A recente possibilidade de uma aliança entre as facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC de SP) e Comando Vermelho (CV do RJ) tem gerado grande preocupação entre especialistas em segurança pública e autoridades brasileiras. Em entrevista ao Jornal da Oeste, o procurador do Ministério Público de São Paulo, Cesar Dario Mariano, destacou os riscos dessa articulação, que pode intensificar a pressão sobre o governo federal para flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal, onde líderes dessas organizações estão encarcerados.
Historicamente rivais, PCC e CV têm protagonizado uma guerra sangrenta pelo controle do tráfico de drogas e hegemonia nos presídios. Essa disputa resultou em massacres e confrontos violentos em diversos estados brasileiros. Contudo, a possível trégua entre as facções visa unificar forças para exigir mudanças no rigoroso regime penitenciário, que inclui restrições como a proibição de visitas íntimas e contatos limitados com advogados e familiares.
Existe as articulações entre facções?
A articulação para essa aliança enfrenta resistência dentro das próprias facções. Muitos integrantes rejeitam a ideia de esquecer anos de rivalidade e perdas significativas durante os conflitos. Além disso, a disputa territorial permanece acirrada em várias regiões do país, como no litoral norte de São Paulo, onde o CV tem avançado sobre áreas antes dominadas pelo PCC.
Para Cesar Dario Mariano, a união entre essas facções pode ter consequências graves. Ele alerta que, caso essa aliança se concretize, outras organizações criminosas menores podem seguir o mesmo caminho, aumentando a pressão sobre o governo e ampliando o poder do crime organizado. O procurador também ressalta que o combate ao tráfico de drogas deve ser intensificado e liderado pelo governo federal, com foco no estrangulamento financeiro das facções.
O impacto dessa possível aliança não se limita às negociações políticas. Relatórios de inteligência já detectaram movimentações suspeitas envolvendo advogados das facções, que atuam como intermediários para enfraquecer as normas rígidas do sistema penitenciário. Além disso, há indícios de discussões sobre a trégua em presídios estaduais como o Complexo Penitenciário da Papuda.
Criminalidade em expansão?
A expansão territorial do CV também é um fator preocupante. No litoral norte de São Paulo, a facção carioca tem ocupado gradualmente áreas antes controladas pelo PCC, aproveitando-se da desarticulação da facção paulista na região. Essa ocupação ocorre sem confrontos diretos, mas reflete uma mudança estratégica no domínio do tráfico local e internacional.
O cenário atual reforça a necessidade de uma resposta coordenada das autoridades brasileiras. Além de intensificar ações policiais nas áreas mais afetadas pelo avanço das facções, é essencial que os tribunais superiores colaborem para garantir punições efetivas aos líderes criminosos. Segundo Mariano, a inação pode levar o Brasil a se tornar um narcoestado semelhante ao Rio de Janeiro, onde o poder das facções já desafia a legislação oficial.
Por fim, é importante considerar que qualquer tentativa de negociação ou flexibilização das regras penitenciárias deve ser analisada com cautela. A união entre PCC e CV representa não apenas uma ameaça à segurança pública, mas também um desafio à soberania do Estado brasileiro na luta contra o crime organizado.