Durante uma palestra no Centro Universitário de Brasília (CEUB), ainda em 2016 o então comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, fez declarações que reverberaram fortemente dentro e fora das Forças Armadas. Em sua fala, publicada na época pela Revista Sociedade Militar, o oficial enfatizou que o Exército não deveria interferir no resultado das eleições, mesmo que candidatos corruptos fossem eleitos. O oficial general, na época ocupando a posição de Comandante do Exército Brasileiro, mencionou também autoridades que ocupam cargos públicos sem eleição.
“O Exército é um órgão de Estado, não nos cabe fazer julgamento sobre o passado ou as intenções de cada pessoa que está exercendo um órgão público… os eleitos são legitimados pela eleição… Imagine se, em relação a cada homem público sobre o qual eu tenha algum questionamento, nós fossemos intervir. Imagine o que seria…” — General Villas Bôas
Críticas do general Villas Bôas à estagnação do debate político e a necessidade de novos caminhos
Em 2017, durante uma audiência no Senado Federal, Villas Bôas voltou a abordar questões fundamentais sobre a política brasileira. Para ele, o país permanecia preso a debates ideológicos ultrapassados, como o embate entre comunismo e conservadorismo, o que dificultava a evolução nacional.
“Acho que estão nos faltando agora muitos pensadores, gente com capacidade de nos oferecer novas estruturas mentais e novos caminhos de evolução. Estamos ainda um pouco presos a esquemas mentais, políticos e ideológicos que ficaram para trás…”
O General de Exército, hoje na reserva remunerada na condição de reformado e com uma doença degenerativa, também destacou a ausência de um projeto nacional coeso, que mantivesse os brasileiros com foco no crescimento, em alcançar objetivos para a sociedade como um todo. Segundo ele, essa situação contribuía para a fragmentação da sociedade brasileira.
“A nossa falta de sentido de projeto nacional tem deixado de condicionar uma convergência nos vários setores da sociedade. Isso tem feito com que qualquer ator nesse contexto não tenha um rumo, uma referência explícita para onde devemos seguir. Se não resgatarmos essa unidade, as forças centrífugas acabarão sobrepujando as forças centrípetas, e a gente se fragmentará. Se não territorialmente, a sociedade brasileira já está em um processo de fragmentação.”
O impacto das ideias do general no Alto Comando das Forças Armadas
As palavras de Villas Bôas influenciaram profundamente os militares que compõem o Alto Comando do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Um dos oficiais apontados como mais alinhados com o seu pensamento é atualmente o general Tomás Miguel Miné, atual comandante do Exército Brasileiro. O pensamento de Eduardo Villas Bôas moldou a postura das Forças Armadas nos anos seguintes, inclusive nas decisões estratégicas tomadas após as eleições de 2022.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar