A volta do horário de verão está na pauta do governo e tem acedido discussões em torno daqueles que o amam e daqueles que o odeiam. Enquanto a decisão oficial não é tomada, 26 cientistas de renomadas universidades brasileiras, como a USP, FioCruz, UFRN e UFMG, assinaram um manifesto expondo motivos pelos quais é melhor deixar as coisas como estão, ou seja, sem o horário de verão. Mas, por quê?
Ritmo biológico x horário de verão
De acordo com os cientistas que assinam o documento, o horário de verão provoca diversos distúrbios no ritmo biológico das pessoas. Segundo os pesquisadores, o ser humano está muito relacionado com os ciclos de dia e noite, luz e escuridão, como forma de regular o sono, o apetite, as funções respiratórias e cardiovasculares e até mesmo o humor.
Por isso, uma mudança nesse ritmo natural pode acabar resultando em diversos transtornos, desde insônia até problemas cardíacos e distúrbios cognitivos.
Os cientistas argumentam ainda que a vida moderna já é, por si só, uma grande perturbadora desses ciclos naturais, uma vez que as luzes artificiais permitem ao homem contemporâneo ficar acordado até altas horas da madrugada, desregulando uma série de hormônios importantes para a saúde. Nessa condição atual, o horário de verão viria apenas para piorar a situação.
Uma pesquisa citada pelos cientistas que assinaram o manifesto, publicada em 2017 na Annals of Human Biology revelou que mais de 50% da população sofre com algum desconforto com o horário de verão.
O manifesto é encerrado esclarecendo que o posicionamento contra o horário de verão não possui nenhuma implicação política, mas apenas informações baseadas em evidências e pesquisas cientificas sobre o assunto.
Horário de verão pode voltar por três motivos
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou no dia 12 de setembro, que o retorno do horário de verão é uma possibilidade real. “O horário de verão é uma possibilidade real, mas não é um fato porque tem implicações, não só energética, mas implicações econômicas. É importante para diminuir o despacho de térmicas nos horários de ponta, mas é uma das medidas, porque ela impacta muito a vida das pessoas”, considerou.
O ministro ressalta também que a decisão de adiantar o relógio deve ser avaliada de modo amplo. “[A medida] Não deve ser tomada de forma açodada. Se necessário, não tenham dúvida, que nós voltaremos com o horário”.
Seca, alta demanda e impulso para economia
O ministro ainda salientou três dos que podem ser os principais motivos para o retorno do horário de verão: a seca que atinge todo o país, a alta demanda por energia elétrica e um impulso na área econômica, especialmente no setor de turismo que, por sinal, tem alta no verão.
“O Brasil nunca tinha consumido, antes de setembro deste ano, 105 gigawatts [GW] em uma tarde. A média é 85 GW, o que demonstra que nós tivemos todos os ar condicionados do Brasil ligados e que a necessidade de energia, cada vez, mais oscila no Brasil”, disse o ministro.
Para avaliar todas essas questões já foi solicitado ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e à Secretaria Nacional de Energia Elétrica (MME) junto ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) um plano de contingência para o verão de 2024/2025, assim como o planejamento energético do próximo ano.
Com base nesse estudo, o governo poderá definir se o horário de verão estará presente na vida dos brasileiros outra vez.
Herança da Era Vargas
O horário de verão era uma medida adotada pelo governo federal para garantir um melhor aproveitamento da luz natural e, consequentemente, reduzir o uso e a necessidade de energia elétrica. Com isso, diversos setores da sociedade se beneficiam, principalmente, bares, restaurantes e áreas ligadas ao lazer, uma vez que as pessoas ficavam mais tempo nas ruas.
Aplicado nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal, o horário de verão deixava de fora apenas os estados do norte e nordeste.
O adiamento dos relógios aconteceu pela primeira vez em 1932 no governo do presidente Getúlio Vargas. Depois, somente em 1985 que o horário de verão passou a ser contínuo, permanecendo por todos os anos até 2019, quando o então governo de Jair Bolsonaro decidiu revogá-lo por acreditar que a medida não era tão eficaz na economia de energia.