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‘Quero compensar meus erros’; depoimentos de prisioneiros de guerra russos que lutam pela Ucrânia

Vlad, um soldado russo, compartilhou com a Al Jazeera sua experiência, durante uma viagem de ônibus da Ucrânia para a Rússia para uma troca de prisioneiros. O ex-soldado russo relatou que um homem alto de cabelos escuros entrou no veículo, alegando ser o comandante do Corpo de Voluntários Russos, o RVC. De acordo com Vlad, este homem ofereceu aos passageiros a oportunidade de se juntarem à sua unidade de russos que lutam pela Ucrânia, mesmo que anteriormente tenham sido militares na Rússia.

Membros do Corpo de Voluntários Russos em 24 de maio de 2023. Foto: Divulgação

“Eu queria compensar meus erros do passado”, disse vlad à Al Jazeera em um café perto de Kiev. “A certa altura, compreendi que o que nos diziam na Rússia era uma mentira completa.”

Vlad ingressou no exército enquanto cumpria uma sentença de três anos e oito meses por agressão. Aquela seria sua terceira passagem pela prisão desde os 15 anos. Na ocasião, prometeram a ele que seu histórico criminal desapareceria.

“Eu queria limpar minha história e deixar a Rússia. Mas, com antecedentes criminais, não conseguia obter um visto para me juntar aos meus pais no exterior”, explicou Vlad.

O Recrutamento

Posteriormente, em 2022, Vlad se juntou ao Grupo Wagner, uma empresa militar privada liderada pelo falecido Vladimir Prigozhin, à época, ainda aliado do presidente russo Vladimir Putin. Prigozhin pessoalmente visitou a prisão de Vlad para recrutar combatentes.

Cada recruta recebeu a promessa de um salário mensal de 250 mil rublos, ou cerca de 2.675 dólares, além de um subsídio de combate.

“[Prigozhin] disse que tinha autoridade do presidente para recrutar qualquer pessoa. Ele nos instigou a nos juntarmos à luta e defendermos nossa pátria. Disse que havia nazistas e americanos na Ucrânia, que crianças estavam sendo mortas”, relatou Vlad.

“Fomos informados de que seríamos posicionados na segunda linha, em posições defensivas. Mas, uma semana depois, começaram a nos preparar para a batalha. Percebemos que não tínhamos escolha senão lutar até o fim. Porque, se você não seguir as ordens, eles atiram.”

Após duas semanas de treinamento intenso, Vlad foi enviado para a linha de frente. Posteriormente, cerca de seis semanas depois, em novembro de 2022, foi capturado pelas tropas ucranianas e permaneceu preso por nove meses.

Rússia recruta sistematicamente prisioneiros para seus esforços de guerra

Como Vlad, Mikhail Viktorovich Pavlov, de 25 anos, também tinha um histórico na prisão antes de entrar na guerra. Pavlov estava cumprindo uma sentença de seis anos por posse de 9g de cannabis.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia e Wagner, junto com o Ministério da Defesa russo, começaram a recrutar prisioneiros para a guerra, Pavlov elaborou um plano. Embora, de acordo com ele, fosse contra a guerra e o presidente Vladimir Putin, Pavlov viu seu ingresso no exército como uma oportunidade para conquistar sua liberdade e se entregar aos ucranianos.

“Eu sabia claramente que desertar do Wagner seria muito perigoso. Era praticamente impossível. Mas o exército era muito mais conveniente nesse aspecto”, disse Pavlov, cujo apelido é “Pers”.

Quatro anos e dois meses após sua sentença, os russos transferiram Pavlov para a região ucraniana de Luhansk para enfim se juntar à guerra em maio de 2023. Depois de receber treinamento, foi enviado para Zaporizhzhia. “Recolhi algumas informações importantes sobre as posições russas e as passei para as posições ucranianas. No começo, ninguém acreditou em mim. Passei por todos os tipos de polígrafo, testes psicológicos e físicos. Demorou alguns meses, mas, no final, eles me aceitaram”, disse Pavlov.

Logo depois, Nikitin o visitou e ofereceu-lhe a oportunidade de ingressar no RVC. Pavlov afirmou que nunca se arrependeu de sua decisão.

De acordo com Pavlov, “desde agosto, quando entrei, até hoje, percebi minha humanidade, minha pessoalidade, muito mais do que nos 24 anos da minha vida lá. Infelizmente, a Rússia não pôde me oferecer nada.”


Revista Sociedade Militar

Fonte: Al jazeera

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Publicado por
Rafael Cavacchini