Política Brasil

Entre o cão e o carcará – texto de colaborador

A eterna via crucis de um povo

Esta semana que se encerra trouxe um sinal contundente de que a república brasileira é de fato um vasto bananal administrado por proxenetas. Não precisamos repisar tudo que já foi dito sobre a última jogada suja do “Supremo Foro de São Paulo”. A manobra estapafúrdia, que surpreenderia o burocrata comunista mais cara de pau, se não livrou o ex-sindicalista mor da cadeia, tornou-o novamente elegível, reabrindo a tampa dos infernos, que pensávamos estar selada para sempre. Mas como dizem, o Brasil não é um país sério. Bolsonaro, que não soube cumprir o papel que a História lhe reservou, vê-se agora numa luta reles por sobrevivência política em que sua vitória pode ser o menor dos males.

Segundo Eduardo Bueno, em seu livro a Viagem do descobrimento, “o nome ‘Brazil’ provém do celta bress, que deu origem ao verbo inglês to bless (abençoar). “Hy Brazil”, portanto, significa ‘Terra Abençoada’”. É muito dito que o Brasil seria o “coração do mundo”, o “celeiro do planeta”. Graças à Monarquia, o Império não se pulverizou entre miríades de micronações como aconteceu com a América espanhola e o resultado foi um território sem paralelo entre latitudes privilegiadas do globo terrestre. Além da abundante água visível, o maior aquífero do planeta, o Guarani, está em solo brasileiro.

Contraponto a todo esse cenário paradisíaco, o Brasil conta com Forças Armadas que, de acordo com  autoridades no assunto, estão muito aquém de cumprir com mínima eficiência a missão de defender seu território. Materialmente sucateadas, profissionalmente desmotivadas, quantitativamente deficitárias, e atualmente em franca desestruturação por força da Lei nº13.954/19, que mostrou que só uma categoria, os oficiais, são considerados militares de primeira classe, e todo o resto é acessório, as Forças singulares não fariam frente a um inimigo mais audaz.

Bolsonaro foi o oportunista falastrão que se apoderou, ou foi “empoderado”, como o homem da direita brasileira. Uma máscara – a única que ele não se importa de usar –, que em dois anos de governo já caiu. Mas, conquanto seja um arremedo do que deveria ser, um moralizador da política (missão para a qual já se mostrou incapaz), ele ainda encarna, ou pelo menos representa, a possibilidade de ressurreição de um moribundo conservadorismo brasileiro. Há, claro, os bolsonaristas de chão de fábrica, os peões desse jogo. Estes apenas babam palavras inúteis como toda horda descerebrada. Outros, porém, mais acima no espectro, apoiam o Presidente, não por méritos dele (quais seriam, afinal?), mas porque ele poderia galvanizar um movimento conservador nacionalista, e quem sabe, conjurar um líder preparado para um futuro que parece nunca chegar.

Contra isso, contra essa possibilidade – ainda que remota – não contra Bolsonaro (ele foi um trocadilho imperdoável, mas necessário da História), mas contra a verdadeira consciência patriótica brasileira – não o teatrinho cívico dos generais – insurgem-se as potências globalistas. À testa desse aríete irrefreável, o pretensioso conquistador eurasiano, a China.

Temos então uma equação aqui, no primeiro termo: um povo moralmente combalido “de tanto ver triunfar as iniquidades”, um território que é uma mina inesgotável de recursos, um exército de papel e uma classe político/jurídica quase totalmente corrompida e de apetite insaciável por tudo o que é putrefato. No segundo termo da equação: a China comunista, ditadura de partido único; armada até os dentes; um povo praticamente todo cooptado (“cada cidadão um soldado”, Mao Zedong) e uma sanha louca por suplantar o número um do mundo.

Os negacionistas dirão que os interesses chineses são exclusivamente comerciais. Já expusemos aqui neste site o vade mecum da estratégia chinesa para este século. O livro “A Guerra além dos limites” dá um quadro geral do que seriam (e após vinte anos, vemos que estão se cumprindo à risca) as pautas imperialistas do Partidão. Ora, não é preciso ser doutor em História para ver que um Brasil desmoralizado, de juventude entorpecida, com exército sucateado, de instituições político-jurídicas carcomidas e instáveis, seja o campo ideal para fincar a bandeira vermelha. Mas, num primeiro momento, não com tanques e mísseis. Nada disso. Terras serão compradas¹, acordos comerciais serão assinados – por mãos míopes que não lerão as letras miúdas. O Brasil não é o Iraque. O Brasil é uma joia rara e delicada. Precisa ser “tratado” com jeito. Guerra cultural seria realmente teoria conspiratória? Não para a frente parlamentar Brasil-China, que, longe de alimentar nossa desconfiança sobre esse tema, está aí para nos lembrar quão importante é, durante a pandemia do vírus chinês, comemorarmos por via legal (PL 300/2021)² o ano-novo chinês.

Lula da Silva é antes de tudo um comunista. Ele e toda a gangue que o cerca. Que melhor cenário político poderia haver para o PCC do que ter na presidência da maior nação sul-americana um coidealista? Não é necessário olhar o passado, pois no Brasil até o passado é duvidoso. O futuro que nos espera, pode ser mais sombrio do que tudo que já passou. Guiado pelos nove dedos de Lula, e seguido de perto pelo tigre asiático, o Brasil poderá ser a semente daquilo que Michel Temer gravou em 1988 no § único do Art. 4º da Constituição da República, “uma comunidade latino-americana de nações”, isto é, a famosa Pátria Grande³.

Difícil neste período da quaresma cristã, não fazer um paralelo com a via crucis. Por mais que tente, por mais que repetidamente este país se erga, invariavelmente a História lhe desfere um novo golpe, cada vez mais forte, mais definitivo. O Brasil agora parece estar subindo o seu calvário, a caminho da  crucificação entre o cão e o carcará.

JB Reis

Revista Sociedade Militar

A Revista Sociedade militar não necessariamente concorda com a visão de mundo expressa em textos de colaboradores.

https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/senado-terras-estrangeiros/

https://diariodorio.com/deputados-e-autoridades-da-china-defendem-plei-que-inclui-ano-novo-chines-em-calendario-nacional/

https://medium.com/@loryelrocha/a-p%C3%A1tria-grande-o-foro-de-s%C3%A3o-paulo-a-banca-e-o-eurasianismo-4d7915b41c51

 

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Sociedade Militar