A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) anunciou que lançará, no final de maio, uma plataforma digital para conectar egressos do Exército a vagas de emprego nas redes varejistas de todo o país. A iniciativa tem como objetivo enfrentar a falta de mão de obra qualificada no setor, que atualmente acumula 357 mil vagas abertas, segundo dados da entidade.
A nova ferramenta reunirá informações sobre empresas com postos disponíveis, salários de entrada, planos de carreira e exigências para cada função. A medida visa facilitar o acesso de militares recém-egressos ao mercado de trabalho civil, além de aumentar a eficiência no processo de recrutamento por parte das empresas.
Segundo o vice-presidente da Abras, Márcio Milan, a escassez de profissionais decorre principalmente da busca por maior flexibilidade de jornada e salários mais altos por parte dos jovens. Isso tem tornado difícil preencher cargos operacionais com trabalhadores que desejem permanecer por períodos mais longos nas empresas.
Alta rotatividade e exigência por flexibilidade impactam o setor supermercadista
A Abras identificou que oito das dez funções mais demandadas nos supermercados enfrentam escassez de profissionais, incluindo cargos como operador de caixa, açougueiro, repositor de mercadorias e atendente de loja. A dificuldade em manter equipes fixas tem comprometido o atendimento ao cliente e os processos logísticos no varejo alimentar.
Para aumentar o interesse dos jovens que passam pelo serviço militar obrigatório, a associação também pretende ampliar a realização de encontros informativos durante o período em que estão incorporados ao Exército. O objetivo é apresentar as possibilidades de carreira no setor ainda durante o cumprimento da obrigação militar.
Segundo Milan, “Essas reuniões estavam sendo feitas quando os recrutas já estavam saindo [do Exército]. Acho que dificultou um pouco as contratações porque às vezes eles já tinham outros planos programados”, explica Milan. A antecipação dessas reuniões pode ajudar a criar uma ponte mais eficaz entre o serviço militar e o primeiro emprego formal no varejo.
Abras já testou projeto-piloto com rede varejista e recebeu retorno positivo sobre adesão de ex-militares ao trabalho em supermercados
No final de 2024, a Abras iniciou um projeto-piloto da plataforma em parceria com o Grupo Pereira, promovendo reuniões entre representantes da rede e comandos militares. A experiência resultou em inscrições de diversos egressos, o que levou a empresa a ampliar seus programas de inclusão para militares da reserva.
“Tivemos uma excelente recepção, mostrando que no varejo também tem possibilidade de crescer”, afirmou o diretor de Recursos Humanos do Grupo Pereira, Paulo Nogueira.
Além da contratação de egressos do Exército, o Grupo Pereira também possui iniciativas voltadas à inclusão de pessoas acima de 50 anos, refugiados e indivíduos que passaram pelo sistema penal. A estratégia busca diversificar os perfis dos colaboradores e atender às demandas de mão de obra com responsabilidade social.
A Abras ainda dialoga com o Ministério da Defesa para estender o projeto à Marinha e à Força Aérea. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, uma parceria entre os Fuzileiros Navais e a Asserj (Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro) já resultou na recolocação de mais de 500 egressos da Marinha desde o fim de 2023.
Empresas buscam ampliar formalização de trabalhadores por meio de parcerias sociais
Diante da resistência de parte dos jovens às exigências do trabalho formal, como cumprimento de horários fixos e escalas nos fins de semana, muitas redes varejistas têm buscado alternativas para atrair públicos em situação de vulnerabilidade social. Uma dessas estratégias envolve beneficiários de programas sociais.
“A pessoa hoje briga muito para poder não ter horário. E o comércio, em especial, é duro nos horários, trabalha sábado e muitas vezes domingo”, afirmou o ministro Márcio França, do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, em evento da UGT (União Geral dos Trabalhadores), realizado em abril na capital paulista.
Um exemplo é a parceria firmada entre o grupo Carrefour e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), que garante a reserva de 10% das vagas para inscritos no CadÚnico. O acordo prevê também a oferta de capacitação profissional para os contratados e a manutenção parcial do benefício do Bolsa Família.
A regra de proteção do programa permite que trabalhadores formalizados continuem recebendo 50% do benefício por até 24 meses, desde que a renda per capita da família permaneça abaixo de R$ 759. No entanto, o governo federal estuda reduzir esse prazo para 6, 12 ou 18 meses, o que pode impactar o engajamento futuro dos beneficiários no mercado formal.
Governo estuda rever benefícios que incentivam formalização, enquanto relatório alerta para impacto do programa na informalidade
Segundo relatório recente do Ministério do Planejamento e Orçamento, apresentado em 23 de abril, há indícios de que a estrutura atual do Bolsa Família pode estar incentivando parte dos beneficiários a permanecerem na informalidade. O documento sugere reavaliações na política de transição para o emprego formal.
Para o setor supermercadista, políticas públicas como a parceria com o Exército e programas de capacitação social são ferramentas essenciais para reverter o quadro de escassez. O modelo de recrutamento de militares da reserva se apresenta como uma solução complementar de impacto imediato.
A informação foi divulgada por “1.folha.uol.” e complementada com dados públicos disponíveis da Associação Brasileira de Supermercados, Ministério do Desenvolvimento e documentos oficiais relacionados ao programa Bolsa Família.