Texto apresentado em conclusão de curso na ESG mostra que os militares da Marinha do Brasil possuem um nível de endividamento bem acima da média nacional. Enquanto no país o comprometimento médio de renda não passa de 25%, na Marinha os segundos sargentos, por exemplo, chegam a 62% de comprometimento da renda.
“o comprometimento médio da renda desses militares que possuem consignados é bem acima da média nacional … que não passa de 25%, chegando, em alguns casos como na citada graduação de 2º Sargento, aos 62% …”
O trabalho, de autoria de um oficial superior, que usa dados dos últimos 5 anos e explica que nos Estados Unidos da América, por exemplo, um militar endividado perde acesso a determinados setores das instituições militares e até a sua credencial de segurança, que é uma espécie de autorização para acessar dados e locais restritos. No Brasil, segundo o autor do estudo “REDUÇÃO DO ENDIVIDAMENTO PESSOAL: um desafio aceito na Marinha do Brasil”, essa providência seria inviável, na medida em que parte significativa dos militares da força têm empréstimos consignados que comprometem bastante o salário.
O estudo apresenta como uma de suas ilustrações o caso do sargento da FAB preso por tráfico de drogas na Espanha. Em sua confissão, segundo a mídia, ele teria dito que “… estaria ‘profundamente arrependido’ e somente teria concordado em praticar o ilícito por estar em ‘dificuldades econômicas’…”
Os gráficos apresentados no material mostram que o endividamento maior é entre as praças, conhecidos também como graduados. Entre os segundos e terceiros sargentos o número de militares com dívidas chega a 63% do total (dados de 2018) e entre os oficiais superiores o número é de 25%.
Segundo o texto, o endividamento pode trazer desde uma baixa motivação para o trabalho a desvios de conduta que causariam prejuízos materiais, à vida de militares ou à imagem da instituição.
“os riscos potenciais do endividamento pessoal da Força podem variar desde uma desmotivação com o trabalho até um acidente grave ou um desvio de conduta, que podem causar grandes prejuízos materiais e de vidas e afetar seriamente a imagem da instituição.”
A Marinha do Brasil, narra o autor, está preocupada com a tríade – pessoa, família e instituição – e implementa providências para realizar-se “iniciativas que contribuam para a motivação, auto realização e melhora da qualidade de vida do pessoal”.
“A Marinha do Brasil tem enfrentado esse desafio de forma apropriada. Tanto a Política Naval, documento de mais alto nível de planejamento da Força, quanto o Plano Estratégico da Marinha condicionam e priorizam ações que visam à mitigação do problema do endividamento pessoal…”
Há em curso estudos e iniciativas que visem à promoção de um maior nível de satisfação e bem-estar do militar e de sua família, de forma a contribuir para a prontidão do Poder Naval, incluindo a inclusão de conteúdo de educação financeira nos cursos de carreira, sejam de longa duração (formação e especialização) ou de curta duração.
Não percebeu-se no trabalho ênfase à situação dos militares da reserva remunerada ou a recuperação salarial da categoria como um todo. O que se percebe in loco é que o empréstimo consignado é componente constante do “orçamento” de milhares de militares e é comum ouvir-se frases de brincadeira como “a margem aumentou”, quando há alguma reposição inflacionária e isso deixa evidente que parte significativa dos militares compromete toda a margem consignável e – pior – que isso é encarado como algo comum na tropa.
Em várias organizações militares há agências bancárias especializadas na agilização rápida de empréstimos consignados, como Poupex, banco Alfa e outras. A própria presença dessas instituições dentro de quartéis poderia, pelo prisma de alguns, ser interpretada como um incentivo ao endividamento.
Fonte
O texto completo pode ser lido no repositório da Escola Superior de Guerra. O link é https://repositorio.esg.br/bitstream/123456789/1127/1/CAEPE.03%20TCC%20VF.pdf
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