Em uma palestra intitulada “Militares de Esquerda e de Direita e a Questão Nacional”, parte de um projeto de Extensão da Universidade Federal Fluminense, o professor doutor Paulo Ribeiro Rodrigues da Cunha (UNESP) dissertou sobre a ação política de militares posicionados à esquerda e sua influência sobre as Forças Armadas ao longo das últimas décadas.
O estudioso fez colocações importantes e revela um pouco da visão que a academía poossui dos militares brasileiros e sua participação política. Importante destacar menção do estudioso ao pouco número de trabalhos que pensam os militares e sua atuação na seara política. O professor relembrou que no Brasil a presença de militares na política partidária não é algo incomum, que isso ocorreu no passado com várias candidaturas e até com a eleição de Dutra. “o fenômeno Bolsonaro em si, no tempo e na história, não é novo, inclusive na sua mediocridade, porque quem ganhou em 46 foi Dutra, que era um imbecil“.
Ao mencionar o grande número de militares transportados por Bolsonaro para dentro do governo, o professor mencionou que havia uma ala militar que esperava controlá-lo, chamou a atenção para o fato de esses militares rapidamente terem “desembarcado”, o general Rego Barros seria um deles. O militar, que estava ainda na ativa, foi um dos que preferiu se afastar do governo a se submeter às ordens do então presidente, mesmo tendo grandes possibilidades de ser promovido a General de Exército, último posto da carreira dos oficiais que ingressam pela AMAN.
“tinha uma ala militar organizada e outros que já caíram fora, que entendiam que controlariam Bolsonaro. Não se controla um louco, evidentemente…. “
Segundo Paulo Ribeiro, no final do governo a maioria dos generais não endossava a idéia de um golpe militar e relembrou que o então presidente possuía um amplo apoio de uma sociedade conservadora e setores mais radicais que apoiavam ser “misógino, racista” etc.
“Dos comandantes militares pelo menos 2/3 não afiançavam a idéia de um golpe militar, que era o que Bolsonaro queria… O mérito que Bolsonaro teve foi destampar um setor da população que achava correto ser misógino, racista, reacionário e vir a luta com muito orgulho, com muita violência…”
Em parte de sua palestra o professor relembrou que militares de esquerda formaram grande parte do contingente militar que foi enviado para combater o nazifascismo na Europa.
“militares (de esquerda) continuavam a atuar em grupos isolados principalmente no Rio Grande do Sul… a partir do momento em que o Brasil começou a fazer uma aproximação com os aliados, Isolando os nazi-fascistas, que eram muito presentes no estados maior do Exército por exemplo, você começou a ter uma oxigenação nas Forças Armadas e esses grupos começaram a emergir… com a formação da FEB dezenas de militares de esquerda atuaram… muitos primeiros colocados se recusaram a ir para a guerra, mas os militantes…militares de esquerda foram…”
Ao concluir sua fala o professor deixou claro que acredita que o papel dos militares deve ser bem definido no Brasil e que não deve-se apenas “amansá-los” comprando “brinquedinhos” como tem feito o presidente Lula.
“o desafio de se pensar os militares das Forças Armadas… ainda há uma dificuldade de se dialogar de se colocar e parece que a mesma linha que está sendo colocada foi a que houve anteriormente, os militares receberam o bolo maior do orçamento”.
Robson Augusto – Cientista Social, Militar RRm, especialista em inteligência e redes sociais
A Palestra, que foi disponibilizada no Youtube, pode ser assistida no vídeo abaixo