindo a suas demandas e ha tendencia de que ganhem terreno.

Segunda tendência: que os generais e o ministério da defesa como um todo se apressem em estreitar relacionamentos com parlamentares da esquerda.

A farta distribuição de condecorações militares para deputados e senadores já é parte disso. O almoço dessa terça-feira com a bancada do Partido dos Trabalhadores, patrocinado pelo Ministério da Defesa justamente na manhã em que graduados eram ouvidos em audiência pública no senado é também parte disso.

Comentário interessante de A.Luiz: “O que o BOLSONARO diria se o moro chamasse a cúpula do PT pra discutir o pacote anti crime…Mas permite que generais chamem pra discutir assuntos sobre a vida de grupo que o sempre apoiou e elegeu….SERIA TRAICAO?

A defesa / generais usarão de toda a estrutura do ministério como seu quartel general dentro do próprio congresso nacional, jantares, almoços, cerimônias e condecorações militares e até viagens para tentar convencer os parlamentares que a sua proposta de reestruturação não é um reajuste privilegiado para a cúpula.

Todavia, quem se dá ao trabalho de observar a tabela de gratificações, soldos e salários brutos logo observa que o topo é muito privilegiado e por conta disso – estrategicamente – a tendência é que se faça o máximo para desviar o foco para outros pontos, como o aumento do tempo de serviço, as carreiras de oficiais, bombas, explosões e coisas espetaculares aos olhos dos civis.

E que ninguém se engane, há na defesa gente especializada em desviar o foco para o que não é realmente não é importante.

Graduados – que estão conseguindo pender a balança para seu lado – não possuem toda a estrutura disponível para a cúpula das forças armadas e – depois de dezenas de horas de viagem até Brasília com passagens de ônibus compradas por meio de vaquinhas em grupos de whatsapp – apenas andam de gabinete em gabinete com seus ternos baratos e uma tabela que mostra que o topo receberá um reajuste de mais de 50% enquanto a base fica com ZERO ou alguns poucos pontos percentuais, a ponto de no próprio projeto existir um artifício chamado VPNI (Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada), com intenção de reparar o erro, retornando os salários que eventualmente decrescem pelo menos para zero de perdas.

Nas redes sociais um terceiro sargento na reserva apresenta uma solução para a coisa. “quer ser justo? Se todo mundo vai pagar mesma percentagem de descontos dá um reajuste igual pra todo mundo, do general ao soldado, na ativa, na reserva e pensionistas, isso demonstraria espirito de corpo… “.

Robson Augusto – Jornalista, sociólogo, militar R1 – Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar