A França intensifica esforços para conter a crescente influência da aeronave brasileira C-390 Millennium no mercado sul-americano, enquanto a Airbus Defense and Space busca emplacar o gigantesco A400M em países como Chile e Colômbia. O duelo entre o cargueiro brasileiro da Embraer, já reconhecido como potencial substituto do consagrado C-130 Hércules, e o mastodonte europeu representa não apenas uma disputa comercial, mas uma batalha geopolítica por influência na região.
A aeronave europeia já visitou o continente em 2012 e mais recentemente pousou em Viracopos, em novembro de 2023, quando um exemplar da RAF britânica fez escala técnica no aeroporto paulista.
David contra Golias
“Este é o gigante A400M, uma aeronave de transporte militar tático e estratégico desenvolvida pela Airbus Defense and Space. Ele foi projetado para atender às necessidades de várias forças aéreas europeias e internacionais, servindo como uma solução intermediária entre o Lockheed C130 Hércules e o Boeing C17 Globemaster”, reporta o canal Global Militar.

O portal ainda acrescenta: “E é com este gigante que os franceses esperam barrar a potencial expansão da aeronave brasileira C390 Millennium na América do Sul, que começa a despontar no mundo como o incontestável substituto do bem-sucedido C130 Hércules.”
Enquanto o A400M apresenta maior capacidade de carga, sendo um cargueiro pesado, o C-390 foi concebido como uma aeronave de transporte tático médio. No entanto, o modelo brasileiro possui algumas relevantes vantagens para o contexto sul-americano.
Realidade orçamentária favorece brasileiro
A principal vantagem do cargueiro brasileiro está no preço. Segundo o Global Militar, “enquanto um único A400M tem um salgado preço médio de 220 milhões de dólares, o C390 Millennium tem seu preço médio estimado em 85 milhões de dólares.”
Para os países da América do Sul, com orçamentos militares mais modestos, essa diferença de custo é determinante. Além disso, os custos operacionais do C-390 são consideravelmente menores, já que utiliza apenas dois motores comerciais IAE V2500, amplamente usados no mercado civil, enquanto o A400M demanda quatro motores específicos.

Disputa por Chile e Colômbia
No mesmo sentido o portal de notícias militares Aeroin revelou recentemente que “a Airbus explora possibilidades de venda do seu maior avião turboélice já fabricado, o A400M, para vários países latino-americanos”, com foco especial em México, Chile e Colômbia.
Em entrevista ao portal, Arturo Barreira, presidente da Airbus para a América Latina e Caribe, afirmou: “Nossa análise, obviamente, foi baseada em países que têm potencial econômico para sustentar esse tipo de aeronave e realizar missões além das fronteiras, ou seja, missões de apoio internacionais. Dito isso, quais países? Pois bem, há quatro que, para mim, são chave — como o México, mas também o Chile, que, por sua configuração geológica e geográfica, é um país onde essa aeronave poderia até mesmo operar na Antártica.”
Contudo, o canal Global Militar destaca que tanto Chile quanto Colômbia “já terem assinado uma carta de intenção de compra do cargueiro brasileiro – até 12 aeronaves para a Colômbia e até seis para o Chile“, reduzindo as chances de sucesso da Airbus.
Brasil também no radar da Airbus
Surpreendentemente, a fabricante europeia não descarta tentar vender o A400M para o próprio Brasil. “Veja o que vou dizer: acredito que nossa aeronave não concorre diretamente com o Embraer KC-390 — são categorias diferentes — e por que não sonhar e imaginar que, um dia, o Airbus A400M também esteja no Brasil?”, declarou Barreira ao Aeroin.
O executivo sugere que o A400M poderia complementar a frota de KC-390, ainda que em menor número. O argumento baseia-se nas deficiências logísticas militares brasileiras, que segundo o Aeroin, “tem sido um dos principais pontos fracos do Ministério da Defesa.”
Histórico de visitas ao continente
A presença do A400M na América do Sul não é recente. Segundo o Defesanet, em março de 2012, “a aeronave de transporte militar de nova geração Airbus A400M, pousou em Santiago do Chile, durante a sua primeira visita à América Latina como parte da campanha de voo de testes do A400M.”
Mais recentemente, em novembro de 2023, o Aeroin noticiou que “um grande avião militar Airbus A400M Atlas pousou no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), em voo que partiu do Aeroporto Internacional de Mount Pleasant, nas Falklands, ou Ilhas Malvinas.” A aeronave pertencia à força aérea britânica (RAF), que “possui uma base em uma das ilhas, que ficam próximas ao sul do continente americano, e sempre utiliza aeroportos no Brasil para escalas técnicas.”
Vantagens logísticas do modelo brasileiro
O C-390 apresenta vantagens operacionais relevantes para o contexto sul-americano. O canal Global Militar ressalta que ele “é mais versátil e eficiente para as missões típicas na América do Sul: transporte tático, ajuda humanitária, missões de paz, evacuação médica e combate a desastres naturais.”
A questão da infraestrutura também pesa a favor do modelo brasileiro, pois “o C390 precisa de menos estrutura para operar em comparação ao A400M, embora ambos possam usar pistas rústicas.”
Outro diferencial importante é a rede de manutenção já estabelecida pela Embraer na região, que “já conta com parceiros em vários países da América do Sul para realizar manutenção de aeronaves de seus clientes. Com pequenas modificações, esses centros poderiam atender às necessidades de manutenção do C390 Millennium.”