Um recente artigo da Revista Sociedade Militar trouxe à tona o isolamento rodoviário do Amapá e suas consequências para o desenvolvimento econômico do estado. A análise, que repercutiu fortemente, chamou a atenção do vice-governador Teles Júnior. Teles Júnior compartilhou sua visão em entrevista à rádio Diário FM 90,9. Em meio às controvérsias sobre as barreiras logísticas, Teles destacou a importância do setor portuário para a economia e afirmou que questões tributárias representam o verdadeiro obstáculo para o crescimento local.
Vice-governador questiona impacto do isolamento rodoviário
Para o vice-governador, embora o isolamento geográfico seja uma questão de relevância, ele não considera a falta de uma ligação rodoviária como o fator determinante para o crescimento do Amapá. Em suas palavras, “não é um fator determinante que impede o Amapá de se desenvolver”. Teles Júnior enfatizou que o estado já possui uma estrutura portuária estratégica, com o Porto de Santana desempenhando papel fundamental ao escoar grãos do Centro-Oeste e sul do Pará. De acordo com Teles, “temos um dos portos mais estratégicos do estado. A produção de grãos do Centro-Oeste e sul do Pará, que sai pelo Amapá, é um importante componente do faturamento do Porto de Santana”.
De acordo com ele, o fortalecimento dessa estrutura portuária é essencial para que o estado supere os desafios logísticos impostos pelo isolamento terrestre. A visão de Teles é que, ao invés de priorizar uma conexão rodoviária com o restante do Brasil, o Amapá deve focar em gerar volume de produção industrial e fortalecer o setor de serviços para aproveitar ao máximo a capacidade dos portos.
O peso das políticas tributárias na economia do Amapá
Durante a entrevista, Teles Júnior também abordou a questão das políticas tributárias. De acordo com o vice-governador, esse seria o verdadeiro entrave para o desenvolvimento industrial no estado. Teles Junior argumentou que a falta de indústrias pesadas e o crescimento limitado do parque industrial no Amapá não se devem ao isolamento geográfico, mas sim à carga tributária que dificulta a competitividade das empresas locais. “Discordo do argumento de que a falta de indústria esteja ligada à falta de ligação rodoviária”, reforçou o vice-governador, indicando que ajustes fiscais são necessários para alavancar a economia regional.
Para ele, uma política tributária mais flexível e adaptada ao contexto amapaense pode atrair investimentos e fortalecer a produção interna. Teles afirmou que, sem essas mudanças, o Amapá encontrará dificuldades em desenvolver plenamente seu potencial, independentemente da construção de uma rodovia.
Alternativas logísticas e a rota internacional
A publicação da Revista Sociedade Militar também trouxe à tona as limitações de transporte para chegar ao estado. Hoje, o Amapá permanece sem uma rodovia de conexão direta com o restante do Brasil. Como alternativa, a população depende principalmente do transporte aéreo ou do uso de balsas. Para os mais aventureiros, existe uma rota alternativa complexa. A rota envolve sair do Brasil por Roraima, atravessar a Guiana e o Suriname, até chegar ao estado.
Ainda que a construção de uma ponte, em 2011, tenha criado uma conexão com a Guiana Francesa, as limitações fronteiriças e sobretudo os rígidos controles de imigração tornam essa opção de difícil acesso. Embora essa rota represente uma abertura internacional para o Amapá, os desafios logísticos continuam a impactar a economia e o cotidiano da população.
Exploração de petróleo e desafios ambientais
Outro tema debatido pelo vice-governador foi a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Teles Júnior acredita que o estado enfrenta obstáculos em razão sobretudo do “radicalismo ambiental”. De acordo com Teles, o governo federal e o Ibama precisam reconhecer o potencial estratégico da região. “Essa área pode se tornar uma estratégia importante para o Brasil financiar a transição energética, o que irá gerar emprego e renda para todo o país”, argumentou, defendendo que um maior equilíbrio entre as demandas econômicas e ambientais é possível.
Para Teles, os recursos derivados da exploração de petróleo podem apoiar o desenvolvimento do Amapá e contribuir para a transição energética sustentável no Brasil. O vice-governador espera que uma regulamentação ambiental mais adaptada ao contexto regional ajude a criar oportunidades de emprego. Além disso, espera que promova um crescimento sustentável sem comprometer a preservação dos ecossistemas locais.
Segurança e proteção ambiental no estado
Outro ponto central na discussão sobre o Amapá é a segurança da região. Em 2013, o Comando Militar do Norte foi estabelecido pelo Exército Brasileiro para melhorar a capacidade operacional e o gerenciamento administrativo das forças armadas na Amazônia. O CMN abrange estados como Amapá, Pará e Maranhão. O Comando conta com 30 organizações militares e um efetivo de aproximadamente 12 mil homens e mulheres. Com isso, desempenha um papel sobretudo estratégico na proteção dos recursos naturais e na segurança fronteiriça do estado.
A presença militar no Amapá é sobretudo importante para enfrentar questões como o desmatamento ilegal e o tráfico de recursos naturais. De acordo com o Exército, a missão do CMN é aumentar a capacidade de resposta do Brasil em uma área de biodiversidade única. Além disso, o CMN tem também o objetivo de assegurar o controle em uma região que já foi palco de tensões fronteiriças entre Brasil e França no passado.
Futuro do Amapá: infraestrutura e reforma tributária como prioridades
A repercussão da matéria da Revista Sociedade Militar trouxe novas perspectivas sobre o desenvolvimento do Amapá. Para Teles Júnior, a solução para o crescimento econômico do estado passa pelo fortalecimento da infraestrutura portuária e pela reforma tributária. Embora o isolamento rodoviário seja um tema relevante, o vice-governador acredita que a chave para o sucesso do Amapá está sobretudo na criação de um ambiente econômico favorável. Teles Junior enfatiza que o uso da produção interna e os serviços possam prosperar com o suporte de uma política tributária mais justa e de uma infraestrutura portuária fortalecida.