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O que vai acontecer agora. Generais buscam apressadamente uma estratégia para preservar o que lhes é mais caro

Querem a verdade ou desejam mais uma teoria conspiratória sobre as Forças Armadas, estratégias avançadas e o processo político em curso? Tenho um textinho rápido, postado para amigos em nossas redes sociais. Divido com vocês nessa manhã de segunda.

Robson Augusto, editor da Revista Sociedade Militar

Massagear ego, dizer só o que o leitor desejaria ouvir como grande manchete definitivamente não combina com a gente, falamos a verdade. Isso não significa que concordamos com o que está acontecendo.  O pessoal está indignado com o resultado das urnas, com razão! Mas, até quando permanecem fechando as estradas?  

Até a polícia os convencer de que o país precisa andar. Até as pessoas começarem a morrer por não chegar em um hospital! Até faltar pão na padaria?

Não chegará tão longe. Se um for preso os outros logo perderão o ânimo. São pessoas de bem, trabalhadores que querem o melhor para o país.

Mas… pessoas de bem também podem ser induzidas ao erro.

Estamos recebendo centenas de acessos na Revista Sociedade Militar e outros sites ligados aos militares. São pessoas buscando informações sobre os militares e sua visão das coisas. Os militares apareceram muito nos últimos anos e a própria cúpula armada sabe que isso acabou gerando expectativas.

Parte da sociedade quer agora saber se algo vai ser feito, se haverá uma reação armada. Afinal, os militares assumiram publicamente um papel de fiscais do TSE.

Mas, não vai ocorrer uma atitude radical da cúpula. As Forças Armadas vão retrair estrategicamente e rapidamente abrir mão do mui recente protagonismo alcançado.

Generais não conseguiram apurar nada que pusesse realmente em xeque o sistema eleitoral, hoje o que se tem são apenas ilações e é irracional crer que exista uma conspiração gigante dentro do TSE, o que necessitaria da participação de dezenas de funcionários públicos. 

Bolsonaro foi eleito em 2018 com esse mesmo sistema eletrônico e muitos aliados de Bolsonaro foram eleitos nesse pleito, o legislativo se tornará majoritariamente conservador, o que joga por terra a hipótese de que as urnas seriam pró esquerda.

Os oficiais generais se preocupam nesse momento em como estabelecer uma estratégia para aproximação com o novo governo sem ser humilhados demasiadamente e sem que as Forças Armadas saiam perdendo nos próximos orçamentos. Muitos deles, que muito lutaram para alcançar o status que hoje possuem, se preocupam em não perder as regalias salariais disfarçadas que conquistaram no governo Bolsonaro e que não foram estendidas a grande parte da tropa da ativa, reserva e pensionistas.

Essa questão salarial foi vista como uma grande traição e teve como consequência um sentimento de abandono, de traição. Bolsonaro perdeu muitos eleitores da família militar, que o sustentavam desde seu primeiro mandato de deputado, quando foi eleito justamente tendo como base um discurso de melhorias salariais para militares de baixa patente.

Teorias das galáxias

Não adianta divulgarem nas redes sociais 1000 áudios e vídeos com papinho de coronel fake, sargento beltrano e suboficial cicrano dizendo que tudo é uma grande estratégia intergaláctica arquitetada pra pegar todo mundo de surpresa com um tal artigo 142 e a tão sonhada intervenção militar.

Uma ação militar, os generais sabem, seria catastrófica, principalmente quando se sabe que temos metade do país apoiando a esquerda. Ninguém quer jogar o Brasil em um caos, numa guerra intestina que poderia ceifar a vida de muitos jovens e certamente arruinaria nossa nação por um longo tempo, isso se não ocorresse o pior e o Brasil se dividisse em vários países pequenos.

Nas redes já há pessoas falando novamente em dividir o Brasil, criando um país separado unindo os estados do Sul e São Paulo, proposta que retorna em quase todas as crises.

Aliás, tem gente que quer isso sim, atirar o Brasil numa crise desse tipo é tudo que parte da nata “progressista” latino americana deseja, colocando a culpa de tudo de ruim nos militares. O Brasil em caos inevitavelmente sugaria toda América Latina para um redemoinho catastrófico de desorganização econômica e política. Somos nós o pilar da estabilidade geopolítica na região, pacificamente temos fronteiras com 10 países e relações diversas com todos da América Latina.

O parlamento

A direita eleita recentemente por aqui – em tese – é a maioria no parlamento. Portanto, o que vai acontecer, pra quem conhece os porões das Forças Armadas, a mente dos generais e o Congresso Nacional, é deixar os ânimos esfriarem e ficar mesmo com o resultado das urnas, lutando no Congresso, que contará com a presença de 3 generais eleitos, para manter o país caminhando pra frente.

Não vai ter crise. Quem foi eleito quer assumir.

Mas, quem sabe o que vem por aí? Pode vir um impeachment no primeiro vacilo de Lula. Ou o contrário, metade dos conservadores oportunistas pode trocar de lado por conta das benesses do governo federal, concretando Lula no Planalto por mais 8 anos?

Relatórios de investidores apontam que  dos 513 deputados eleitos, somente 120 são realmente conservadores, de fato muitos da tal base da direita são bolsonaristas de momento, tipo Joice Hasselmann e Alexandre Frota foram.

Pode ser que haja uma batalha judicial pelo resultado das urnas, reforçada por uma ou outra grande manifestação, com o povo nas ruas exigindo justiça.

Afinal foram muitas intromissões do TSE, mas não passará disso.

Muita gente vai reclamar desse texto, assim como de 10 anos pra cá reclamam de todos os nossos textos que negam teorias fantasiosas envolvendo militares, como a dos caças russos, das intervenções militares que sempre ocorreriam na semana que vem que nunca chegava ou a das bases chinesas na Amazônia.

O bolsonarismo perdeu muitas boas mentes porque simplesmente atirava no lado contrário, tratava como inimigo todos que ousavam discordar de um só ponto da sua sacro-unanimidade. Quem pensava diferente em um milímetro virava comunista e sem que se admitisse sequer a discussão dos pontos de divergência, era expulso do time.

Militar é sinônimo de estratégia. 

Uma intromissão abrupta na política definitivamente não é vista pelos generais como a melhor coisa a se fazer no momento.

Não vai acontecer nada amanhã.

Não se trata do meu desejo. É uma previsão com base naquilo que apreendemos ao longo de décadas dentro das Forças Armadas e muito tempo ao lado daqueles que realmente tomam as decisões.

Hoje é 31 de outubro de 2022. Retorne aqui em um mês e me diga que eu estava errado.

Att, Robson Augusto. Militar R1, jornalista, cientista social, curtindo a aposentadoria e observando o mundo de um local praiano.

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Robson Augusto