O esforço militar brasileiro na fronteira com a Venezuela, movido pela ameaça de uma invasão por parte do regime de Nicolás Maduro, não foi recompensado como o esperado. Segundo informações da revista Veja, o governo federal deu um calote de 200 milhões de reais no Exército, que aguardava o reembolso pelas operações realizadas entre dezembro de 2022 e junho de 2023. Sem a restituição, o prejuízo recai sobre a própria Força.
Nos últimos meses, o Exército mobilizou tropas e veículos blindados para a cidade de Pacaraima, em Roraima, com o objetivo de reforçar a segurança na fronteira. A justificativa para a ação foi o temor de que a Venezuela, em conflito com a Guiana pelo controle do território de Essequibo, iniciasse uma ofensiva que pudesse atravessar o Brasil. Embora não tenha havido necessidade de combate, a operação demandou um alto custo, somando 208 milhões de reais — dos quais mais de 100 milhões foram gastos apenas com munições.
Agora, o Exército enfrenta um impasse. A operação foi considerada concluída, mas o governo federal, que deveria reembolsar os valores gastos, não fez o repasse. Em contrapartida, os militares ainda sofrem com cortes adicionais de orçamento, impactando diretamente a compra de novos equipamentos e blindados. A questão, que parecia meramente operacional, se transformou em uma pedra no sapato para o Ministério da Defesa e para o próprio governo.
O custo da Operação Roraima
A Operação Roraima, realizada para prevenir qualquer investida venezuelana pelo território brasileiro, envolveu mais de seis meses de preparo e deslocamento de material bélico. O Exército brasileiro mobilizou tropas, calibrou seu efetivo e deslocou veículos blindados e munições para Pacaraima, município na fronteira com a Venezuela. A tensão entre Venezuela e Guiana, acirrada pela disputa sobre a região de Essequibo, rica em petróleo, motivou o governo brasileiro a reforçar a segurança no local.
No entanto, embora não tenha havido confrontos diretos, a conta apresentada pelo Exército ao governo federal chegou aos 208 milhões de reais. Grande parte desse valor refere-se a gastos com manutenção de viaturas, armamentos, combustível, alimentação e diárias para os soldados. Mais de 100 milhões de reais foram destinados a munições, que, embora não utilizadas, tiveram de ser retiradas dos estoques e preparadas para um possível uso.
Exército sem reembolso: o balão do governo
O procedimento padrão em operações como essa é o governo federal arcar com os custos da mobilização militar, ressarcindo a força pelos valores investidos. Foi assim, por exemplo, no caso das enchentes no Rio Grande do Sul, em que o governo pagou mais de 600 milhões de reais ao Exército por sua atuação emergencial. No entanto, desta vez, o ressarcimento não aconteceu.
De acordo com fontes ligadas ao Exército, apesar de o pedido de reembolso ter sido formalizado no sistema de planejamento e orçamento, o governo não efetuou o pagamento. Nas palavras de militares envolvidos na operação, a sensação é de que “tomaram um balão”. A munição e o combustível utilizados na operação não foram repostos, e a falta de recursos tem impactado diretamente a capacidade do Exército de adquirir novos equipamentos e repor estoques.
O corte no orçamento militar
Para piorar a situação, o governo federal anunciou em agosto um bloqueio de 122 milhões de reais no orçamento destinado às Forças Armadas. Esse corte afeta diretamente o planejamento da instituição, que agora tem de lidar com a escassez de recursos para a aquisição de equipamentos, blindados e outros materiais estratégicos.