Colaboradores - artigos, estudos, reportagens

MINISTRO DA DEFESA RECLAMA DE FALTA DE RECURSOS – Análise de Paulo Ricardo da Rocha Paiva

MINISTRO DA DEFESA RECLAMA DE FALTA DE RECURSOS E DIZ QUE NÃO HÁ POLITIZAÇÃO NAS FORÇAS ARMADAS – COMENTÁRIOS  SOBRE A PRIMEIRA PARTE/RECLAMAÇÃO SOBRE FALTA DE RECURSOS

Fonte primária: Agência Senado

Presidente da CRE, Senadora Kátia Abreu, ao lado do Ministro da Defesa, General Braga Netto

Em audiência na CRE, ministro da Defesa afirma que faltam recursos para o setor

Agência Senado- Durante audiência pública na CRE, representantes da cúpula das Forças Armadas afirmaram que faltam recursos para a área da defesa no país, especialmente para seus programas estratégicos. Segundo a cúpula das Forças Armadas, os cortes nos orçamentos destas se tornaram sistemáticos nos últimos anos e estariam comprometendo programas estratégicos de Defesa, provocando inclusive impactos negativos na economia e na geração e na manutenção de empregos de alta qualidade. O ministro da Defesa, Braga Netto, destacou o corte que as Forças sofreram em seu orçamento para 2021.

Comentário – Esse tipo de afirmação dos representantes da dita cúpula, que se diga, são repetidos desde que foi criado o Ministério da Defesa. Esperava-se que depois das gestões de nada mais nada menos do que os “10” civis, primeiros titulares da pasta, se conseguisse, pelo menos, um maior empenho da parte dos “3” últimos, todos oficiais generais-de-exército, no sentido de, mesmo mantendo a ponderação sobre a falta de recursos, se lograr o máximo em termos de capacidade defensiva dissuasória, com os parcos recursos disponíveis. Pelo andar da carruagem, entretanto, ao que tudo indica, a atual gestão não vai modificar o atual “status quo”.

Agência Senado- Com o bloqueio, o orçamento de 2021 só atende metade das nossas necessidades. Para os R$ 16,5 bilhões que são necessários, dispomos de R$ 8,4 bilhões. Os cortes fazem com que todos os projetos estratégicos atrasem muito e percam em qualidade. O PROSUB [Programa de Desenvolvimento de Submarinos], o SISFRON [Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras] e os caças FX-2 são os mais prejudicados, declarou Braga Netto.

Comentário – R$ 16,5 bilhões são necessários para que? Para VBTP Guaranis? Para corvetas pernetas? Para submarinos banguelas? Sim porque esses meios, com o poder de fogo que cada um destes engenhos bélicos dispõe, não vai dar nem para entrar em combate, batidos que serão bem antes do alcance máximo de suas engenhocas balísticas de limitadíssimos alcance e carga, se comparados aos das grandes potências militares extrarregionais que possuem condições de nos ameaçar. A propósito, que projetos estratégicos tão importantes são esses? Qual a sua importância para se lograr o estágio de dissuasão extrarregional de pronto? Como, no mais curto prazo, se poderá adquirir poder militar contundente que, de forma real, eficiente e eficaz seja capacitado para dissuadir, nos poupando da luta? Não há como fugir desta realidade nua e crua, muito mais do que “ser vigiado”, o inimigo poderoso tem que começar a ser batido por fogos longínquos bem distante da linha de fronteiras e do nosso litoral costa para, na melhor das hipóteses, dissuadi-lo, na pior, fazê-lo chegar o mais desgastado para invadir ou desembarcar em nosso território. O resto é o resto.

Mas para 2021, como já foi visto, só dispomos de R$ 8,4 bilhões. Seria possível com este montante providenciar no sentido de se proteger o nosso contorno periférico? Para que se tenha uma ideia, o gasto com apenas “225” VPTF Astros II, necessárias para guarnecer esta periferia territorial é de R$ 899 999 100, 00, evidenciando quantidade bem menor e representando muito mais do que as “2044” VBTP GUARANI para a defesa nacional. Estas VBTF ASTROS II: mobiliariam, por inteiro e no mais curto prazo, o arco de defesa alada desde Tabatinga/AM até Rio Grande/RS; dotariam o total de 15 baterias periféricas, estas que disparariam vetores de cruzeiro atingindo 1500/2500 km, sem limite de carga.

O cálculo matemático elementar, se confirmado, impõe favorecer as VPTF, viabilizando lograr alcance imediato da tão almejada dissuasão extrarregional. Que seja dito, o Ministério da Defesa “Indefesa” não pode fugir desta gritante realidade, de meridiana clareza quanto à necessidade de, para ontem, se suspender a queima de recursos com material que não soma absolutamente nada, transferindo-os para fabrico de meios de artilharia em foguetes e mísseis balísticos de cruzeiro vitais, de custo coberto com sobra pelo valor autorizado, que foi, na “Lei Orçamentária” para 2020 do Ministério da Defesa, de R$ 106 bilhões. A pergunta que não quer calar é por que essa providência ainda não foi tomada por quem de direito e dever?

Agência Senado – O Ministro da Defesa também comentou o impacto que os cortes orçamentários causam na Base Industrial de Defesa (conjunto das empresas, estatais ou privadas, que participam de alguma das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de produtos de defesa considerados estratégicos). A Base Industrial de Defesa conta com 1.130 empresas específicas, 5.600 que fabricam algum item, 285 mil empregos diretos e 850 mil indiretos. Cada real investido em Defesa gera no Produto Interno Bruto valor muito maior que o investido. São dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: cada R$ 1 investido reflete um valor de R$ 9,80 no PIB. O Brasil exportou US$ 3,6 bilhões em 2020 de produtos dessa área. Já temos negociação com diversos países, neste ano, firmada a US$ 4,5 bilhões. Somos apenas o 85º país no mundo, em relação ao PIB, em investimentos de defesa. Ressaltou ainda que na América do Sul, somos o 7 º colocado.

Comentário – A nossa Base de Industrial de Defesa precisa/deve priorizar, antes de mais nada, os meios defensivos que sejam capazes de dissuadir as ameaças ao nosso território por sobre a calha do Rio Amazonas e ao MARE NOSTRUM, representado pelo Atlântico Sul. Por favor, o resto: empresas específicas, empregos diretos, valorização do PIB, exportações, não vão ser prejudicados com a priorização do que realmente importa para a manutenção incólume da nossa soberania sobre o território brasileiro. Muito pelo contrário, só vai impedir que as todo poderosas potências militares extrarregionais possam interferir na permanência continuada, sem interrupções, daqueles ganhos para nós.

Agência Senado – Os depoimentos dos comandantes das Forças Armadas seguiram o mesmo tom. O almirante Almir Garnier, da Marinha, defendeu a importância do PROSUB (programa de desenvolvimento de submarinos, especialmente os de propulsão nuclear) e de outros programas das FFAA para o país. Disse:  que O PROSUB gera 24 mil empregos diretos, 40 mil indiretos e já arrecadou, desde seu início, R$ 1 bilhão em impostos, que o programa das fragatas Classe Tamandaré, que ainda está no início, já gera 2 mil empregos diretos e gerará 6 mil indiretos. Disse que ossos projetos têm uma relação custo-benefício muito elevada.

Comentário – Só não disse que tanto o PROSUB, assim como o Programa Classe Tamandaré, dimensionados como estão em termos de poder de fogo, não acrescentam nada para o alcance do tão almejado e decantado em prosa e verso “estágio de dissuasão extrarregional”, face aos poderosos bucaneiros navais capazes de nos confrontar no além mar. Mas muitos dizem: – “Ah! Mas na América Latina não existe força naval tão poderosa quanto a nossa! Por Netuno! Quanto ufanismo inútil!

Agência Senado – Para o General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, o Brasil precisa entender que investir em Defesa “é rentável”. Afirmou ele: que temos um trabalho feito por outras organizações, inclusive com a Confederação Nacional da Indústria [CNI], em que chegamos à conclusão de que, para cada R$ 1 investido em Defesa, o retorno é de R$ 3,66, mais que na metalurgia, nas telecomunicações ou na informática; que essa relação é corroborada, inclusive, por outras pesquisas; que os levantamentos mostram que os 17 programas estratégicos do EB devem gerar R$ 112 bilhões para a economia brasileira até 2039 e R$ 60 bilhões em acréscimo no PIB; que são 187 cidades envolvidas em nossos programas, de 26 estados; que são 1.441 empresas ligadas diretamente a nossos programas.

Comentário – Em verdade, de que vai adiantar tudo isso se hoje, agora, neste momento, ainda não dispomos da artilharia com vetores balísticos de cruzeiro, capaz de dissuadir os nossos poderosos e declarados oponentes, justo aqueles que só estão esperando o País “entornar o caldo” na conservação do chamado “pulmão do mundo”.

Agência Senado – Já o comandante da FAB, Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, lamentou que os cortes prejudiquem o cronograma dos programas GRIPEN (de caças), os relacionados ao cargueiro KC-390 e ao SISFRON, que provocam, segundo ele, redução de investimentos e perda de talentos e empregos de alta qualificação.

Comentário – Comparada com a MB e com o EB, em termos de resultados alcançados na busca do que tem interesse vital para a defesa, qual seja, o alcance do “estágio de dissuasão extrarregional”, é a que se encontra em melhor situação, haja vista o desenvolvimento de VANTS e de sua bomba termobárica.

A grande conclusão a que se chega, que seja dito, é a de que a sociedade como um todo, por culpa da politicalha e acomodação dos altos comandos, desde 1985, ano derradeiro dos governos militares, justo aqueles que tinham alcançado o limiar de um experimento nuclear na Serra do Cachimbo (divisa do Pará com Mato Grosso), assimilou de forma bisonha, omissa, negligente, alienada e subserviente o fatídico desígnio de potência de “segunda classe” para o porvir da nacionalidade brasileira. Bye bye Brasil! Bye! Bye!

Paulo Ricardo da Rocha Paiva / Coronel de Infantaria e Estado-Maior

Revista Sociedade Militar não necessariamente concorda ou discorda das opiniões expressas em artigos de colaboradores, a publicação visa enriquecer o debate e expor as diversas visões em torno dos diversos temas tratados pela revista online

Revista Sociedade Militar

Deixe um comentário
Compartilhe
Publicado por
Sociedade Militar