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Mais de mil gaiteiros escoceses foram mortos na Primeira Guerra Mundial – História militar ilustrada

O soldado escocês Daniel Logan Laidlaw, apelidado de “O Gaiteiro de Loos”, toca sua gaita-de-foles para seus companheiros durante a Batalha de Loos, 25 de Setembro de 1915.

25 de Setembro de 1915. Daniel Logan, um gaiteiro de quarenta anos do Sétimo Batalhão, Décima Quinta Divisão Escocesa de Infantaria, Exército Britânico, estava pronto pra ver o combate mais importante da sua vida.

Após um intenso bombardeio das linhas alemãs, o comando aliado rapidamente ordenou o avanço das suas tropas. A inteligência britânica acreditava que o inimigo estava em menor número e, após o bombardeio, mais enfraquecido do que nunca. Uma vitória, portanto, parecia o único resultado possível.

Infelizmente para os aliados, apenas uma dessas opções se provaria verdade: os alemães estavam, de fato, em menor número (eram 3 divisões, contra 6 dos britânicos), mas o bombardeio pouco fez para abrir uma brecha na cerca de arame farpado, ou pra destruir os ninhos de metralhadora muito bem posicionados dos defensores.

Nada disso, no entanto, pareceu intimidar os soldados aliados. Ou ao menos, um deles. Munido de sua gaita-de-foles e usando o tradicional kilt escocês, o soldado Daniel Logan Laidlaw saltou pra fora da sua trincheira, tocando a famosa canção Blue Bonnets Over The Border. Ao vê-lo tocar, o moral dos seus companheiros se elevou, e eles avançaram resolutos sobre a terra-de-ninguém.

Uma matéria da London Gazette, de novembro de 1915, ilustra essa passagem:

“A bravura mais notável antes de um ataque às trincheiras alemãs perto de Loos e da Colina 70 na data de 25 de setembro de 1915. Durante o pior do bombardeio, quando o ataque estava prestes a começar, o gaiteiro Laidlaw, vendo que sua companhia estava um tanto abalada com os efeitos do gás, com absoluta frieza e desconsiderando o perigo, subiu no parapeito [da sua trincheira] e avançou marchando, trazendo com sua música a sua companhia para fora da trincheira. O efeito de seu esplêndido exemplo foi imediato e a companhia partiu para o ataque. O gaiteiro Laidlaw continuou tocando sua gaita até ser ferido.”

A música que Daniel Logan tocava nesse dia pode ser ouvida aqui:

Por sua bravura, ele recebeu a Cruz Vitória, (em inglês: Victoria Cross, ou apenas VC), a mais alta condecoração militar concedida por bravura “na presença do inimigo” para os membros das forças armadas dos vários países da Commonwealth britânica. A honraria foi lhe entregue pelo próprio rei George V no Palácio de Buckingham. Apenas um outro gaiteiro recebeu essa condecoração durante a Primeira Guerra Mundial.

Logo depois, ele foi promovido a cabo e, quase imediatamente, a sargento. Em 1917, os franceses o premiaram com a Croix de Guerre.

Avanço da infantaria britânica em meio a fumaça de gás durante a Batalha de Loos em 25 de setembro de 1915. Em algum ponto aí no meio está o gaiteiro-de-foles Daniel Logan Laidlaw.

Mas o que eram os gaiteiros escoceses?

Originalmente, esses soldados eram usados pra guiar os movimentos táticos das tropas, similar aos corneteiros da cavalaria. Seu maior efeito, contudo, era elevar o moral dos seus camaradas e incentivá-los a avançar sobre o inimigo, mesmo nas condições mais adversas. Isso se provou especialmente verdadeiro durante a Primeira Guerra Mundial.

Gaiteiros tocam “The Campbells Are Coming” enquanto avançam sobre o inimigo durante a Batalha de Delville Wood, 1916.

Esses gaiteiros conquistaram uma reputação temível nos campos de batalha da chamada “Grande Guerra”. O som das gaitas espalhava terror entre as tropas alemãs – e serviu inclusive de objeto para inúmeros estudos sobre “Guerra Psicológica”.

E não é por menos. Esses homens chamavam a atenção por sua coragem, bravura, e porque não dizer, loucura durante o combate. E isso lhes rendia apelidos. Alguns deram-lhes a alcunha de “Demônios de Saias”. Outros, como os soldados alemães, os chamavam de Die Damen aus der Hölle (Senhoras do Inferno). Essa forma curiosa de chamá-los tem razões interessantes: “Senhoras”, é claro, é uma piadinha óbvia, uma provocação, por conta dos kilts xadrez característicos que usavam, que lembravam saias femininas. Já a segunda parte do apelido se deve ao fato de que esses sujeitos não apenas pareciam doidos – tocando gaitas-de-foles no meio de um intenso tiroteio – mas também eram capazes de inflamar um exército inteiro e estimulá-los a atacar mesmo nas batalhas mais atrozes, apenas com sua música.

“É claro que você tinha medo, mas tinha que fazer isso, eles dependiam de você”, lembrou Harry Lunan, o último gaiteiro de foles da Primeira Guerra Mundial, ao Sunday Express em 1993. “No primeiro ataque [em High Wood], toquei a melodia Cock o’ the North. Eu tocava e minha companhia avançava, direto para as trincheiras alemãs. Parecia o inferno… Homens caindo ao meu redor, mortos… Foi horrível … [mas] ouvir a gaita dava coragem às tropas.”

No final da guerra, mais de mil desses bravos guerreiros haviam sido mortos na Primeira Guerra Mundial. Mas sua obstinação, coragem, e dedicação ao serviço serão pra sempre lembrados e homenageados pelos seus companheiros e compatriotas.

Cock o’ the North.

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Publicado por
Rafael Cavacchini