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A resposta dos Militares sobre as Urnas. Bolsonaro colocou as Forças Armadas como fiadoras da legalidade das eleições

Amaior parte militares das Forças Armadas tem um posicionamento político que pode ser considerado como conservador. Os próprios militares acreditam que as instituições armadas devem se manter afastadas do jogo político. Acreditam que a democracia está amadurecida, que – usando as palavras do general Villas Bôas – os “pesos e contrapesos” existentes são capazes de equilibrar as coisas e manter a república de pé sem a necessidade de um “tutor”.

Em 2019 a cúpula da Força Terrestre – na visão de alguns – mandou um recado sobre o tema. Foi o relançamento do livro Nação e Exército, de Gilberto Freire. Na época Alguns estudiosos do assunto em círculos mais restritos comentam que o evento marcava o início de um período de gradual (re)distanciamento das FA do presidente da república e do governo como um todo. Parte do discurso contido no livro de Gilberto Freyre – que já foi acusado de ter pertencido à Aliança Nacional Libertadora (ANL), integrada por comunistas, antifascistas e militares descontentes nos anos 30 – prega justamente a necessidade de afastamento das forças armadas do aparato governamental.

Nessa época o Exército era comandado por Edson Leal Pujol, um dos últimos generais que resolveram recuar dessa participação das FA no jogo político. Todos foram defenestrados pelo presidente a toque de caixa e sequer participam de eventos militares, que tradicionalmente contam com a presença de ex-comandantes. 

Dai pra cá, tendo Braga Netto como Ministro da Defesa, os militares caminham lado a lado com Bolsonaro e emprestam seu capital político para o mandatário. 

Para muitos militares mais otimistas a politização ocorrida nos últimos anos é ainda considerada como algo isolado e passageiro, provocado por algumas turmas de oficiais generais que embarcaram na ideia Bolsonaro como única via com possibilidade de unificar as massas conservadoras contra a hegemonia da esquerda no país, que para eles levaria o Brasil para o caos.

O último problema em que se enfiaram os generais é a questão das urnas eletrônicas. Tendo perdido a batalha pelo voto impresso, o presidente se viu as voltas com um grande problema, sua participação nas eleições de 2022 mesmo não tendo como recuar de seu discurso de que as urnas são “fraudáveis”. A solução encontrada pelo capitão pra não ficar por baixo nesse imbróglio foi emplacar o discurso de que impôs sobre o Tribunal Superior Eleitoral uma espécie de fiscalização feita pelas FA, das quais é o comandante em chefe.

A carga agora se encontra sobre os generais, que já receberam uma resposta do TSE. Pelo que sabemos até o momento constatou-se que não há vícios no processo eleitoral.

A própria tranquilidade do Presidente do TSE e ousadia demonstrada nas críticas dirigidas ao Presidente da República demonstram isso.  Para os militares o problema maior nesse momento não está na questão técnica, nos sistemas utilizados, nas urnas ou nos Hackers, mas sim na construção de uma resposta que agrade a “gregos, troianos” e não concorra para o descrédito das instituições militares diante da classe política e sociedade como um todo.

O Ministério da Defesa precisa, em sua resposta, ao mesmo tempo:

a) Dar um jeito de não dizer que não há nem nunca houve fundamento no discurso de Jair Bolsonaro sobre as urnas. Ele sempre disse em alto e bom som que as urnas da “smartmatic” são fraudáveis. 

Disse o presidente em 16 de fevereiro: 

Estou aguardando…  o que as Forças Armadas dirão… se procede, se o TSE tem razão ou se não tem razão… e os próximos passos serão dados pelas Forças Armadas… 

Se os militares disserem que o TSE tem razão, que não há e nunca houve risco na utilização das urnas eletrônicas, isso pode causar uma onda de reações negativas contra Bolsonaro, que tem como um de seus pilares políticos o discurso de fraude na apuração feita pelo Tribunal Superior Eleitoral. 

b) Entregar um texto que não desacredite o sistema eleitoral sob pena de desestimular a participação no pleito que se aproxima e/ou concorrer para a criação de uma situação perigosa, no estilo do que ocorreu nos EUA após as últimas eleições presidenciais, e

c) Manter de pé, principalmente diante da sociedade, a credibilidade das Forças Armadas como instituições idôneas e apolíticas.

Aguardemos

Robson Augusto / Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar