Salários baixos e falta de reconhecimento provocam debandada histórica na FAB! A Força Aérea Brasileira (FAB) lançou, para o ano de 2025, o tradicional Exame de Admissão ao Curso de Adaptação de Médicos da Aeronáutica (EA CAMAR), oferecendo um total de 190 vagas para diversas especialidades médicas. No entanto, o que era para ser uma oportunidade de ingresso em uma carreira militar estável se transformou em um reflexo de crise institucional: apenas 57 candidatos compareceram para a matrícula, segundo lista oficial divulgada pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR) em 17 de abril.
O número representa apenas 30% de adesão, revelando uma preocupante evasão já na etapa inicial do processo de formação. As causas vão além da mera desistência individual. Médicos formados e habilitados preferem, cada vez mais, seguir carreira civil, onde os salários são substancialmente superiores e o reconhecimento profissional mais valorizado.
A longa jornada para se tornar médico militar na Força Aérea brasileira
O edital do EA CAMAR 2025 descreve um processo rigoroso e burocrático, dividido em diversas etapas: provas escritas, exame de aptidão psicológica, avaliação física, inspeção de saúde, verificação de dados biográficos, validação documental e, por fim, a matrícula. O curso, realizado em Lagoa Santa (MG), tem duração aproximada de 17 semanas, com regime de internato, treinamentos militares básicos, instruções técnicas e pós-graduação obrigatória em medicina aeroespacial.
Mesmo após a conclusão, o candidato ainda é obrigado a cumprir obrigações militares integrais, como plantões, escalas e deslocamentos para localidades designadas — tudo com uma remuneração inicial que gira em torno de R$ 10 mil mensais brutos, conforme previsto na legislação vigente (MP nº 2.215-10/2001). Valor este que, para médicos especialistas, é considerado pouco competitivo frente ao mercado civil.

Por que tantos médicos estão recusando a carreira militar? – Salário baixo e falta de reconhecimento
Diversos fatores explicam a evasão. Médicos recém-formados ou experientes enxergam na FAB uma carga de responsabilidade elevada sem contrapartida financeira ou social equivalente. Muitos especialistas, como anestesistas, ortopedistas ou urologistas, conseguem ganhos de R$ 20 mil a R$ 50 mil no setor privado, com maior autonomia e estabilidade familiar.
Além disso, há uma percepção crescente de desvalorização institucional da carreira militar, agravada por cortes orçamentários, perda de benefícios e ausência de políticas de retenção. A exigência de adaptação à vida castrense, incluindo treinamento militar e subordinação à hierarquia rígida, afasta profissionais que buscam autonomia e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
Abandono silencioso: oficiais deixam a carreira após formação
O cenário atual também revela outro fenômeno preocupante: a saída silenciosa de oficiais já formados, que solicitam desligamento após o período mínimo obrigatório ou mesmo indenizam o Estado para não seguir na carreira. Segundo relatos de bastidores, a tendência é crescente entre médicos jovens, que utilizam a formação militar como uma ponte para qualificação adicional, mas sem intenção de permanecer no serviço ativo.
O curso CAMAR exige comprometimento integral, e o militar aprovado assume automaticamente a patente de Primeiro-Tenente Estagiário, com obrigações que incluem plantões noturnos, atuação em áreas remotas e até mesmo deslocamentos internacionais. Para muitos, o custo-benefício não compensa.
Uma crise silenciosa que ameaça o futuro do serviço médico militar
O baixo comparecimento à matrícula no CAMAR 2025 expõe mais do que um problema pontual. Trata-se de um alerta institucional sobre o futuro da presença médica nas fileiras da Força Aérea. Sem atrativos financeiros ou profissionais sólidos, e em meio à valorização do setor privado da saúde, o Brasil pode enfrentar dificuldades crescentes para manter equipes médicas militares operacionais e qualificadas.
Especialistas em defesa sugerem a revisão urgente da política de atração e retenção de profissionais de saúde nas Forças Armadas, sob pena de comprometer a capacidade de atendimento em hospitais militares, missões humanitárias e operações emergenciais.