Forças Armadas

Almirante exige do PRESIDENTE uma retratação. Crise com a ANVISA é interpretada por militares como mais um passo para o re-afastamento entre Forças Armadas e Bolsonaro

As opiniões em grupos militares no Whatsapp e redes sociais que integram militares de Forças Armadas e Forças Auxiliares são de que a crise entre o governo e a cúpula da ANVISA se configura como mais um passo significativo para que os militares definitivamente voltem a se distanciar do presidente Jair Bolsonaro até chegar ao ponto em que era antes das eleições, quando o então capitão-deputado J. Bolsonaro não era bem vindo em instituições militares, principalmente aquelas ligadas à formação de oficiais.

O Contra-Almirante Barra Torres, que dirige a ANVISA, foi nomeado pelo próprio presidente Jair Messias Bolsonaro como Diretor da Anvisa em 24 de junho de 2019, com um mandato previsto de 3 anos. Como militar foi diretor do Centro de Perícias Médicas da Marinha e do Centro Médico Assistencial da Marinha.

O oficial se montra extremamente ressentido com as declarações do presidente, que para ele são uma insinuação de que as decisões da ANVISA são tomadas em troca de alguma vantagem financeira para o presidente da instituição, cargo que no momento ocupa.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação…”

Em 17 de dezembro, como que prevendo que as declarações do presidente sobre as decisões da ANVISA poderiam gerar uma crise, o general reserva Santos Cruz (@GenSantosCruz) publicou uma nota sobre o assunto em suas redes sociais.

“ANVISA – Qq servidor que emite um parecer técnico tem que ser protegido. Se a autoridade discorda, q não referende e tenha a coragem de assinar embaixo. Expor publicamente e colocar o servidor em risco é COVARDIA! TRAICÃO! Falta de qq princípio. INACEITÁVEL!”… disse o oficial do Exército.

Abaixo o decreto de nomeação de Barra Torres e a nota exigindo retratação

DECRETO DE 24 DE JULHO DE 2019. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,caput, inciso XIV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 10, parágrafo único, da Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999, resolve: NOMEAR ANTONIO BARRA TORRES, para exercer o cargo de Diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, com mandato de três anos, em vaga decorrente do término do mandato de Jarbas Barbosa da Silva Júnior. Brasília, 24 de julho de 2019; 198º da Independência e 131º da República.”

Íntegra da nota de Barra Torres

Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres

Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta “Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?”, o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antônio Barra Torres
Diretor Presidente –
Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil

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Sociedade Militar