Defesa e Geopolítica

“Nem um único prédio está intocado pela guerra”. Exército ucraniano continua defendendo Bakhmut, apesar das dificuldades.

“Centro da cidade-fortaleza Bakhmut. Aproximadamente 900 metros até as posições do grupo Wagner do outro lado do rio”, diz a legenda da foto postada no Twitter do ativista russo Petya Verzilov.

Nos últimos dias, intensificou-se o combate entre as forças russas e ucranianas pelas ruas de Bakhmut, uma cidade no leste da Ucrânia que em outros tempos foi habitada por cerca de 80 mil pessoas.

Isso antes da invasão russa, em 2022. A estimativa é que hoje não cheguem sequer a um décimo disso, entre homens, mulheres e crianças. Esta semana, o vice-prefeito da cidade, Oleksandr Marchenko, declarou à agência de notícias BBC que os aproximadamente 4.000 civis restantes na cidade vivem em abrigos sem acesso a gás, eletricidade ou água. Marchenko acrescentou que “nem um único prédio” está intocado pela guerra e que a cidade está “praticamente destruída”.

Bakhmut está há meses enfrentado combates intermináveis. A Rússia tenta insistentemente assumir o comando da cidade, mas ainda sofre pra expulsar seus defensores.

Soldado ucraniano faz uma pausa para fumar antes de outra batalha contra forças russas. Bakhmut, Donetsk. Fevereiro de 2023, foto por Yevhenii Zavhorodnii

Combates dentro e fora da cidade

O vice-prefeito Marchenko disse que os combates estão acontecendo por todo lugar. “Há combates não só ao redor da cidade, mas também nas ruas”, declarou a agência britânica BBC.

Bakhmut, se for conquistada pelo exército russo, a esta altura, tem um valor estratégico no mínimo questionável: analistas militares sugerem que, nesse ponto, qualquer vitória russa pode ser apenas pírrica – ou seja, já não vale mais o custo em equipamentos e homens. No entanto, se conseguir finalmente tomar a cidade, a Rússia poderá celebrar um raro sucesso no campo de batalha, ao menos nos últimos meses. O avanço do exército russo tem sido lento, custoso e, em alguns lugares, está completamente estagnado.

A Ucrânia diz que milhares de soldados russos morreram tentando tomar Bakhmut. A estimativa é que os russos tiveram sete vezes mais baixas que os ucranianos. 

A queda de Bakhmut é prevista há mais de seis meses, mas inexplicavelmente, ainda não aconteceu. Os defensores permanecem determinados e não tem dado, ao menos visivelmente, sinais de que irão abandonar a cidade. É difícil, no entanto, saber o que está acontecendo sem outras fontes independentes. Ambos os lados ganham mais tentando confundir o inimigo com números fictícios e relatos infundados de vitória, do que fornecendo informações precisas.

“Atualmente não há comunicação. Bakhmut está isolada, com pontes destruídas, e a tática que os russos estão usando é a tática da terra arrasada, disse o vice-prefeito Marchenko ao programa Today, insinuando que os russos estão destruindo indiscriminadamente a cidade. “Eles querem destruir Bakhmut, querem destruir a cidade como fizeram com Mariupol e Popasna”, concluiu ele, referindo-se a duas cidades no leste da Ucrânia agora sob controle russo, após também ter sofrido intensos bombardeios e passado por meses de combates.

Hospital de campanha para soldados ucranianos feridos. Bakhmut, Donetsk, fevereiro de 2023. – Foto por Evhenii Maloletka
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Publicado por
Rafael Cavacchini