Forças Armadas

Militares que participam de viagens internacionais estão na mira dos traficantes, mas não se trata de um problema exclusivo do Brasil

Não é nova a informação de que militares das Forças Armadas foram flagrados em esquemas para transporte de drogas usando aeronaves ou navios militares. Ao longo dos últimos anos isso já ocorreu algumas vezes, tanto no Brasil como em forças armadas de outros países, como Espanha e EUA.

Marinha de Guerra da Espanha, 2014

Em 2014 foram apreendidos mais de 100 quilos de cocaína no navio da Marinha de Guerra da Espanha – Juan Sebastián Elcano – que havia visitado a Colômbia e em seguida Nova York, nos Estados Unidos.

Segundo informações divulgadas na época, traficantes de Cartagena teriam assediado os marinheiros, que esconderam as drogas entre as velas do belo navio escola espanhol.

Brasil, 1999

Em 1999 vários militares da Aeronáutica, incluindo oficiais superiores, foram denunciados por crime de tráfico de drogas utilizando aeronaves da Força Aérea Brasileira. 32 quilos de cocaína foram encontrados em um Hercules C130

Trecho da nota do STM publicada em 2011 sobre o crime de oficiais que transportavam drogas em aeronaves da FAB

o coronel denegriu a imagem e o conceito dos militares, em especial o da Força Aérea Brasileira e dos brasileiros em geral. O relator citou trechos da sentença condenatória, que afirmou ser incontestável a reprovabilidade da conduta do Coronel W.O.S,  consubstanciada na atuação de chefe do braço militar da associação criminosa. O ministro citou ainda as considerações do MPM, segundo o qual foi “flagrante o descaso do coronel em relação à vida e à saúde humana, com sua odiosa conduta em afronta aos preceitos da ética militar”.

Fala de um ministro do STM sobre um dos implicados, um major, envolvido no caso, que foi demitido das Forças Armadas, além de após 20 anos perder o posto e patente.

“… Revestiu-se de gravíssima roupagem, clara violação ao juramento que fez ao país. Afrontou a instituição a que pertence… mas também praticou conduta amoral, movida por ganância…” (Ministro Marcos Vinícius. (Alte de Esquadra / 2019)

Patrulha da fronteira e militares dos Estados Unidos

Usando uma espécie de armadilha, na Operação chamada Lively Green, desencadeada em 2006, agentes do FBI fingiram ser traficantes de drogas e usaram US $ 220.000 em dinheiro para atrair soldados da Guarda Nacional do Arizona, policiais e um agente de imigração, que ajudaram a contrabandear mais de 400 quilos de cocaína para os Estados Unidos. Foi desbaratado um grande esquema. Entre militares, agentes de imigração e policiais no total 69 agentes públicos foram indiciados por tráfico de drogas.

Em abril de 2006 um oficial e um sargento usaram um avião de transporte militar C-5 Galaxy para levar cerca de 300.000 pílulas de Ecstasy da Alemanha para Nova York, nos Estados Unidos.

Em 2018 um militar, sargento Daniel Gould, operador de forças especiais, boina verde, foi preso traficando 40 quilos de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos em uma aeronave militar.

Assédio nada incomum, depoimento de militar na reserva

Ouvido pela Revista Sociedade Militar, um suboficial da Marinha, hoje na reserva, disse que já foi assediado para esse tipo de crime. Outro militar também na reserva se recorda de situações semelhantes.

“Na época era marinheiro ainda… Quando servia no porta-aviões Minas Gerais, antes de uma viagem especifica, para o Caribe, no final dos anos 80, fomos assediados para transportar drogas. Passaríamos pela Colômbia e era lá que deveríamos pegar a mercadoria. Não sei dizer como chegaram até o meu nome e como os traficantes sabiam dados da viagem. Só sei que não aceitei a oferta, que de inicio vem como uma indireta, um bate-pato informal e se você se mostrar interessado é que a coisa fica mais séria… Seria muito fácil trazer as drogas, em um navio há inúmeros locais onde se pode esconder esse tipo de mercadoria…  Em outras viagens também ouvi falar desse tipo de assédio…. ou sobre a possibilidade de trazer armas… mas nunca soube de nenhum militar da minha época que de fato participou desse tipo de coisa”.

Brasil. Aeronáutica, 2019

Em caso recente em que um militar de carreira, na graduação de sargento, foi flagrado transportando drogas no avião presidencial, já se apurou que pode existir uma quadrilha que pratica esse tipo de crime de forma sistematizada, contando com a ajuda de militares que trabalham ou já trabalharam no próprio gabinete de segurança institucional. Como a investigação ainda está em andamento não se sabe ainda o total de membros da quadrilha.

Logo que ocorreu o fragrante o general Heleno, chefe do GSI – constrangido – disse que “Eles são escolhidos a dedo. Então essa vergonha a gente sente, sim… muito”.

Bolsonaro disse: “O que nós queremos das Forças Armadas é que não apenas o sargento seja levantado aí toda essa rede, com toda certeza existe, pela quantidade de drogas que na qual ele está no meio dela”.

De fato, membros do GSI envolvidos com criminosos como traficantes tem o potencial de colocar em risco a integridade física de membros do governo como o próprio presidente, ministros e até chefes de estado de outras nações que visitem o Brasil.

Um brigadeiro da reserva ouvido há alguns meses declarou que acredita que o problema também passa pela questão de salários baixos pagos para pessoas que desempenham funções de altíssima responsabilidade, o que os obriga ainda a residir em locais com maior possibilidade de assédio por criminosos etc.

“… todos no Brasil ganham mais do que um sargento das Forças Armadas… é muito baixo… isso cria um grau de vulnerabilidade muito grande, para o governo, para a segurança do país… isso precisa sim ser corrigido…”

Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar