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MILITARES revelam os verdadeiros motivos para a queda do General FERNANDO AZEVEDO


O desgaste total de um membro do governo, a chamada fritura, raramente acontece de uma hora para a outra, normalmente é um processo que se dá pelo acúmulo de ações e manifestações que vão em linha contrária à cosmovisão daquele que ocupa a principal cadeira do Executivo. No governo Bolsonaro vários militares que contavam com altíssimo prestígio foram
afastados de forma abrupta, nada melhor do que a visão de membros dessa sociedade, extremamente fechada, para explicar o que realmente ocorreu para que o General de Exército Fernando Azevedo fosse sumariamente demitido.

Na grande rede há diversas especulações e teorias fantasiosas, há inclusive parlamentares que tentam induzir a sociedade a crer que haveria por parte dos militares um golpe em curso para retirar o presidente da república e que por isso ele trocou o comando das Forças Armadas. 

Elencamos 6 situações reais e preponderantes que contribuíram para o desgaste e demissão do general Fernando Azevedo, hoje ex-ministro da defesa. A revista ouviu militares graduados e oficiais.

1 – Condução do projeto de reestruturação das carreiras dos militares

O projeto de reestruturação das carreiras dos militares das Forças Armadas foi considerado pelo presidente da república como extremamente mal conduzido. Tradicionalmente os projetos de lei ligados a reajustes e carreiras militares tramitam com máxima discrição no Congresso Nacional, mas sob a batuta  de Fernando Azevedo a coisa acabou se transformando um uma batalha campal envolvendo galões e divisas, extremamente barulhenta. Gritarias e coros de Bolsonaro traidor ocorreram em comissões e corredores da Câmara dos Deputados, onde discussões sanguíneas entre generais e sargentos chamavam a atenção de embasbacados parlamentares e jornalistas, que jamais haviam presenciado uma confusão desse tipo protagonizada por militares.

A polêmica em torno da chamada reestruturação das carreiras começou ainda uma semana antes da apresentação do projeto à Câmara dos Deputados. A Revista Sociedade Militar publicou em primeira mão um vazamento da proposta, o que gerou uma onda de insatisfação entre os militares de baixa patente que pelas redes sociais alcançou Jair Bolsonaro, que estava em missão diplomática nos Estados Unidos. Como o presidente tem maior interlocução com militares do Exército, acabou determinando alterações que afetaram quase que exclusivamente essa força, militares da Marinha e FAB não conseguiram ser atendidos.

Em seguida generais se mostraram insatisfeitos porque a reclamação de graduados foi ouvida, consideraram como quebra de hierarquia e o presidente a partir daí se calou sobre o assunto.

Mesmo após larga distribuição de agrados, medalhas e “títulos de nobreza” para parlamentares que, desorientados e sem entender nada sobre o tema, votavam a favor de quem oferecesse maior retribuição, o projeto só foi aprovado pelo Senado depois de uma promessa de reparação dos erros.  Várias categorias de militares, a maioria na reserva e pensionistas, alegam que tiveram prejuízos enormes, reclamam que o presidente Bolsonaro até hoje não os recebeu.

Segundo militares ouvidos pela revista, o presidente teria cobrado mais de uma vez de Fernando Azevedo a resolução dos problemas causados pela reestruturação das carreiras.

Da tribuna do SENADO generais-ministros foram chamados de mentirosos por senadores como o major Olímpio, mas a promessa de corrigir os erros nunca foi cumprida, o que chegou a causar troca de farpas entre Fernando Azevedo, que se recusava a tratar do assunto, e o General Ramos, que recebeu alguns graduados e parlamentares em uma infrutífera tentativa de dar prosseguimento em tratativas para solucionar o imbróglio em torno da reestruturação.

Além do perigoso mal estar com membros do senado, como Izalci e Major Olímpio, o descumprimento de acordos causou um indesejável racha entre Bolsonaro e seus mais tradicionais apoiadores, os militares da reserva e pensionistas que o acompanhavam desde que nos anos 80, quando foi candidato a vereador no Rio de Janeiro, era perseguido pela cúpula das Forças Armadas.

Além do desgaste para o governo, a má condução da reestruturação acabou gerando uma inédita manifestação de militares das Forças Armadas nos jardins do Ministério da Defesa e vários outros protestos pontuais largamente cobertos pela imprensa, como o ocorrido no Rio de Janeiro em frente ao quartel de marinheiros.

2 – Comentários em linha oposta ao posicionamento do presidente da república.

Em março de 2020 o então ministro da defesa General Fernando Azevedo fez uma afirmação, publicada pela BBC e Época, onde dizia que manifestações em frente aos quartéis em nada ajudavam.

