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“General vota em general!” Deputado Federal no Rio de Janeiro – a “lacuna Bolsonaro”

Ao contrário do que muita gente pensa, o estado do Rio de Janeiro não é um local tão favorável para a eleição de membros da cúpula das instituições militares. Em se tratando de FORÇAS ARMADAS e FORÇAS AUXILIARES, os números dos diversos comandantes, generais e demais oficiais que disputam algum cargo eletivo têm se mostrado decepcionantes – salvo raras exceções – tanto para cargos no legislativo federal como para o legislativo estadual. Isso mostra o caráter “revolucionário” e antielitista característico dos militares do estado, que no passado elegeram vários graduados para cargos legislativos e por último emplacaram o próprio Bolsonaro, que até ser alçado a presidente foi um grande crítico das elites armadas.

Após a eleição de Bolsonaro como presidente da república surgiu uma lacuna representativa e o que se espera é que as eleições consagrem o representante ou – quem sabe – os representantes de fato da família militar no Congresso Nacional.

O efetivo das estruturas militares no RJ é formado majoritariamente por graduados ou praças, que chegam a compor 90% da tropa. Se no Rio há cerca de 280 mil famílias de militares das Forças Armadas, há razões para se crer que, destes, pelo menos 250 mil são soldados, cabos, sargentos e suboficiais e muitos carregam o voto de seus familiares e amigos, o que aumenta em muito o potencial eleitoral desse grupo.

O fenômeno Bolsonaro não vem de hoje. Ele conquistou a confiança da tropa justamente quando não havia qualquer tipo de representação, no fim do regime militar. Os últimos sargentos eleitos haviam sido cassados nos anos 60, e Bolsonaro se apresentava como o elemento “de fora” dos círculos que compunham a cúpula, declarando que não compartilhava o pensamento que a oficialidade possuía sobre a tropa. Apareceu como uma espécie de outsider do campo militar e fazia suas campanhas sempre acompanhado de sargentos.

Na época, a possibilidade de um sargento ou subtenente se candidatar para qualquer cargo era praticamente nula, as questões financeiras atrapalhavam muito e a repressão dos governos militares era muito pesada para essas categorias. Aqueles sargentos que foram eleitos em 1962/1963 haviam sido cassados de forma sumária e isso estava ainda na memória dos militares da ativa e reserva.

Quem pensa que o General Eduardo Pazuello, se for apresentado como candidato de Bolsonaro no Rio de Janeiro em 2022, concorrendo para deputado Federal, chega com o apoio da tropa, pode estar enganado. Pelo que se observa nas redes sociais de militares das Forças Armadas a rejeição contra o oficial é gigantesca. Foi dessas mesmas redes militares que vazaram episódios complicados, como a situação em que teria colocado um soldado para puxar uma carroça como se fosse um cavalo.

“___ Mas, Hélio Lopes é um praça!”, alguém poderia dizer.

Sim, e sabe-se que o próprio Hélio Lopes não foi eleito com o voto dos militares das Forças Armadas. Em duas tentativas anteriores de ser eleito sem o apoio de Bolsonaro recebeu votações inexpressivas, o que mostra que só tem potencial se for arrastado por alguém de maior peso político. Não conseguiu também emprestar status pra ninguém nas eleições municipais, seus candidatos acabaram fracassando na região da Baixada Fluminense.

De fato, não se observa nas propostas de Hélio Lopes nada que corresponda aos interesses dos militares que compõem as camadas médias e à base das Forças Armadas e Forças Auxiliares. O deputado é conhecido pela tropa como “papagaio de pirata”, alguém que fica ao lado do chefe todo o tempo, aparecendo em fotografias por sobre o ombro do presidente, mas que nunca senta em uma mesa de negociações, ou faz um discurso enfático ou útil, porque teria medo de perder a “boquinha”.

Durante a tramitação da reestruturação das carreiras das Forças Armadas, norma mais importante dos últimos anos para os militares, que trouxe vantagens para muitos da ativa, para alguns da reserva e prejuízos para algumas categorias, o deputado Hélio Lopes, mesmo estando intimamente ligado ao presidente Bolsonaro, abriu mão de participar dos processos e discussões e se negou a tomar partido a favor de graduados que apontavam erros no projeto de lei, que por fim trariam prejuízo principalmente para as pensionistas.

Esse fato acabou depreciando mais ainda seu status eleitoral diante da tropa.

No Rio, portanto, pelo que se percebe pela “temperatura” das redes sociais, o voto militar deve se concentrar nos suboficiais e sargentos candidatos, deixando Hélio Lopes e oficiais da cúpula novamente nas últimas colocações no quesito apoio da tropa.

O voto militar no Rio de janeiro é considerado estratégico e já percebe-se movimentações de políticos ligados à siglas como PSOL e PDT para conversas sobre as demandas dos militares.

Paulo Ramos do PDT, político experiente, ex-militar, que concorrerá para deputado estadual, tem se reunido com praças das Forças Armadas e defende a ideia de que mesmo no legislativo estadual terá influência o suficiente para auxiliar nas demandas sobre mudanças em regras sobre salário e carreiras. Já o PSOL, principalmente na figura de Glauber Braga, tem se digladiado com o ministério da defesa desde 2019 na defesa das reivindicações de graduados e pensionistas das Forças Armadas. Com isso conquistou a admiração de muitos da categoria. O partido já agendou uma reunião com graduados para a última semana de abril no centro do Rio de Janeiro.

Por conta desse grande número de votos os partidos mais ao centro e que apoiam o presidente da república Jair Bolsonaro buscam desesperadamente quem já tenha conquistado a confiança da tropa.

Dados coletados recentemente apontam que mais de 60% dos membros da família militar apostam na reeleição de Jair Bolsonaro para presidenta da república. Todavia, como colocado, no quesito eleições os militares não têm tradicional simpatia pela “cúpula fardada”. Algumas das muitas postagens sobre o assunto nas redes sociais de militares comprovam essa teoria. Uma postagem diz: “general vota em general…  corra atrás dos votos dos seus pares …

Isso explica a recente disputa de siglas em torno de um pré-candidato militar ligado à camadas médias e da base das Forças Armadas, o suboficial Bonifácio, que agora na reserva remunerada e com o status extremamente favorável de quem recebeu mais de 15 mil votos em 2018, é um nome que deve aparecer na disputa para deputado federal nos próximos meses polarizando com o general Pazuello pelo voto da família militar carioca.

Continuaremos acompanhando.

Texto de opinião. Autor: Robson Augusto

Atenção: A Revista Sociedade Militar não necessariamente concorda com textos assinados por colaboradores, a publicação integral é parte de nossa política de discussão livre sobre assuntos relacionados às Forças Armadas, geopolítica e instituições de segurança brasileiras.


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