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Militares e eleições. Veja quem investe mais na campanha, militares federais ou militares estaduais

Ao longo dos últimos anos os militares das Forças Armadas têm se questionado sobre os motivos de não possuírem representação política suficiente para modificar propostas salariais e ligadas à carreira dos graduados das Forças Armadas.

Somente no Rio de Janeiro há mais de 270 mil famílias militares, sem contar militares da reserva não remunerada e ex-militares,  o que – estima-se – constitui um círculo de “influência politico-militar” de mais de 1.5 milhão de pessoas.

O que, então, explicaria a baixa representatividade da categoria nos legislativos federal, estadual e municipal?

Uma das respostas sobre a baixa representatividade pode estar no incipiente investimento em campanha realizado pelos militares das Forças Armadas.

Pesquisa feita pela Revista Sociedade Militar aponta que estes, em média, investem 3 vezes menos que os candidatos ligados à segurança pública.

Jornalista e sociólogo ligado à questões militares, atualmente cursando MBA em Inteligência Competitiva e Marketing, Robson Augusto explica que, apesar dos avanços, a categoria ainda é bastante inexperiente no que diz respeito à representação política e aponta como principal problema, além da falta de uma plataforma de campanha clara e ousada, a timidez na argumentação diante do eleitor em potencial.

Acompanho a política ligada aos militares faz mais de 10 anos… diferente do militar das Forças Auxiliares, onde a regra cada vez mais é o incentivo à representação política, nas Forças Armadas o militar que se candidata se transforma em uma espécie de pária, passa a ser visto como alguém não tão digno de confiança e isso se percebe numa maior escala nos círculos de oficiais.

O militar das Forças Armadas é reconstruído completamente nas academias militares, passa a se sentir parte do sistema, parte do organismo. Mesmo tendo dedicado anos a fio às instituições armadas, deixando lá seu sangue, sua saúde e considerando que foram injustiçados nas questões salariais e de carreira, a grande maioria se sente amarrada ao sistema a ponto de fazer declarações como: “A Marinha é uma mãe pra mim, devo tudo a ela” ou “Sem a FAB, que é minha família, eu não seria nada…”, esse sentimento é um limitador bastante forte.

Para o militar padrão se torna algo muito difícil proferir palavras contra a estrutura das instituições armadas. A máxima que diz que não se contesta atos do “mais antigo” permanece até o fim da vida como um limitador da expressão do pensamento. São raros os que despertam do sono e retornam à condição de cidadão pleno no que diz respeito à liberdade de expressão, exercendo seu direito de criticar o sistema, de criticar as forças, os generais, ministros e a distribuição de postos, graduações e salários.

Praticamente todos os militares candidatos consideram que há injustiças nesses quesitos, mas poucos são ousados em seus discursos e praticamente nenhum apresenta uma lista de objetivos a alcançar caso seja eleito, a tradicional plataforma política. 

Embora a história demonstre que os candidatos militares que verbalmente avancem com mais ousadia contra o sistema sejam os mais votados, a categoria encontra poucos com a mesma intrepidez que teve Bolsonaro no início de sua carreira. Entre os militares das Forças Auxiliares os mais ousados também se destacam, como é o caso recente de Gabriel Monteiro e passado de Cabo Daciolo.

A questão financeira é importante, mas creio que a falta de um posicionamento político mais forte é o primeiro problema a ser resolvido. Um cargo político deverá atender as demandas da sociedade, do eleitorado. Portanto, um discurso político pra ser perfeito deve ser capaz de inflamar o público, apresentar soluções, transformar parte da audiência em apoiadores, em cabos eleitorais, em doadores de campanha. O eleitor tem que ser convencido de que é aquele o candidato que terá a coragem necessária para enfrentar o sistema.

Um problema gera outro… entendo que a timidez no discurso tem como consequência a parca quantidade de doações recebidas. Ninguém vai doar para um candidato em quem não acredita.

Sendo franco, a maior parte dos candidatos-militares parece que têm medo de alguma coisa. Se o cara acha que os generais que elaboraram tal lei erraram, foram egoístas, olharam para o próprio umbigo, qual o problema em falar isso? Por quê há tanto medo? Quase todos que ousam falar tentam amaciar o discurso pedindo desculpas com antecedência, com preâmbulos “amaciantes” do tipo “com todo respeito… “, “eu amo a instituição mas …”, são demonstrações claras de medo e o eleitor percebe isso.

Já ouvi coisas do tipo: “esse indivíduo gagueja e se encolhe todo diante de um tenente, como vou acreditar que vai enfrentar o sistema? … vai ser um Hélio da vida

Nas últimas duas eleições não observei nenhum candidato militar que ousasse contestar de forma pública e enfática, com conhecimento de causa, a legislação salarial militar, códigos de conduta, regulamentos disciplinares e que se comprometesse a lutar por mudanças.

O fato é que, seja um problema secundário ou não, pelas pesquisas acima colocadas, o que parece é que falta dinheiro para as campanhas dos militares-candidatos.

Militares estaduais investem muito mais e hoje possuem verdadeiras bancadas nas Assembleias Legislativas de vários estados e no Congresso Nacional. Levando em conta o que disse o especialista consultado e as pesquisas realizadas pela RSM ao longo dos últimos anos, é imperioso afirmar que se militares das Forças Armadas quiserem vencer no ano que vem desatrelados do apadrinhamento do mandatário atual, há necessidade de esforço em pelo menos duas frentes principais, elaboração e apresentação de propostas de campanha e coleta de fundos para que a sociedade interessada tome conhecimento dessas propostas.

Texto de colaborador JA… (Militar / prefere não se identificar)

Revista Sociedade Militar

 

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Sociedade Militar