O debate sobre a segurança pública e a defesa nacional voltou ao centro das atenções no Brasil após as recentes declarações do General Richard Nunes, chefe do Estado-Maior do Exército. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o militar foi contundente: sem investimentos constantes e previsíveis, o país corre o risco de não conseguir modernizar suas forças armadas, comprometendo a própria soberania diante de um cenário internacional cada vez mais instável.
Festas e Normalização da Violência: Um Reflexo da Crise Interna
Em paralelo à discussão sobre defesa nacional, observa-se uma preocupante normalização de ambientes violentos no cotidiano brasileiro. Festas realizadas em comunidades controladas pelo tráfico de drogas, onde a presença ostensiva de armas de grosso calibre é comum, são frequentemente vistas como manifestações culturais. Segundo especialistas em segurança, a convivência naturalizada com esse tipo de cenário revela um fenômeno complexo, que mistura ausência do Estado, vulnerabilidade social e uma perigosa tolerância à criminalidade organizada (Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
A indiferença diante desses contextos é rompida apenas quando tragédias ocorrem, trazendo à tona debates momentâneos sobre proteção e direitos das vítimas, mas pouco se discute sobre as raízes do problema. Essa dualidade evidencia como a falta de uma política de segurança e defesa integrada impacta todos os setores da sociedade, do social ao militar.
Alerta das Forças Armadas: Orçamento em Xeque
De acordo com o General Richard Nunes, o atraso na modernização das Forças Armadas brasileiras é alarmante. O general, que ganhou notoriedade por comandar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro em 2018, destacou que a aquisição de equipamentos militares não é um processo simples, tampouco imediato. Envolve anos de desenvolvimento, testes, produção e, acima de tudo, planejamento estratégico.
A falta de previsibilidade orçamentária tem paralisado projetos essenciais para o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. “País que acha caro manter as Forças Armadas corre o risco de ter forças de outros países em seu território”, alertou Nunes.
O principal ponto de discussão no momento é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que prevê a destinação de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para a defesa nacional. Atualmente, o Brasil investe menos de 1,5% do PIB em defesa, valor abaixo da média dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que é de cerca de 2% (Fonte: SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute).
Comparação Internacional e Desafios Geopolíticos
Enquanto potências como Estados Unidos e China aceleram suas modernizações militares em meio à crescente tensão geopolítica, a Europa se vê preocupada pela dependência de alianças internacionais e cortes orçamentários realizados nas últimas décadas. O Brasil, no entanto, parece manter-se alheio a essa tendência global, subestimando a importância de se preparar para cenários adversos, inclusive conflitos armados.
A extensa fronteira, a vastidão da Amazônia e uma costa marítima estratégica tornam o país especialmente vulnerável. Segundo Nunes, a negligência na área de defesa não apenas expõe o Brasil a ameaças externas, como também limita sua capacidade de resposta a calamidades naturais e emergências internas, enfraquecendo sua posição como liderança regional.
Atrasos, Sucateamento e Impactos Sociais
O processo de modernização das Forças Armadas brasileiras enfrenta atrasos significativos, como exemplificado na aquisição de helicópteros Black Hawk: dos doze encomendados, apenas um está previsto para chegar ao país em 2025. A falta de investimento contínuo compromete não só a renovação da frota e a produção de drones, mas também projetos estruturantes em todas as três forças.
Essa situação resulta em quartéis sucateados, militares sobrecarregados e dependência crescente de tecnologias e equipamentos estrangeiros. A cadeia produtiva da defesa, que poderia gerar empregos qualificados e estimular a inovação, permanece subaproveitada.
PEC 55: Solução ou Impasse?
O avanço da PEC 55 no Congresso Nacional divide opiniões e enfrenta resistência política. Embora o Ministro da Defesa, José Múcio, atue como mediador entre militares e parlamentares, a relatoria da proposta ficou a cargo do senador Randolfe Rodrigues (PT), fato que gerou desconfiança em parte do setor militar e da oposição.
O futuro da proposta é incerto, mas o consenso entre especialistas e integrantes das Forças Armadas é que a estabilidade orçamentária é imprescindível para garantir a soberania nacional e a capacidade de resposta do Brasil a ameaças de qualquer natureza.