Forças Armadas

Um general ou um praça? Questão salarial domina os debates dos militares no Rio e – sem Bolsonaro na disputa – família militar se articula em torno de outros possíveis representantes

A informação de que Eduardo Pazuello pode ser candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro gerou muita discussão nas redes sociais de militares das Forças Armadas. A categoria, formada em mais de 85% por suboficiais e subtenentes, sargentos, cabos e soldados, ainda se ressente da reestruturação das carreiras, lei votada em 2019 que gerou um aumento nas vantagens sobre os soldos principalmente de quem ocupa a cúpula das instituições, os generais.

A reestruturação também inpôs um aumento nos descontos para a pensão militar e instituiu essa modalidade de contribuição até para as pensionistas, que alegam que se já são pensionistas e não vão deixar pensão pra nenhum beneficiário, não há justificativa no desconto, que corroeu o salário de algumas em até mais de 1 mil reais.

O prejuízo alcançou também pensionistas e militares na reserva das polícias e corpos de bombeiros de todo o país.

Pazuello não é visto com bons olhos nem pelos militares da ativa nem pelos que estão na reserva. Circula nas redes sociais uma história que diz que teria colocado um soldado para puxar uma carroça, como se fosse um cavalo. A história é confirmada por vários militares e já foi publicada pelo jornal O Estado de Minas. Militares ainda são ressentidos com o oficial porque, enquanto ele foi absolvido pelo comando do Exército por discursar em um palanque ao lado do presidente da república, um sargento foi punido por discutir sobre questões relacionadas à carreira da tropa em uma live com a participação do deputado Vitor Hugo.

Até o momento, época de pré-campanha, de preparação e surgimento de candidatos, a atenção dos militares no RIO está voltada principalmente para dois nomes, dois suboficiais da Marinha do Brasil, Bonifácio e Wagner Coelho.

Bonifácio se tornou conhecido ainda em 2014. Em pleno governo Dilma e ainda na ativa, indignado com a situação salarial dos militares das Forças Armadas, o suboficial foi pra rua tentar levantar discussões sobre o tema. Acabou sofrendo punições por conta de sua ousadia.

Um ano depois, o militar, residente em Duque de Caxias, foi entrevistado pelo O Globo e novamente criou polêmica ao discordar do discurso que já naquela época propunha aumentar as alíquotas de contribuição dos militares.

“O fuzileiro naval José Bonifácio Bezerra Junior, com 45 anos e 28 anos e seis meses de serviço militar, diz que há muitas dúvidas sobre o que está em jogo e condena qualquer mudança nas regras de aposentadoria da categoria… “ O Globo de  16 de novembro de 2016.

Em 2018 o suboficial se candidatou para deputado federal, gastando apenas R$ 1.164 reais ele recebeu mais de 15 mil votos. Em 2019, durante a tramitação do PL1645, que se transformou na lei 13.954, Bonifácio ainda estava na ativa.

O suboficial admite que é Bolsonarista, e diz que isso não atrapalha sua batalha por melhorias salariais para a categoria. Nos últimos anos apresentou várias propostas ligadas aos direitos dos militares e atendimento médico.

O outro nome é o de Wagner Coelho, suboficial da Marinha na reserva, morador de Niterói que se destacou em 2019 por ter se disposto, mesmo debaixo de ameaças, a enfrentar a cúpula das Forças Armadas. Os embates na Câmara e Senado foram tão intensos que os oficiais generais chegaram a tentar proibir graduados de entrar nos auditórios para as audiências públicas. Cenas constrangedoras marcaram a batalha, como quando um suboficial foi ameaçado de prisão se não cedesse o lugar para um general, ele não cedeu e o general foi obrigado a sair calado, permanecendo em pé durante toda a audiência.

As situações ilustram muito bem a aversão  que a cúpula das Forças Armadas tem no quesito participação da tropa na discussão de assuntos que dizem respeito a eles próprios e à condição financeira de sua própria família.

Ao participar de articulações na Câmara e Senado e protagonizar um embate cara a cara com o deputado general Peternelli, que não queria ceder ao defender os maiores reajustes nas vantagens que alcançam principalmente os oficiais generais, muito carismático, de discurso forte, Wagner Coelho acabou se tornando conhecido pela família militar de todo o Brasil. Um dos pilares de seus discursos é a recuperação das perdas de pensionistas e militares da reserva impostas pela lei 13.954 de 2019, a nova reestruturação das carreiras.

Wagner Coelho protagonizou momentos fortes e importantes ao longo dos últimos anos ao interagir com parlamentares de discurso feroz contra a política salarial imposta pelos generais sobre a tropa, como o falecido Senador major Olímpio e foi organizador de várias manifestações contra a reestruturação das carreiras. Uma delas, realizada em frente a quartel da Marinha no Rio de Janeiro, causou embaraço para Jair Bolsonaro.

Outro nome a ser citado, paradoxalmente bem menos relevante entre os militares que os dois acima mencionados, é o de Hélio Lopes (PSL-RJ). Todavia, este, cuja equipe já considera reeleito, aparentemente não conta com os votos da tropa, não chega a ser citado positivamente nas costumeiras discussões salariais em grupos de oficiais e praças. O parlamentar aparentemente se mantém alheio às questões legislativas sobre salários e direitos dos militares. Suas frequentes aparições ao lado do presidente para muitos é o que lhe basta, seriam a garantia de que terá os votos necessários para permanecer no cargo, mesmo que dificilmente alcance o incrível resultado de 2018, quando foi o deputado federal melhor votado, tendo recebido 345.234 votos no Estado do Rio de Janeiro.

Caso consigam se organizar, os militares das Forças Armadas no Rio de Janeiro terão chance de eleger até mais que dois deputados federais.  O número de famílias ligadas às Forças Armadas no estado é de aproximadamente 280 mil, o que para especialistas perfaz um eleitorado de 800 mil a 1 milhão de pessoas. Ex-militares e suas famílias, por frequentarem os mesmos círculos de amizade, costumam também acompanhar os votos dos militares no Rio.

E você, militar ou pensionista, em quem apostaria as suas fichas no jogo eleitoral que se inicia?

Robson Augusto – Jornalista, sociólogo, militar R1. Revista Sociedade Militar


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