A nova (nem tão nova assim) modalidade de crime que apavora as grandes cidades, são os falsos entregadores que cometem crime em suas motocicletas.
A caixa térmica de entrega nas costas serve tanto para distrair a vítima como para evitar a abordagem da polícia.
A Polícia Militar de São Paulo decretou operação no sentido de coibir esse tipo de roubo, pelo menos até algum juiz entender que o fato de um surto de crimes com o mesmo modus operandi não dá o direito da abordagem (absurdos assim estão ocorrendo).
Ok, a polícia está fazendo a parte dela, mas isso vai resolver a questão? Não.
O motivo é simples: Segurança Pública não é coisa só de polícia. E enquanto insistirem tratar assim, continuaremos enxugando gelo.
Estão, como sempre, atacando o efeito e não a causa. Quando carregar uma caixa do IFood nas costas se tornar um problema, o assaltante não vai procurar um emprego, ele apenas vai tirar a caixa das costas.
O crime migra quando não é combatido na raiz e isso ocorre faz décadas no país, por isso os índices criminais pouco se alteram.
Nos anos 90 os roubos a bancos eram uma constante, foram colocadas portas giratórias nas agências, mais segurança nos bancos e outras ações. A polícia realizava operação “corredor bancário”, etc. Daí os roubos a carros fortes aumentaram e logo o objeto do crime se tornou os caixas eletrônicos, e segue até hoje.
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, o surto foi dos “sequestros relâmpagos”, daí teve uma pequena melhora na ação da Segurança Pública, pois envolveu o legislativo moroso. Adicionaram uma majorante no crime de roubo (art. 157 do CP) – Roubo com Retenção de Vítima (ou restrição de liberdade), gerando um aumento da pena de 1/3 até 1/2. Foi o suficiente para amenizar a situação.
Sendo o crime é uma relação custo/benefício, como bem pontuou Gary Becker em sua Teoria Econômica do Crime, os “sequestros relâmpagos” voltaram devido ao PIX, em que hoje qualquer pessoa é um caixa eletrônico ambulante.
Pergunto: até ontem você teria coragem de andar por aí comum, dois ou três mil reais no bolso? Não?
Então como hoje você tem coragem de andar com tudo o que tem em conta bancária?
Fato semelhante ocorre com o aumento da apreensão de drogas. Não atacando o crime organizado como um todo, há também uma migração, dessa vez com muito mais violência, como por exemplo, o fenômeno do Novo Cangaço em que um grupo numeroso de criminosos bem armados e organizados dominam uma pequena cidade e realizam roubos em agências de valores ou a bancos.
Políticos não aprendem ou seus cálculos são diferentes dos nossos. Há o fator eleitoral, a propaganda negativa, o cálculo de investimento e retorno em votos.
Vale a pena combater o crime organizado e o revide gerar uma repercussão negativa?
Vale a pena construir presídios e ganhar a antipatia da cidade em que ele será construído?
Vale a pena investir em investigação sob o risco dessa polícia investigativa forte também descobrir os crimes de corrupção?
Ou seja, com a ajuda da mídia, nossos problemas criminais parecem que serão sempre varridos para debaixo do tapete.
Davidson Abreu é especialista em Segurança Pública com mais de 28 anos de experiência.
Bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas
Escritor e palestrante / Autor do livro Tolerância Zero – Faro editorial – selo Avis Rara