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As Sombras se adensam – ( jogou a pá de cal sobre 82% dos militares ) Artigo de colaborador

Contra uma aliança entre um político, do qual se esperou, em vão, imparcialidade, e generais sedentos por autossatisfação, o princípio constitucional da independência entre os poderes foi o primeiro a morrer.

Um breve panorama sobre os frutos da era Bolsonaro

Depois que uma fronteira, até então tida por intransponível, é rompida, dificilmente ela deixa de ser constantemente assediada, até que nova invasão tenha sucesso. A sórdida manobra do Governo Bolsonaro que culminou na Lei 13.954 não passou despercebida das aves de rapina que adejam sobre a capital do Poder. Alguns envolvidos na trama tiraram vantagens imediatas e continuam sendo honrados por aqueles que, aos olhos dos prejudicados, perderam a honra. Outros tentam se beneficiar da total falta de representatividade política dos militares para levantar bandeiras falsas e se promoverem. O ano de 2021, que parece ter nascido moribundo, acena para um 2022 em que uma nascente ordem distópica pretende nos amordaçar em pleno ano de eleições.

A desestruturação da classe militar (iniciada em 2019) foi salpicada de episódios grotescos, mas, sem sombra de dúvida, o caso do relator do PL 1.645, deputado Vinícius de Carvalho,  entrará para os anais (não oficiais, é claro) da história militar como o mais bizarro. A partir do momento em que ele disse, entre vaidoso e catedrático, num assomo de sacrossanta seriedade, que foi “escolhido pelas três Forças Armadas para ser o relator” do PL – admitindo publicamente que atuaria como “longa manus” dos generais de Bolsonaro -, o deputado jogou a pá de cal sobre 82% dos militares (os praças), que não seriam tratados com justiça, mas agraciados com o desprezo. Contra uma aliança entre um político, do qual se esperou, em vão, imparcialidade, e generais sedentos por autossatisfação, o princípio constitucional da independência entre os poderes foi o primeiro a morrer.

Conquanto não tenha surpreendido ninguém, pois no Brasil até o passado nos pega desprevenidos, na última semana soubemos que o ex-relator, “escolhido” para obedientemente cumprir as ordens da traição de Jair Bolsonaro, recebeu a Ordem do Mérito Militar, que dizem ser “a mais alta honraria do Exército Brasileiro”. Segundo consta nos alfarrábios, a cobiçada bijuteria é concedida a militares e civis, que tenham prestado “relevantes serviços à Instituição”. Novamente bastante emocionado – aos mais sensíveis será difícil conter uma lágrima furtiva – o deputado disse em seu twitter: “trabalhamos diariamente em busca do desenvolvimento do nosso país e também das nossas Forças Armadas”. Sem dúvida, ele merece ser visitado por todos os veteranos que foram “ajudados” por seu “trabalho”.  Nós, do porão dessa nave que naufraga, desse avião em estol, desse tanque que atola, enviamos-lhe nossas insuspeitas continências…

Mas antes que nos assanhemos e vamos soltar os cachorros nas redes sociais deste político ou de outros, é bom saber que já está vigorando o famigerado “pacote anticrime”, Lei nº 13.964/19. Com esta lei, estamos dando os primeiros e firmes passos em direção a um estado de censura policialesca, que será coroado em 2022, ano de eleição, quando, em tese, será uma aventura falar verdades sobre os políticos no Brasil. Essa lei prevê prisão em flagrante e prisão preventiva para quem caluniar, difamar ou injuriar os nossos impolutos congressistas. Neste ano em que um ex-juiz brasileiro de primeira instância, mundialmente reconhecido pelo combate à corrupção, está sendo crucificado pelos onze supremos invejosos, e um ex-presidiário está livre para ser candidato à Presidência da República, haverá ainda tempo de ouvir o coro popular de “solte Barrabás”?

Para fechar com chave de ouro este circo de horrores, a deputada Tábata Amaral lançou o PL 1409, que, sob o pretexto recorrente e hipócrita “de ajudar os mais pobres”, propõe jogar os militares e as pensionistas na vala comum do INSS. Como sempre, nada como ser socialista com o dinheiro dos outros… Mas, se a mocinha parida pelo RenovaBR, acha que está inventando a roda, ela está redondamente enganada. Lá pelos idos de 2019, Bolsonaro, o anti-Messias – este, sim, com competência constitucional para tal – já havia lançado a brilhante ideia de entulhar o RGPS com os milicos e suas viúvas. O que nos causa espécie é que ainda se encontrem cavalgaduras por aí que entronizam políticos de esquerda e de direita como se fossem uns os antípodas dos outros. Quando você é assaltado importa, saber qual mão empunha a arma, se direita ou esquerda!? Mal sabem os bocós que depois do “expediente” em Brasília todo esse pessoal se senta à mesma mesa e bebe do mesmo sangue: o nosso…

JB Reis

Revista Sociedade Militar não necessariamente concorda com as opiniões expressas em artigos de colaboradores, a publicação visa enriquecer o debate e expor as diversas visões em torno dos diversos temas tratados pela revista online
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