Forças Armadas

A Desestruturação das Forças Armadas “não é um ato isolado na longa conspiração dos inimigos do Brasil”

Por que a Lei n⁰ 13.954/19 não é um ato isolado na longa conspiração dos inimigos do Brasil para destruir as Forças Armadas
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A caserna continuava a ser refúgio de desocupados, de desqualificados, de malfeitores, uma espécie de castigo. De: General Nelson Werneck Sodré, História Militar do Brasil
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O dantesco ano de 2020 terminou com uma notícia apocalíptica: “Sargento pede baixa da FAB para ser soldado bombeiro”¹. Isso lembrou uma reportagem de 2012 que expôs algo de que muita gente sempre desconfiou, isto é, que as FA não têm condições nem meios suficientes para encarar um conflito (nos moldes clássicos) contra uma potência estrangeira. É bom que a imprensa continue cumprindo o seu papel, já que os altíssimos comandantes não costumam levar os reais problemas – e se o fazem, não poderão jamais provar, já que os problemas são os mesmos há mais de trinta anos – aos homens públicos que poderiam resolvê-los. Apesar de distanciadas no tempo, essas duas reportagens estão intimamente conectadas. Parece haver, se não uma ação, pelo menos uma intenção, planejada a longo prazo para destruir as Forças Armadas a partir de dentro.

Em declaração recente, o Comandante Supremo deixou em polvorosa os “capo di tutti capi”, quando mencionou alguma coisa sobre pólvora, cuspe e um certo país norte americano. Até agora, nenhum jornalista alegou ter conseguido um inventário sobre a quantidade de pólvora que ainda teríamos nos paióis do Brasil. Melhor assim… Quem acompanha essas notícias sabe que os pilotos militares voam cada vez menos a cada década. Na FAB, por exemplo, a reestruturação serviu para, entre outras coisas, “integrar” esforços, enxugar gastos, aprimorar procedimentos, etc. (essa verborragia burocrática traduziu-se na prática como canibalização: organizações militares desativadas e amontoadas umas sobre as outras, objetivando arrendamentos, venda de imóveis, redução de pessoal, criação de cargos de chefia, etc.).

Mas não podemos ser injustos. Quanto ao poderio bélico, segundo o site GlobalFire, o Brasil está em 10º lugar num ranking de 138 nações, o que nos coloca como “valentões” do Cone Sul. Mas isso pode mudar a qualquer momento. Segundo outra fonte “continuamos investindo pouco: apesar de a Estratégia Nacional de Defesa, lançada em 2008, prever que o gasto do Produto Interno Bruto com os militares alcançasse os 2%, continuamos patinando em torno de 1,5% – a Colômbia investe 3,1%, e o Equador, 2,4%. Só agora começamos a substituir os fuzis que usamos desde 1964. A artilharia antiaérea conta com armamentos com mais de 35 anos de uso.”²

Já o segundo sargento da FAB, que para ter aumento, optou por ser “despromovido”, isso talvez seja um sinal de que chegamos ao fundo do poço – obviamente das Forças Armadas, não das Forças Auxiliares! Um suboficial (cargo máximo a que pode chegar um praça das FA) com 30 anos de serviço e quase 50 anos de idade não recebe mais de R$ 8 mil. Um soldado do Bombeiro de Brasília com 18 anos de idade recebe o mesmo que o “sub”!³ Já um segundo tenente do EB, da FAB e da MB, que hoje ganha R$ 11 mil, chegará a coronel com R$ 22 mil4 (quase três vezes o salário do subtenente!). Não há dados publicados pelas FA sobre a evasão de pessoal. Sabemos que ela existe, mas não podemos afirmar categoricamente se está crescendo ou diminuindo. Instituições totais não primam pela transparência. Não há uma política administrativa consistente para atrair e muito menos manter o pessoal graduado. Não é preciso ser vidente para notar que, por mais que se invista em equipamentos bélicos (e o caso não é esse!), as FA serão cada vez mais esvaziadas de talentos, e nem sequer serão cogitadas como alternativa sedutora de emprego num futuro próximo.O militar é uma uma carreira eminentemente de Estado – é até mais “estatizado” do que um juiz, por exemplo. Uma das sustentações do militarismo, a base de qualquer exército é o pessoal graduado. O comando vem do oficial, mas passa pelo sargento antes de chegar à tropa. O sargento é um filtro, tanto daquilo que desce, quanto do que sobe. Ele é o centro de gravidade dessa estrutura. Normalmente é pouco movimentado, a maioria é nativa da região onde serve. Alguns ficam por trinta anos na mesma localidade. Sabem tudo do quartel. Transformar um militar com este perfil em servidor temporário é mais do que um tiro no pé, é um tiro em cada joelho. Não é só questão de economia financeira, é questão de manutenção dos princípios militares. O sargento não é apenas um técnico, um fazedor de coisas, ele é o ponto forte de contato entre a base e o topo. Mas, mesmo assim, está previsto na reestruturação das FA que 55% dos sargentos até 2030 serão temporários. Isso é sucateamento puro e simples!

Fragilizar a base é o primeiro passo para derrubar o edifício. O que virá em seguida? Aglutinar os esquadrões de aviação das três Forças e extinguir a FAB? Privatizar os porta-aviões (epa, não temos porta-aviões!)? Seria bastante conveniente para a China ou a Rússia, para nós brasileiros seria o começo do fim da liberdade.

Essa “política” desastrada de remuneração, investimentos pífios, desprezo por uma categoria específica vem se arrastando desde sempre. O mais recente chute no cachorro morto foi a Lei nº13.954/19 que, todos sabemos, privilegiou os oficiais (principalmente os generais), tudo indica, às custas do pessoal da base e das pensionistas. Fragilizar a base é o primeiro passo para derrubar o edifício. O que virá em seguida? Aglutinar os esquadrões de aviação das três Forças e extinguir a FAB? Privatizar os porta-aviões (epa, não temos porta-aviões!)? Seria bastante conveniente para a China ou a Rússia, para nós brasileiros seria o começo do fim da liberdade.

JB Reis

¹https://www.sociedademilitar.com.br/2021/01/o-paradoxo-militar-sargento-pede-baixa-da-aeronautica-para-ser-soldado-bombeiro.html

²https://super.abril.com.br/tecnologia/um-raio-x-das-nossas-forcas-armadas/

³https://www.glassdoor.com.br/Sal%C3%A1rio/Corpo-de-Bombeiros-Militar-do-Distrito-Federal-CBMDF-Sal%C3%A1rios-E2484442.htm

4https://binho.net.br/conteudos/militar/evol.php

Texto de colaborador. A Revista Sociedade Militar não necessariamente concorda ou discorda com textos assinados por colaboradores, a publicação integral é parte de nossa política de discussão livre de conteúdos e assuntos relacionados às Forças Armadas e instituições de segurança brasileiras.

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