“Guerra Sem Regras”, de 2024, ou “The Ministry of Ungentlemanly Warfare”, de Guy Ritchie, é de fato baseado em eventos reais e pessoas reais. Mas, como qualquer adaptação cinematográfica, algumas coisas são pura ficção. A Revista Sociedade Militar resolveu investigar as histórias do filme à fundo para saber o quão são verdadeiras.
ATENÇÃO: artigo pode conter spoilers sobre o filme.
No filme, Gus March-Phillipps (Henry Cavill) é recrutado pelo governo britânico de modo discreto pelo próprio Winston Churchill (Rory Kinnear). O objetivo émontar uma equipe de especialistas e navegar até a ilha espanhola de Fernando Pó. Em Fernando Pó está ancorado um navio de carga nazista com suprimentos e munição suficientes para manter os submarinos alemães operacionais quase indefinidamente.
A missão? Afundar o navio. Mas Fernando Po está cheio de soldados alemães e espanhóis, então não é exatamente simples. Mas é aí que a ajuda entra em cena.
Infelizmente, pouco antes de a equipe chegar ao porto de Fernando Po, se descobre que o casco do navio nazista foi reforçado e, agora, é uma embarcação praticamente inafundável. Então, os britânicos precisam improvisar, optando por roubar o navio e os rebocadores ao redor.
A verdadeira história
Como seria de se esperar de um filme dirigido por Guy Ritchie, “Guerra Sem Regras” toma muitas liberdades artísticas com os eventos reais – começando pela forma como tudo aconteceu.
A missão real, chamada Operation Postmaster, foi de fato comandada pelo Major Gustavus March-Phillipps, com Geoffrey Appleyard (interpretado no filme por Alex Pettyfer) como segundo em comando. Mas diferente do filme, onde a equipe se reúne especificamente para o ataque, na vida real eles já estavam em operação com a No. 62 Commando Unit, também chamada de Small Scale Raiding Force (SSRF).
Os Comandos Britânicos foram criados por ordens de Winston Churchill em junho de 1940, logo após a evacuação de Dunquerque. A ideia era treinar várias unidades de que pudessem infligir, nas palavras de Churchill , “um reino de terror” ao longo das costas da Europa controladas pelos alemães.
Na mesma época, Churchill também ordenou a consolidação de três serviços clandestinos existentes no eufemisticamente chamado Special Operations Executive (SOE). Lidando com sabotagem, reconhecimento e espionagem, os vários membros extremamente secretos do SOE recebiam ordens, novamente nas palavras de Churchill , para “incendiar a Europa”.
Missões secretas
O No. 62 Commandos, formado por March-Phillipps no início de 1941, tinha a missão de executar operações SOE secretas. Apropriadamente, diferente de outras unidades de comando que tendiam a ter mais de 400 membros, o No. 62 tinha apenas 55. Esses Comandos nunca são realmente mencionados no filme, pois o longa se concentra apenas nos poucos homens que executaram a operação, além da ajuda adicional que receberam de KB (Danny Sapani). Essa assistência também foi real.
Quanto à Operação Postmaster, assim como no filme, de fato, ocorreu na ilha de Fernando Pó em janeiro de 1942.
Mas, diferentemente do filme, o objetivo nunca foi explodir e afundar o Duchessa d’Aosta. (Sim, esse era o nome real do navio real; era um navio mercante italiano). A ideia sempre foi roubá-lo, junto com outros dois navios — o Likomba e o Bibundi — e navegá-los até Lagos, Nigéria.
A operação real
No verão de 1941, a SOE tomou conhecimento de que os poderosos U-Boats alemães estavam reabastecendo nos rios das possessões coloniais da França de Vichy na África. Enquanto procuravam ao redor da África Ocidental por sinais de bases de submarinos nazistas, a SOE soube dos navios em Fernando Po. Hoje, a ilha é a província de Bioko, na Guiné Equatorial, mas na época, fazia parte da Guiné Espanhola.
Como a Espanha era neutra, os líderes britânicos se recusaram a aprovar a operação, a menos que uma negação plausível pudesse ser criada. Finalmente, os britânicos deram sinal verde em novembro de 1941.
Antes da missão, um agente da SOE chamado Richard Lippett, que frequentava a ilha devido ao seu trabalho em uma empresa de navegação, descobriu que os soldados da ilha adoravam festas. Então, ele providenciou que os oficiais da Duchessa fossem convidados para um jantar. Este é, claro, o papel que Heron (Babs Olusanmokun) desempenha no filme.
Mas talvez a maior diferença entre a história real e o filme seja a execução da missão, que não foi nem de longe o banho de sangue espetacular que Ritchie descreve.
Comparações entre o filme e a história real
No filme, o personagem de Alan Ritchson sozinho destrói uma sala inteira cheia de soldados com seu machado, e isso em apenas uma cena. Mas, na realidade, o No. 62 supostamente encontrou muito pouca resistência nos navios, pois havia muito poucos homens a bordo.
Dito isto, o Likomba e o Bibundi estavam atracados juntos. Os soldados secretos realmente explodiaram as correntes de âncora de todos esses navios, incluindo o Duchessa, para rebocá-los, exatamente como os homens fizeram no filme.
Na vida real, ninguém tentou impedi-los de sair também. Na verdade, quando as explosões aconteceram, oficiais na ilha pensaram que era um ataque aéreo e atiraram para o céu, contra alvos imaginários. Os homens que escapavam pelo oceano ficaram em silêncio e passaram praticamente despercebidos, terminando sua missão em menos de 30 minutos.
A caminho de Lagos, eles foram “interceptados” pelas forças navais britânicas. Os britânicos assumiram o comando dos navios como parte do pretexto de que esta missão não havia sido sancionada. No entanto, o governo espanhol ameaçou retaliar, embora nunca o tenha feito.
Como os créditos finais do filme corretamente observam, March-Phillips foi posteriormente condecorado com a ordem de serviço distinto por realizar a missã.
Apesar dos desvios do filme da realidade, Gus March-Phillipps parecia ter um gosto por missões imprudentes e de alto risco. Além disso, o militar era aparentemente um comandante altamente inspirador para os Comandos da No. 62.