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Militares – Batalha pelo voto no Rio de Janeiro expõe rivalidade entre oficiais e praças na política

Os graduados, conhecidos também por praças, são a maioria e contam mais de 82% da tropa na ativa e reserva. No Rio de Janeiro conta-se mais de 275 mil famílias ligadas às Forças Armadas. Com um poder descomunal no que diz respeito ao voto, essas famílias – caso se mobilizassem –  teriam como eleger cerca de 5 deputados federais ligados aos militares das Forças Armadas. Mantiveram Bolsonaro como deputado por vários mandatos seguidos e é de olho nesse gigantesco potencial eleitoral que hoje deputados de oposição como Paulo Ramos e Glauber Braga tem tentado de alguma forma se aproximar da família militar, apoiando-os em suas demandas mais recentes e mais conhecidas.

Há  pré-candidatos, militares da reserva, que criticam duramente as instituições e o próprio presidente por conta da recente reestruturação das carreiras, que para eles teria privilegiado os generais com aumentos disfarçados de gratificações por cursos. Entre estes se destacam nas redes sociais de militares, Wagner Coelho, suboficial da Marinha na reserva remunerada e Eliane Moreira, também suboficial na reserva. Os dois tem em comum já ter comandado manifestações contra o presidente da república no Rio de Janeiro em um momento em que as forças armadas ameaçavam de punição quem participasse de manifestações coletivas.

As múltiplas faces da disputa eleitoral pelo voto militar

Esquerda versus Direita

Militares decepcionados com a cúpula das Forças Armadas se servem do apoio da oposição para tentar emplacar suas demandas e de alguma forma colocar os generais no “banco dos réus” da Câmara dos Deputados, cobrando deles explicações sobre os aumentos estratosféricos que teriam recebido graças ao aumento da tributação sobre pensionistas e militares de baixas patentes já na reserva.

Uma reunião realizada em 25 de abril entre cerca de 30 militares e o deputado do PSOL Glauber Braga gerou bastante polêmica nas redes sociais. Para Glauber os militares sugeriam a realização de uma audiência pública onde seriam colocados os comandantes militares frente a frente com graduados para dar explicações sobre o que de fato ocorreu em 2019 na reestruturação das carreiras. Pretendem cobrar ainda o cumprimento de uma promessa feita aos senadores de que a norma seria “acertada” para atender a todos os prejudicados.

Por se reunir com Glauber Braga e – eventualmente – com Paulo Ramos, esses militares são duramente criticados por colegas na ativa e na reserva que, mesmo decepcionados com Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas no que diz respeito ao tratamento proporcionado à tropa, declaram-se como conservadores e de direita e admitem que não enxergam outra opção para o país que não seja permanecer com o voto em Jair Bolsonaro, relegando para segundo plano, momento posterior, as questões pessoais, como salário, planos de carreira etc.

Imbróglio dentro da Direita

Enquete realizada recentemente pela Revista Sociedade Militar atesta que mais de 60% dos militares das Forças Armadas devem votar em Jair Bolsonaro e é aí que a coisa esquenta, porque mesmo no campo bolsonarista, ou da direita, há uma polarização muito grande entre os militares. Grande parte da tropa anda insatisfeita com os representantes no Congresso Nacional e acreditam que dessa vez devem eleger graduados e não oficiais para representar a tropa. Girão e Peternelli, que são generais, não teriam, para a maioria, desempenhado bem o papel de representantes dos militares e Hélio Lopes seria apenas uma espécie de acompanhante do presidente, “sem vida própria”, como disse um militar nas redes sociais.

Quando anunciou-se a candidatura de Eduardo Pazuello para deputado federal pelo Partido Liberal, percebeu-se certo incômodo em candidatos graduados, como o suboficial Bonifácio. O militar, pré-candidato, concorreria também pelo PL ao cargo de deputado federal e acabaria rivalizando pelo voto da tropa dentro de um mesmo partido conservador e ligado ao presidente Bolsonaro, o que geraria situação constrangedora.

O clube de sargentos da Vila Militar do Rio de Janeiro recentemente expôs em suas redes sociais uma determinação com proibição para a realização de eventos políticos, há poucos meses Bonifácio compareceu a um evento no local. Alguns atribuem a medida extrema do Exército à preferência da instituição voto em general Pazuello, que deixou o serviço ativo faz pouco tempo.

Pazuello retirou de seu perfil nas redes sociais a condição de pré-candidato e alguns acreditam que pode acabar sendo lançado como vice na chapa de Cláudio Castro para o governo do estado.

Bonifácio, que é conservador e admite o apoio ao presidente Bolsonaro, mas tem lutado por anos contra injustiças que prejudicam a tropa, o que já lhe rendeu algumas punições, acabou declinando de concorrer pelo Partido Liberal e hoje, graças aos 15.3 mil votos recebidos em 2018 é um dos nomes de destaque do Patriotas pelo Rio de Janeiro.

Os graduados, com pouco poder aquisitivo e influência menor nas decisões das instituições, apesar de em maior número, tradicionalmente são pouco representados na política, alegam que as forças impõem dificuldades para que se candidatem e até para que exponham a sua posição política, o que – dizem – não ocorre com a oficialidade.

“Sentimento de animosidade”

Barbosa Lima Sobrinho, ainda em maio de 1963, advertia sobre a punição contra suboficiais que ousavam se manifestar politicamente ao mesmo tempo que isso era permitido aos generais.

 … não há como entender, ou justificar, que generais possam ter direito a manifestações políticas e que o mesmo direito seja negado aos suboficiais, de modo a que sejam presos aqueles que pretenderam seguir os exemplos de seus superiores hierárquicos  (…) Se a tropa se convence de que, no plano político, os superiores gozam de um direito que é recusado aos sargentos, a consequência será … a formação de um sentimento de animosidade, de um conflito que, por não se manifestar de imediato, não será menos perigoso, como uma força latente de desagregação (…)” (B. LIMA SOBRINHO, in O Semanário, 23 a 39-5-1963, p.5)”

O que se tem de concreto é que toda essa polarização deve despertar a família militar para de fato ir às urnas nas próximas eleições e depositar seu voto no candidato se sua preferência.

Revista Sociedade Militar

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Sociedade Militar