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Estratégia diferente! MILITAR das Forças Armadas MAIS VOTADO na capital carioca arriscou romper com o tradicionalismo das campanhas militares

Visão sobre o desempenho dos militares das Forças Armadas nas eleições de 2020 / Artigo 02

Políticos mais experientes ligados ao meio militar já falam há algum tempo sobre as dificuldades de se convencer o eleitorado das Forças Armadas a se empenhar para eleger um vereador. Ainda que este cargo seja reconhecido como a base de toda a articulação política no país, ao que parece, a repressão interna contra a politização dos militares, iniciada nos anos 60, ainda atrapalha a categoria no que diz respeito a emplacar representantes.

No pleito desse domingo (15/11/2020) na capital carioca o voto efetivamente advindo das Forças Armadas em todos os candidatos que se identificaram como militares, somado, não chegou a 6 mil. Esse número por muitos é considerado um paradoxo político na medida em que sempre que se estima o voto dos militares na capital ouve-se falar em números acima de 100 mil.

Para ter-se uma boa ideia do tamanho dessa população, ainda em 1988, há 30 anos, o então candidato a vereador capitão Jair Bolsonaro, ainda sob o olhar desconfiado de muitos militares, recebeu sozinho mais de 11 mil votos advindos das Forças Armadas.

No pleito seguinte (1990) Bolsonaro, um desconhecido para os civis, recebeu 67 mil votos e no outro pleito (1994) 111 mil votos.

Uma estratégia diferente

Assessor do DEPUTADO FEDERAL Professor Joziel durante o ano de 2019, Gerson Paulo, advogado e militar da FAB, ainda em junho de 2019 – no início da tramitação do Pl1645 – apresentou ao parlamentar propostas dos graduados e promoveu reuniões no gabinete para que advogados e militares mostrassem as inconsistências do referido projeto de lei. Onde obtiveram uma promessa de apoio.

Contudo, alguns meses após, nos últimos momentos da tramitação, quando surgiu a possibilidade de que o PL1645 fosse apreciado pelo PLENÁRIO DA CÂMARA, o deputado Professor Joziel surpreendeu a todos quando acompanhou a decisão da maior parte dos deputados governistas, votando contra as propostas de Paulo Ramos e Glauber Braga de ampliar a discussão  sobre PL1645, levando-a para o plenário. Essa reviravolta fez com que ao final do processo Gerson Paulo, o assessor que na verdade deu voz aos graduados ao intermediar seu acesso ao gabinete, acabasse recebendo respingos de todo o ódio e rejeição despejado nas redes sociais por graduados das Forças Armadas contra o parlamentar do PSL, professor Joziel.

Essa rejeição, aliada ao conhecimento de que o voto militar para o cargo de vereador é difícil de conquistar, aparentemente foi o que fez com que em sua campanha para vereador pelo RIO DE JANEIRO optasse por uma estratégia diferente e até certo ponto inovadora. Há muito que se têm a idéia de que militares – mesmo na reserva – têm que preferencialmente fazer uma campanha mais centrada na caserna do que na população civil. O candidato do Democracia Cristã, pelo que observamos ao acompanhar sua campanha, decidiu romper com isso e percorrer um caminho diferente.

Gerson Paulo, dado às condições que todos temos, montou uma estratégia de campanha bastante econômica no que diz respeito a finanças, obviamente sem um grande aparato midiático pago, mas ao mesmo tempo muito inteligente e dinâmica, indo de encontro ao eleitorado civil no local onde reside, promovendo reuniões temáticas e apresentando incansavelmente propostas ligadas à família e valores morais em vários bairros do Rio de Janeiro.

Destaco também o cuidado na apresentação pessoal, na elaboração de propostas e nas fotografias divulgadas/usadas na campanha, detalhes que fazem a diferença em um processo eleitoral. O eleitorado não expressa isso verbalmente, talvez muitos sequer tenham consciência, mas todos desejam encontrar profissionalismo e segurança naqueles que vão representá-lo. O candidato obteve com isso 3.801 votos, o 4º lugar em seu partido, em uma das eleições mais disputadas dos últimos anos na Cidade do Rio de janeiro.

Conversei com Gerson Paulo antes e depois das eleições. Apesar de não eleito, ele e a equipe demonstram claramente que acreditam que não se pode em hipótese alguma ignorar o eleitorado militar, mas que a estratégia de romper com o tradicionalismo, arriscando deixar de seguir fielmente a antiga “cartilha eleitoral militar”, abordando – portanto –  também a sociedade civil, foi bem sucedida e que com os poucos recursos de que dispunham foram bastante longe.

O suboficial da Força Aérea foi o membro das Forças Armadas que recebeu maior número de votos na capital carioca em 2020.

Robson Augusto é Sociólogo, Jornalista e militar da reserva remunerada das Forças Armadas  

Revista Sociedade Militar

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Publicado por
Robson Augusto