“… Manifestações em frente a quartéis não ajudam… Vivemos em um ambiente democrático e de liberdade. As Forças Armadas, por outro lado, são instituições de Estado e devem sempre permanecer fortemente arraigadas nos pilares básicos da hierarquia e da disciplina”

A fala ocorreu apenas um dia depois de o presidente Bolsonaro ter discutido nas redes sociais com a repórter Vera Magalhães, que em postagem no Twitter disse que ele deveria “desmobilizar esse ato golpista no aniversário do golpe”.

Pujol também publicou notas deixando claro que o Exército não deixaria de ser uma instituição de estado. O presidente e sua ala ideológica interpretavam isso como desnecessário, declarações que poderiam ser compreendidas e usadas pela mídia como manifestações de oposição da força terrestre contra o comportamento do chefe do executivo.

Fontes da Revista Sociedade Militar informam que a fala de Fernando Azevedo veiculada pela mídia em 18 de março de 2020 de fato foi recebida como uma afronta pelo presidente da república.

3 – o Exército e o comportamento em torno da pandemia

Ao comparecer a uma cerimônia ocorrida no Sul do país o presidente Bolsonaro foi recebido por PUJOL com um toque de cotovelo e a coisa foi parar nas redes sociais, sendo usada como se a força terrestre discordasse do presidente no que diz respeito à lidar com a pandemia.

Veja: Histeria! Exército é criticado porque incentiva o uso da máscara para proteção

Sob o comando de Pujol o Exército fez diversas campanhas propondo o uso de máscaras e distanciamento social, indo na contramão do que propunha Jair Bolsonaro. No dia anterior à demissão de Fernando Azevedo o Diretor de Pessoal do Exército concedeu entrevista onde deixa claro o cuidado da força  em implementar proteções contra a contaminação, incluindo a atenção quanto a uma possível terceira onda de COVID 19.

4 – Fernando Azevedo era ligado a Dias Toffoli

Fernando Azevedo era visto como naturalmente indigno da confiança de Jair Bolsonaro por ter sido assessor do Ministro do STF Dias Toffoli. Mas, ainda assim, como consequência de sua estreita ligação com o general Heleno, que no início do governo possuía ainda enorme influência sobre o presidente, foi feita a indicação para que assumisse o Ministério. Talvez Heleno desejasse um ponto de contato que apaziguasse as futuras relações com o STF, é o que se especula.

Bolsonaro resolveu aceitar, mas nunca se mostrou totalmente confortável com a presença do general Fernando no primeiro escalão de seu governo.

Muitos da ala ideológica bolsonarista, os mesmos que – junto com Carlos Bolsonaro – “fritaram” Santos Cruz, possuíam extrema desconfiança em relação ao ministro da defesa.

No imaginário coletivo de grande parte dos bolsonaristas os militares são um fator externo importante, o fiel da balança para a manutenção de Bolsonaro no poder e quando os generais não se dobram a essa visão de mundo o que lhes resta é afastá-los, tentando encontrar outros mais fieis ou pelo menos torcer para que o expurgo sirva como fator de dissuasão que evite que militares externem outros posicionamentos que se confrontem com a visão do presidente da república.

Oficial residente em Brasília diz que Bolsonaro pode ter na semana passada consultado Fernando Azevedo sobre a possibilidade de apoio em um decreto de Estado de Defesa, a resposta certamente foi um claríssimo não.

5 – O 31 de março

Fernando Azevedo, assim como grande parte dos oficiais da cúpula do Exército, acredita que não se deve fazer alarde e comemorações efusivas em torno da contrarrevolução de 1964. Acreditam que isso levaria ao aumento da polarização e a uma indesejada rediscussão em torno dos episódios ocorridos naquela época. Villas Bôas, ex-comandante do Exército, dizia que o país deveria sair desse “dejavu”. Bolsonaro, por sua vez, tem o movimento de 1964 como uma de suas bandeiras políticas e fator de aglutinação da maior parte dos membros de sua militância. Do intervencionista-bolsonarista ao moderado conservador evangélico, todos acreditam que os militares foram responsáveis por impedir que os comunistas transformassem o país em uma “gigantesca Cuba”.

Segundo fontes ouvidas o general Fernando teria confeccionado uma ordem do dia alusiva ao 31 de março mencionando que as Forças Armadas são instituições de estado, uma das primeiras ações do novo ministro – Braga Neto – foi modificar a ordem do dia, excluindo a menção à instituições de estado e colocando a palavra CELEBRAR em relação ao 31 e março.

“O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março…”

6 – Dissipação das notícias ruins para o governo

A demissão de Fernando Azevedo e consequente e obvia substituição dos comandantes das forças armadas foi para Bolsonaro tática e oportuna no sentido de dissipar as polêmicas em torno da não menos importante demissão do Ministro das Relações Exteriores e da troca do diretor da polícia federal.

Robson Augusto, Revista Sociedade Militar

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