“O que os generais pensam?”, “o que o general vai dizer?”- Juntos e misturados com BOLSONARO hoje é quase impossível distinguir se os generais são de governo ou de estado

Nem mesmo no período em que os militares governaram o país teve-se conhecimento de tantos oficiais generais mencionados em notícias publicadas pela grande mídia. Quase todo mundo hoje quer saber o que os generais pensam sobre quase todos os assuntos. Assistir generais sendo exonerados, generais acusados de traição, generais da ativa sendo nomeados para cargos políticos e generais discutindo pela mídia ou redes sociais com jornalistas, com amigos e até com familiares do presidente da república se tornou algo muito comum.

A cereja do bolo da perda de status foi a intimação sob ameaça para que generais fossem depor no inquérito Moro x Bolsonaro. 

Ninguém pode negar que há certa perda de status e respeito diante da imprensa e sociedade. Nas redes sociais se percebe muitas ofensas dirigidas contra generais e palavras como “covardes”, “melancias” e “traidores” abundam nos perfis de “estrelados” conhecidos. Nas redes sociais do Exército percebe-se também uma cobrança sobre o posicionamento dos militares.

O principal conselheiro do presidente da república – Olavo de Carvalho – disse em suas redes sociais que os generais brasileiros vestem calcinhas. Ainda assim o presidente não hesitou logo no inicio do governo em celebrar com o filósofo sua vitória, agraciando-lhe com a participação em uma reunião realizada nos EUA, considerada de enorme simbolismo político-ideológico.

A reunião deixou irritadíssimo o general Santos Cruz, na época membro do governo. Admirado e muito mencionado por bolsonaristas de todos os vieses, de intervencionistas a conservadores mais moderados, o militar – que ousou expressar sua insatisfação contra o que achava exagerada influência da chamada ala ideológica do governo – pouco tempo depois se tornou um dos nomes mais odiados pelos bolsonaristas.

Outro fato que causou enorme perda de status para os  militares foi a briga política recentemente ocorrida no Congresso Nacional onde os oficiais generais tiveram que explicar porque receberiam vantagens maiores que o resto da tropa e também porque resolveram conceder para si mesmos um adicional ad aeternum a título de representação, que alcançaria até quem está reformado e que – obviamente – não representa mais as forças armadas.

Intervenção militar

Tamanha presença na grande mídia tem causado até certa histeria no sentido de se achar que qualquer movimentação comum de militares pode ser prenúncio do que chama-se de intervenção militar. Uma declaração do general Pujol sobre a atuação do exército no combate ao coronavírus deixou intervencionistas exaltados e esquerdistas desesperados.

Uma recente exoneração de oficiais generais causou histeria semelhante, a convocação para depor no inquérito Moro X Bolsonaro também chamou muito a atenção. Algumas pessoas esperavam que os oficiais fossem responder de forma bem incisiva às duras palavras do STF.

Ha generais no parlamento, generais na saúde, generais na segurança pública e em outros diversos setores. Isso nada teria de prejudicial se os mesmos tomassem providências para ter sua atuação e nome completamente desvinculados das Forças Armadas.

São exonerados e recontratados a todo instante, carregando consigo o nome e o status das forças armadas.

O Estatuto dos Militares proíbe que militares em cargos políticos ou em instituições públicas sejam chamados de generais, coronéis etc. Essa determinação é importantíssima e foi criada com o intuito de justamente impedir que o status das forças armadas fosse carregado para dentro de instituições civis, de governo ou não. Todavia, ao que parece, autoridades ofuscadas pela demanda que hoje há por suas opiniões esquecem-se de observar esse pequeno item do regulamento.

Uma olhadela no nome político dos generais-deputados, que se apresentam como deputado-general X e deputado-general Y, basta para ver como o regulamento tem sido colocado de lado.

“ESTATUTO dos MILITARES Art. 28. … conduta moral e profissional irrepreensíveis, com a observância dos seguintes preceitos de ética militar: … XVIII – abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas:  a) em atividades político-partidárias; e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo que seja da Administração Pública …”.

Veja:OAB questiona TREs sobre o uso das designações hierárquicas em campanha política, prática é vedada pelo Estatuto dos Militares.

Jamais se havia visto generais em discussões acaloradas com sargentos em uma luta pra decidir quem ficaria com a melhor fatia do bolo. Um general chegou a gritar que se a reclamação continuasse então ia cortar (o aumento) pra todo mundo.

Os próprios parlamentares, diante de ombros com estrelas e peitos cheios de barretas, se mostram impressionados, com aquilo que juristas chamam de temor reverencial. A coisa ganhou ares de tragicomédia por fatos como as declarações do deputado Vinícius de carvalho, que em um dia, sorridente e orgulhoso, com toda pompa, disse que havia sido escolhido pelos próprios generais para chefiar uma comissão (as três forças me escolheram, disse) e no dia seguinte, confrontado com a possibilidade de ter ocorrido interferência ente os poderes, preocupado, como se fosse uma criança, desmentiu a si mesmo declarando que não foi nada disso, que quem o havia escolhido fora outro parlamentar.

Veja: Advogado diz que comandantes das Forças Armadas não podem escolher relator de PROJETO DE LEI e que em tese isso afronta a independência entre os poderes

O caso no congresso acabou indo parar na esfera disciplinar. Por estar discutindo com generais no congresso e nas redes sociais – e comentando sobre isso – sabe-se de vários graduados enquadrados em itens dos regulamentos disciplinares por se referir aos oficiais de “forma desrespeitosa”.

Um exército de generais

Dados fornecidos pelas próprias Forças Armadas mostram que o número de oficiais generais na ativa e reserva hoje chega a quase 10 mil, sem contar as pensionistas, filhas e netas de generais. Anualmente só o gasto com os estrelados ultrapassa em muito a cifra de 3 bilhões de reais anuais.

REF/AGO2019 MARINHA EXÉRCITO AERONÁUTICA
ATIVA RESERVA ATIVA RESERVA ATIVA RESERVA
115 2437 173 5122 104 1937
SUBTOTAL 2552 5295 2041
TOTAL DE OFICIAIS GENERAIS NO BRASIL —– 9.888 OFICIAIS

CLIQUE E VEJA AQUI A TABELA DISPONIBILIZADA PELA DEFESA ou AQUI

Essa tropa de anciãos de elite tem enorme influência sobre a cúpula das FA. Eles telefonam, sugerem e insistem com seus colegas de turma e alguns ex-subordinados que deve haver um afastamento rápido e que as Força Armadas estão sendo cada vez mais vistas como instituições de governo e não de estado.

A opinião corrente diz que se Bolsonaro fracassar o status das Forças Armadas vai cair muito e que a relação com outro governo, principalmente se este for de viés político diferente, já esta de antemão azedada.

“Não sei se o alto comando pode resolver essa fuga de militares pra política mas se puder faça rapidamente. Os brasileiros ainda nutrem um sentimento de confiança pelo seus militares em compensação desconfiam veementemente de políticos…”, diz um militar na reserva.

Ao contrário do que muitos podem acreditar, os governos de esquerda não prejudicaram as forças armadas no que diz respeito aos quantitativo de oficiais generais, suas perspectivas de progressão na carreira na verdade aumentaram bastante se comparado com o que ocorreu em governos anteriores. Dados mostram que o número de membros dessa categoria cresceu significativamente. Em 2006, no início do governo Lula, o número de oficiais generais na ativa era 282. Apenas 10 anos depois, durante o governo Dilma, EM 2016, esse número já chegava a 326 um acréscimo de 14%  enquanto as forças armadas cresceram menos que 1% (de 358.658 para 361.000 militares).

Em 2019 o número de oficiais generais na ativa já chegava a 392.

Veja o documento fornecido pelo Ministério da Defesa

As regalias

Ainda que a coisa seja tratada como uma espécie de tabu, militares evitam falar sobre o assunto, sabe-se que as regalias são muitas. Além das residências funcionais, com limpeza externa e segurança a cargo das próprias forças armadas, uma parcela significativa dos oficiais generais custa ainda a se desarraigar de regalias que remontam à época do império.

É o caso dos taifeiros, militares que executam serviços domésticos nas residências dos generais e dos motoristas, que muitas vezes servem como chofer particular das famílias dos oficiais, levando donas de casa às compras, crianças à escola e realizando pequenos mandados, como pagamento de contas, compra de ração para animais etc.

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Publicado por
Sociedade Militar