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Comandante do Exército ressuscita o “grande mudo”, força mantém política de pouca conversa nas redes sociais

No começo deste mês a Revista Sociedade Militar publicou uma notícia sobre as redes sociais do Exército brasileiro. Naquele dia 05 de março a Força terrestre completava mais de um mês de interatividade reduzida com seu gigantesco e fiel público seguidor, quase 3 milhões de usuários só no Twitter. O atual comandante, general de exército Tomás Paiva, mantendo um posicionamento de interação mínima com o público virtual, causou um forte contraste em relação à interação mantida no governo anterior.

Pois a “mudez” da Força singular que tem identificação mais imediata com o povo brasileiro ainda continua. Uma pesquisa superficial nos (poucos) “retuítes” dados – interação que o Twitter não permite ser silenciada – nas publicações feitas pelo Exército evidencia que os usuários recorrentemente questionam uma suposta “traição” dos militares por terem “deixado” o atual Presidente da República “subir a rampa” e ter assumido o cargo mais importante do país.

O GRANDE MUDO

Em 2019, ao passar o comando do Centro de Comunicação do EB para o general Richard Nunes, Otávio do Rêgo Barros, general que se tornou porta-voz de Bolsonaro (e hoje é colunista na grande imprensa), em discurso de despedida, fez uma interessante revelação sobre interatividade e sobre a penetração do Exército no mundo virtual. Ele disse:

O ingresso do Exército Brasileiro nas mídias sociais também foi lembrado: “mergulhar de cabeça no ‘submundo’ das mídias sociais – Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Portal Responsivo, Eblog etc – e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil exigiu sangue frio na interlocução sem rosto, típica da internet, suor à frente do teclado e lágrimas de emoções pela conquista do cimo”.

Quatro anos depois, o “órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil” ironicamente ecoa a doutrina do general getulista Góes Monteiro, que chamava o Exército de “o grande mudo”, doutrina segundo a qual “nas lutas políticas, o Exército não deve passar do grande mudo – condição essencial de sua coesão e eficiência e até mesmo de sua existência como instituição. Sua verdadeira e única política é a preparação para a guerra.”

Para além de seguidores no ambiente virtual, os custos do envolvimento dos comandantes miltares e da cúpula das Forças Armadas com as questões políticas ainda estão para ser avaliados. Mais do que ganhar ou perder cliques, ser comandante de uma Força que não conta tanto com a simpatia do povão (seja por que motivo for) certamente é um obstáculo a mais para qualquer oficial general. No mundo de hoje, qual será o custo disso?

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Publicado por
JB Reis