Pela primeira vez em sua história, o Exército Brasileiro conquistou a certificação no Nível 3 do Sistema de Prontidão de Capacidades de Manutenção da Paz das Nações Unidas (UNPCRS), um dos mais altos patamares de prontidão operacional reconhecidos pela ONU. A conquista, oficializada no dia 7 de abril de 2025, atesta que as tropas brasileiras estão aptas a se desdobrar com agilidade em missões de paz internacionais, atendendo aos critérios exigentes de treinamento, equipamentos, pessoal e logística estipulados pela Organização das Nações Unidas.
Com essa certificação, o Brasil passa a oferecer à ONU um Batalhão de Infantaria Mecanizado, uma Companhia de Infantaria Mecanizada de Força de Reação Rápida (QRF) e uma Companhia de Engenharia de Força de Paz. Ao todo, 1.130 militares, entre homens e mulheres, estão agora integrados ao sistema global de prontidão da ONU. As inspeções que garantiram o reconhecimento ocorreram nas cidades de Cascavel (PR) e São Gabriel (RS), onde equipes internacionais verificaram o preparo, a estrutura e os equipamentos das unidades.
O processo de certificação envolveu diversas etapas e iniciou-se com a manifestação voluntária do Brasil em disponibilizar tropas à disposição das Nações Unidas. A preparação dos militares foi realizada por meio de dois módulos complementares: o “pacote verde”, voltado ao treinamento militar tradicional do Exército, e o “pacote azul”, que aborda aspectos específicos das operações da ONU, como proteção de civis, logística e prevenção de abusos. O treinamento especializado foi conduzido pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), sob a coordenação do Comando de Operações Terrestres (COTER).
Certificação internacional projeta imagem do Exército Brasileiro como força de referência em missões de paz globais
Após a fase de capacitação, uma comitiva técnica da ONU realizou a chamada Assessment and Advisory Visit (Visita de Avaliação e Assessoramento), indispensável para a certificação. Durante a visita, os oficiais da ONU avaliaram de forma minuciosa o nível de treinamento das tropas, o estado de conservação dos equipamentos, os recursos de apoio logístico e a prontidão geral para eventual envio a cenários reais de missão. Foram analisados, ainda, itens como comunicações, subsistência, armamentos, materiais médicos e demais recursos necessários para garantir a autonomia das tropas no terreno.
A elevação ao Nível 3 tem importante significado diplomático e estratégico. Ao atingir esse patamar, o Brasil reafirma seu compromisso com a paz e a segurança internacional, projetando sua imagem como um país que contribui ativamente para a estabilidade global. A qualidade do preparo das tropas, o profissionalismo demonstrado durante as inspeções e a organização logística colocam o Exército Brasileiro em posição de destaque entre as nações contribuintes com as forças de paz da ONU.
De acordo com os critérios estabelecidos pelas Nações Unidas, o Nível 3 indica que as tropas estão prontas para se deslocar rapidamente a qualquer parte do mundo em que sejam necessárias. O último estágio, o Nível 4, só é atingido quando a unidade está na iminência de ser desdobrada, o que ainda não se aplica às tropas brasileiras devido a restrições legais internas. Ainda assim, mais de 80% do efetivo brasileiro atualmente certificado no Nível 3 pertence ao Exército, o que evidencia o protagonismo da Força Terrestre nas ações internacionais de paz.
Experiência acumulada desde 1947 fortalece papel do Brasil como país comprometido com a segurança mundial
A trajetória brasileira em missões de paz remonta ao ano de 1947, quando o País integrou o Comitê Especial das Nações Unidas para os Bálcãs. Desde então, o Brasil já participou de mais de 50 operações de manutenção da paz em todos os continentes, com destaque para missões em Angola, Moçambique, Timor-Leste, Líbano e Haiti. Ao longo dessas décadas, mais de 55 mil militares, policiais e civis brasileiros integraram contingentes multinacionais sob a bandeira da ONU.
Um dos marcos históricos dessa trajetória foi a participação do Batalhão Suez, entre 1957 e 1967, na Força de Emergência das Nações Unidas no Oriente Médio. Atualmente, com a nova certificação, o Brasil eleva ainda mais o nível de sua contribuição para os esforços de paz global, colocando à disposição das Nações Unidas um dos mais preparados efetivos da América Latina. A participação em missões de paz segue os princípios da diplomacia brasileira, como a defesa dos direitos humanos, o respeito à soberania dos povos e a resolução pacífica de conflitos.
A presença de mulheres nas tropas certificadas também se destaca como elemento fundamental para as operações de paz. Um exemplo é a Tenente Baltazar, engenheira militar que se tornou a primeira oficial brasileira a comandar um Pelotão de Engajamento em ambiente de missão da ONU. Unidades como essa são responsáveis por interagir diretamente com a população local, especialmente em contextos culturais nos quais a presença feminina facilita a comunicação e a proteção de civis.
A conquista da certificação no Nível 3 não marca o fim do processo, mas sim o início de um ciclo contínuo de treinamento e aperfeiçoamento. Por meio do COTER e do CCOPAB, o Exército manterá suas tropas em constante prontidão para atender, a qualquer momento, um chamado internacional da ONU. O reconhecimento amplia o papel das Forças Armadas brasileiras na cooperação internacional e fortalece sua reputação como força profissional e bem treinada.
Com a obtenção da certificação, o Exército Brasileiro consolida sua posição como um dos principais representantes da política externa brasileira na área de segurança internacional. A projeção positiva do País perante a comunidade internacional reafirma o compromisso histórico com a paz e abre caminho para uma participação ainda mais ativa em operações de estabilização e apoio humanitário sob a égide das Nações Unidas.
A informação foi divulgada por “eb.mil”, portal oficial do Exército Brasileiro, que detalhou o processo de certificação e seus desdobramentos estratégicos