Estima-se que cerca de 57 mil mortes por ano sejam resultado de um estilo de vida que tem se popularizado cada vez mais no Brasil: o consumo de produtos ultraprocessados aliados a um estilo de vida sedentário e estressante.
Os dados são da Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a ACT Promoção de Saúde Vital Strategies. Um estudo publicado recentemente, em 21 de novembro, revela que 57 mil mortes por ano estão associadas a essa cultura que, prevalece, sobretudo, nas grandes cidades.
Além do impacto na saúde e no bem estar das pessoas, o estudo ainda demonstrou que o consumo de alimentos altamente industrializados gera um custo bilionário à economia brasileira, alcançando impressionantes R$ 10,4 bilhões por ano.
Desse montante, cerca de R$ 9,2 bilhões é atribuído a perdas econômicas que decorrem da morte prematura de pessoas ainda em idade produtiva, afetando diretamente o mercado de trabalho. Já o custo com tratamentos e medicamentos batem na casa dos R$ 933,5 milhões por ano, além de outros custos indiretos ligados a mortalidade prematura.
Os pesquisadores indicaram no estudo três doenças principais relacionadas ao consumo dos ultraprocessados: obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão. Contudo, mais de 30 condições de saúde estão relacionadas ao consumo desses alimentos. Isso sem falar nas intercorrências e desdobramentos que essas doenças podem ter, como cânceres e demência.
Os números poderiam ser ainda maiores, caso o estudo considerasse os gastos do sistema privado de saúde ou a idade dos participantes da pesquisa. Isso porque, os pesquisadores analisaram os dados apenas de adultos acima de 20 anos.
“Vale lembrar que essas estimativas são conservadoras, visto que se limitam ao impacto na população empregada adulta, maior de 20 anos, e não incluem outros custos de prevenção, atenção primária, saúde suplementar ou gastos particulares no tratamento das doenças causadas pelo consumo de ultraprocessados”, disse Eduardo Nilson, pesquisador da Fiocruz, responsável pelos estudos.
Dentre o perfil analisado na pesquisa, os homens são os mais afetados por mortes relacionadas a dieta de ultraprocessados, representando cerca de R$ 6,6 bilhões em perdas econômicas, enquanto as mulheres correspondem ao equivalente a R$ 2,6 bilhões.
Políticas Públicas e Taxação
A ACT Promoção da Saúde e outros especialistas em saúde reforçam que é urgente a implementação de políticas públicas com o objetivo de reduzir o consumo de ultraprocessados no Brasil.
Para isso, algumas sugestões já estão em debate, como a tributação desse tipo de produto, assim como aconteceu com o tabaco. Uma rotulagem mais clara e direta ao consumidor, além de regulação do marketing direcionado a esse tipo de alimento.
Por outro lado
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) disse, em nota, à Agência Brasil que a classificação de alimento ultraprocessado no Brasil não é clara e abrange mais de 5,7 mil itens produzidos pela indústria.
“Causa preocupação e indignação a disseminação de alegações à sociedade brasileira que atribuem a mais de 5,7 mil alimentos, produzidos por 41 mil indústrias no país e rigorosamente regulamentados e aprovados por órgãos como a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e o Ministério da Agricultura, a responsabilidade direta por doenças e mortes”, enfatiza a nota.
Entenda a diferença
Na natureza existem apenas alimentos in natura, ou seja, aqueles que são obtidos diretamente da terra, sem passar por qualquer tipo de alteração após a colheita, como é o caso, por exemplo, de frutas, legumes, verduras, grãos, carnes e ovos. Esses alimentos são ricos em nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais e fibras, e devem compor a base de uma dieta saudável e equilibrada.
Quando chegam na indústria, os alimentos podem ser divididos em duas categorias: processados e ultraprocessados. Os alimentos processados passam por modificações mínimas para facilitar o consumo, aumentar a durabilidade ou melhorar o sabor. Eles normalmente contêm poucos ingredientes adicionados, como sal, açúcar ou óleos. Exemplos incluem queijos, pães caseiros, conservas e compotas. Apesar de ainda terem certa qualidade nutricional, devem ser consumidos com moderação devido à presença de aditivos.
Já os ultraprocessados, por sua vez, são produtos industrializados que passam por vários processos químicos e contêm uma longa lista de ingredientes, incluindo aditivos artificiais, corantes, conservantes e aromatizantes. Exemplos comuns incluem refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos, macarrão instantâneo e embutidos. Esses alimentos geralmente possuem alta densidade calórica, excesso de açúcar, gorduras ou sódio, além de baixo valor nutricional. Esses devem ser evitados a todo custo.
E se ficar na dúvida se o alimento é bom para sua saúde, pense: você precisa descascar ou desembalar? Quanto mais você descascar, melhor.